terça-feira, 1 de junho de 2010

Noblat e Hippolito: “Os fukuyamas tucanos”

Reproduzo artigo do sociólogo Emir Sader, publicado no sítio Carta Maior:

“O governo Lula, que tomou posse em 2003, acabou antes da hora”.

“O governo Lula acabou.”

As duas afirmações foram feitas no delírio que tomou conta de grande parte da imprensa tucana em 2005, o que levou a muitos espasmos de ejaculação precoce. A primeira, de um livro de uma empregada da empresa familiar dos Marinhos, a nunca suficientemente sóbria Lucia Hippolito.

Publicada no auge do que acreditavam seria a crise terminal do governo Lula, no livro “Por dentro do governo Lula”, sugerindo que a perspicaz personagem tinha captado as entranhas do governo, pela sua suposta formação de historiadora. O subtítulo reitera esse olhar privilegiado – “Anotações num Diário de Bordo”, o que pode explicar a pouca sobriedade, provocada pelo vai e vem da viagem.

A segunda afirmação foi feita por um amiguinho, dando uma força para a coleguinha, tomando euforicamente como um fato o fim do governo. O texto é de Ricardo Noblat, na quarta capa do desafortunado livro da pouco sensata funcionaria da mesma empresa que ele.

Ao que se saiba, passados cinco anos, nenhum dos dois fez autocrítica, reconsiderou as suas apreciações, considerou que tinham tido um acesso de onipotência e que tinham se equivocado redondamente. Nada disso. Seguem adiante com suas argutas “análises” cobrando seus salários da mesma empresa, como se não tivesse errado redondamente.

Ninguém acredita no que dizem eles e seus colegas na mídia direitista. Todos eles acreditavam que o governo Lula era um gigante de pés de barro, sem apoio popular, totalmente entregue às ameaças da oposição, inevitavelmente condenado ao impeachment ou a sangrar continuamente até eleições em que ou Lula sequer seria candidato ou seu candidato seria facilmente derrotado pela oposição – por Alckmin ou por Serra. Acreditavam que Lula seria um outro Jânio ou um outro Collor – heróis efêmeros dessa mesma mídia.

Não decifraram o enigma Lula e foram devorados por ele. Lula deu a volta por cima e ascendeu dos 28% de apoio a que chegou a estar reduzido no auge da crise de 2005 aos mais de 80% atuais. Quando a oposição mandou mensageiros com a proposta de capitulação ao Lula – retira-se a proposta do impeachment e Lula renunciaria a candidatar-se a um segundo mandato, proposta que não foi levada pela Dilma, que esteve sempre alinhada com Lula, ao contrário do que disse a venenosa reportagem do Valor -, ouviu um palavrão daqueles do Lula, que disse que viraria o país de cabeça para baixo.

E virou. Não apenas no apelo ao apoio popular, mas sobretudo pelas políticas sociais, que haviam começado a deslanchar com as mudanças no governo, especialmente com o papel de coordenação que passou a ter a Dilma no governo.

Supostos analistas políticos que cometem erros desse calibre, não se emendam, não renunciaram a seus cargos, continuam na mesma toada, revelam como não conhecem o país e tampouco a política, o poder, o governo e o povo brasileiro.

Acreditavam, como Fukuyamas tucanos, que o governo Lula tinha acabado, que seus amigos tucanos voltariam ao poder e o país voltaria a ser deles. Seus patrões já preparavam os apressados cadernos com a necrologia do governo Lula. Como havia dito um ex-ministro da ditadura: “Uma hora o PT teria que ganhar, fracassaria e os deixaria governar o país sem oposição popular”.

Se equivocaram e, pelo que tudo indica, continuam a equivocar-se. Lula não manteria sua popularidade com a crise internacional. Manteve e consolidou o apoio ao governo. Lula não transferiria sua popularidade para a Dilma. Transfere. Dilma, como nunca se havia candidatado, não seria uma boa candidata. Ela se revela excelente candidata. Serra mostraria ser experiente, tranqüilo, seguro. Ele se revela destemperado, inseguro, intranqüilo.

A história não acabou, o governo Lula não “acabou antes da hora”, tem tudo para eleger sua sucessora. Os corvos ladram, a caravana passa.

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4 comentários:

Ricardo Noblat disse...

O Século 20 começou com a 1a. Guerra Mundial. Acabou com ruína da ex-União Soviética. O século seguinte começou com os aviões que derrubaram as torres em NY. Isso também ocorre com os governos. Não tem a ver com o calendário gregoriano. O primeiro governo de Lula acabou com o mensalão. Nada de muito relevante aconteceu depois disso. O segundo governo dele, caso Dilma se elegerá, não acabará. Será prorrogado. Sempre considerei o professor Emir Sader um cara inteligente. Tanto que o levei para escrever no Correio Braziliense quando o dirigia. Talvez tenha me enganado.

Unknown disse...

olha o noblat recalcando dhauihdiaushdaihu choorraaa noblat, perto de você o professor emir é um GÊNIO !!! "o governo lula acabou.." dhasiuhdiahui CHHOOOOORAAAA

Anônimo disse...

Tivesse Eric Hobsbawn sabido que sua obra serviria para tamanha desculpa esfarrapada, talvez reconsiderasse o que disse sobre o "curto século XX".

Continuo sem ouvir de Noblat uma explicação que nao essa em duas linhas antes de tácita ameaça de retaliação.

O governo Lula, que "acabou" em 2005, reelegeu-se em uma disputa na qual jamais saiu da dianteira, vindo a vencer no segundo turno com mais de 60% dos votos.

Todos somos familiares ao julgamento comum feito por analistas na prensa de que um governo diferente saiu da crise do mensalão, mas além de nada original, é nesse caso absolutamente inadequado, pois distorce completamente o significado da avaliação original.

Continuamos, assim, sem uma explicação do jornalista, uma reflexão sobre aqueles tempos estranhos... Mas ele não está só neste silêncio

Franco Atirador disse...

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O Emir é que se enganou ao aceitar trabalhar com o Noblat.
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