segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Dom Bergonzini, o “bispo da mentira”

Por Altamiro Borges

Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, virou o principal cabo-eleitoral do demotucano José Serra. Na semana passada, ele já havia mandado confeccionar, na surdina e com papel timbrado da Mitra, 2,1 milhões de panfletos com ataques levianos a Dilma Rousseff. A iniciativa, que fere a legislação eleitoral, poderia até resultar em processo criminal e cadeia. Mas ele ainda é bispo e é melhor não atiçar a sua fúria nada divina!

Neste final de semana, o religioso, bastante narcisista, voltou aos holofotes. Foi capa do Estadão e destaque em vários sítios. Na entrevista, Dom Bergonzini acusa: “O PT é o partido da mentira, é o partido da morte”. Abusando dos preconceitos, ele afirma que o partido “aceita o aborto até o nono mês de gravidez. Isso é assassinato de ser humano”. O bispo fere descaradamente o oitavo mandamento – “não levantarás falso testemunho” –, correndo o sério risco de arder o inferno.

Estimulo às seitas fascistas

No maior cinismo, Dom Bergonzini ainda abusa da inteligência alheia ao garantir que não apóia nenhum candidato. Mas todo seu ódio – incluindo seus sermões, os panfletos apreendidos pela Polícia Federal e as entrevistas à mídia mercantil – visam atingir unicamente a candidata petista. Nas entrevistas deste final de semana, ele foi enfático: “Não votem em Dilma... Se ela ganhar, vou lamentar”. Na prática, o bispo de Guarulhos abençoa a campanha de Serra e serve de novo ícone para várias seitas fascistas, como o Opus Dei e a TFP (Tradição, Família e Propriedade).

Na sua cegueira, o fanático religioso evita tratar do aborto realizado por Monica Serra, segundo relatos de várias de suas ex-alunas. Ele também não fala sobre a pílula do dia seguinte ou sobre a normatização da legislação do aborto, corretas iniciativas do ex-ministro José Serra. Ele omite que PT e Dilma não são favoráveis ao aborto, como prega sua visão simplista e tacanha, mas sim que propõem tratar o complexo tema como uma questão de saúde pública.

Ligado aos tucanos e ao Opus Dei

Para Carlos Rodriguez, que se apresenta como “participante da Igreja Católica”, Dom Bergonzini é um risco à própