quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O declínio do PSDB e de Serra

Reproduzo artigo de Maria Inês Nassif, intitulado "PSDB, um partido de quadros que perdeu quadros", publicado no jornal Valor Econômico:

O avanço de Dilma Rousseff, a candidata do PT à Presidência, no reduto tucano paulista, é um dado muito delicado para o grupo de José Serra dentro do PSDB. O partido nacional não se sairá bem das eleições de outubro, mas o tucanato paulista estará em maus lençóis mesmo que ganhe as eleições para o governo do estado.

Em São Paulo, a candidata do PT já tem votos para suplantar seu adversário tucano. Isso significa que Dilma conseguiu furar o bloqueio de uma forte rejeição petista no estado, que tem garantido eleições sucessivas de candidatos do PSDB ou apoiados pelos tucanos, no momento em que as lideranças nacionais do PSDB paulista declinam. Para o PT, este é um acontecimento.

Mário Covas, que foi o grande articulador da criação do partido e o único elemento agregador desse núcleo original do PSDB, faleceu em 2001. Fernando Henrique Cardoso foi eleito presidente duas vezes na onda do Plano Real e de uma ideia genérica de "Brasil moderno" trazido pela hegemonia liberal, do qual acabou se tornando o grande artífice no país, com a inestimável ajuda do eleitorado conservador paulista, dos votos conservadores da região Sul e dos grotões sob a influência do PFL no Nordeste e no Norte. Saiu do governo desgastado por sucessivas crises econômicas e não assumiu qualquer papel de liderança interna. Se as pesquisas se confirmarem, José Serra perderá, já no primeiro turno, para Dilma Rousseff.

Sem líderes, PSDB ficará muito parecido com PMDB

O grupo serrista tinha forte influência sobre o partido nacional e assumiu as rédeas do PSDB estadual, até então sob a órbita de influência do herdeiro de Covas, Geraldo Alckmin, um político de prestígio regional, mas afeito à política tradicional de alianças com chefes políticos locais. A máquina tucana no estado foi montada por Alckmin; o chefe da Casa Civil de Serra, Aloysio Nunes, trabalhou muito para cooptá-la. O fato, no entanto, é que Alckmin ainda tem mais votos no estado do que Serra.

Houve, portanto, um movimento claro do governador José Serra para assumir a liderança regional do partido, ao mesmo tempo em que mantinha forte influência sobre o partido nacional, apesar de emersões episódicas do governador de Minas, Aécio Neves.

Enquanto tinha o governo estadual e era tido como o preferido nas eleições presidenciais, o candidato tucano a presidente se manteve no controle das duas máquinas partidárias — a paulista e a nacional.

Se perder a eleição, Serra acumulará duas derrotas nas eleições presidenciais — foi candidato em 2002 e perdeu para Lula; é candidato em 2010 e pode perder para a candidata de Lula, num partido que depende desesperadamente de uma vitória para manter o nariz para fora da água. Está sendo cristianizado pelos candidatos tucanos ao governo e ao Senado quase no país inteiro. Dificilmente conseguirá se manter como liderança nacional sem cargo político e sem aliados internos de peso.

Além disso, apesar das aparências, manteve-se em rota de colisão constante com o DEM. Uma estratégia de articulação oposicionista, no caso de vitória de Dilma Rousseff, tem poucas chances de ter o ex-governador como elemento de coesão — interna ou com aliados.

Por força do seu estilo, e das disputas locais, o candidato a governador tucano no estado, Geraldo Alckmin, jamais alçou voos nacionais. Não se pode dizer que os grupos de Serra e de FHC tenham facilitado a vida de Alckmin, mesmo quando ele foi candidato à Presidência, em 2006. Alckmin entra pela porta da sala na política estadual; tem acesso apenas à porta da cozinha na política nacional. Se vencer a eleição, ele deterá o controle da maior parcela de um PSDB em crise. É duvidoso que consiga, no entanto, ser convidado para entrar na sala de visitas da cúpula nacional.

O PSDB, que sempre sobreviveu como partido de quadros, está com severos problemas — de quadros. Ao longo de sua existência, o partido se manteve em torno de personalidades que se desgastaram politicamente com o passar dos anos, ou estão velhas, ou morreram. A exceção é o governador Aécio Neves, uma geração abaixo da do grupo original e que, por manobras de Serra ou por esperteza, guardou-se do desgaste que o embate com um governo altamente popular traria e retirou a sua pré-candidatura a presidente da República.

São Paulo deve ainda contribuir fortemente para a bancada federal do PSDB, mas, sem líderes que sustentem essa hegemonia, o partido deve ficar muito parecido com o PMDB: cada um cuida de seus interesses eleitorais e todos brigam pelo controle regional porque isso facilita o trânsito de suas necessidades imediatas. Se Aécio não assumir o papel de líder nacional, já que chegará ao Senado com uma votação avassaladora, o PSDB estará condenado a ser uma federação de partidos regionais, a exemplo da legenda de Michel Temer.

Para o diretor da Sensus, Ricardo Guedes, a eleição foi definida, em favor de Dilma, no momento em que Serra alcançou 40% de rejeição. Do penúltimo CNT/Sensus, coletado de 31 de junho a 2 de agosto, para o último, feito de 20 a 22 de agosto, Serra passou de cerca de 30% de rejeição para 40%. Isso torna qualquer candidatura inviável, segundo Guedes.

Para Marcos Coimbra, do Instituto Vox Populi, Dilma tem grandes chances de vencer no primeiro turno porque o período de propaganda eleitoral gratuita tem sido absolutamente eficiente no trabalho de associação entre ela e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A campanha no rádio e na televisão tem servido mais como informação a um eleitor pré-disposto a votar na continuidade do que propriamente como instrumento de captação de votos.

Conforme se torna conhecida como a candidata de Lula, Dilma consolida posição. A rejeição a Serra, na opinião de Coimbra, é grande, mas decorrência da definição de voto por Dilma. Por essa razão, Coimbra duvida da eficiência da campanha negativa de Serra.

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3 comentários:

Wood disse...

Pessoas,
Existe um contingente importante de pessoas conservadoras no Estado de São Paulo. Eles votam, influem, mas não são devidamente representados. Não há nenhum partido que defenda de forma clara posições conservadoras, como a defesa intransigente da propriedade privada ou a defesa da caridade no lugar de programas sociais. Tudo isso é exposto de forma difusa, sutil, como se esses eleitores tivessem vergonha ou medo de se expor.
O PSDB quer esse eleitorado, e tenta aplicar a velha "estratégia do violino": pegar o poder com a esquerda, e tocar com a direita. Acredito que essa estratégia está esgotada, e o resultado é o que vemos nesta eleição. Um lado, social-democracia, bem de centro, como é o PT, falando claramente de suas bandeiras e defendendo-as com vigor, e com ações e resultados para mostrar. O outro lado, uma social-democracia mais a direita, o consorcio PSDB/DEM, e que por falta de bandeiras apela desesperadamente para a tal "bala de prata".
Tentar a "estratégia do violino" contra um discurso articulado, de um governo bem avaliado, lembra a carga da cavalaria polonesa contra os blindados alemães no início da Segunda Guerra Mundial: um massacre.
O PSDB está em uma sinuca de difícil solução. Ou se assume como o porta-voz da direita, abraçando as bandeiras do conservadorismo sem disfarces, ou morre. Se morrer deixa um espaço para um novo partido de direita, com bandeiras claras, que tenha a paciência e a sabedoria que o PT de Lula teve. O caminho para ganhar eleições baseado em propostas e ideias é longo e difícil.
Quem se atreve a trilhar-lo? Não vejo em nenhuma das lideranças atuais, nem do PSDB, e nem do DEM, das outras é melhor nem falar (taí o Quércia desistindo das eleições, numa clara mudança de geração política), com condições estruturais para a tarefa. A busca agora é de quem será o Lula da direita, que com sabedoria e perseverança construiu um partido ao longo de 20 anos, tijolo por tijolo, tendo, durante a construção, de várias e várias vezes recomeçar?
Alguém se habilita??? O irônico disso tudo é que o sucesso do PT vai criar uma nova classe média que logo, logo, irá passar a se preocupar com a "defesa e manutenção" de seus novos ganhos, sendo portanto um solo fértil para pregações conservadoras. O pêndulo está generosamente a disposição dos interessados. Só precisa saber quem vai abraçar a proposta.

Antonio

Anônimo disse...

Acredito que enquanto o nosso governo comemora a tal diminuição na pobreza "nunca antes vista nesse pais" e a midia se desenrola em elogios a atuação lulista outras questões tão populares quanto, são esquecidas. Carteiras de motorista, por exemplo,principalmente no nordeste essa é uma questão critica,em media 46 por cento da população interiorana possui motocicleta, menos de 10 por cento deles possuem a carteira. Em parte pelos altos custos e pela burocracia, isso torna-os automaticamente criminosos do trânsito,seu transporte é ,muitas vezes, apreendido e leiloado e o dinheiro vai para os cofres públicos e o ciclo vicioso não tem fim. Tenho certeza que qualquer candidato que investisse em campanha nesse sentido conseguiria preciosos votos, mesmo que esse candidato seja a dilma e a sua enorme ignorância.

IV Avatar disse...

Sobre a tracking de hoje

Fiquem atentos, pois o guru(pseudo) indiano mandou seus capangas postar comentários pessimistas nos blogs, não vem que não tem para estes larápios e cyberlarápios, refiro-me à tracking de hoje, ótima para Dilma, pois demonstra que foi estancada a sangria provocvada pela velha mídia
Vamos em frente com nossa campanha com muita alegria, eles querem atingir nosso moral, querem nos envenenar mas não conseguirão, ainda mais agora que chegou o Gabriel, nada mal como a chegada de uma criança para afastar as energias negativas disparadas pelo guru charlatão
Que foto linda demais da conta, hoje 9-9 é um dia cabalístico, a ver com nascimento desta Nação representada no Gabriel, viva o Brasil,
Bjs todos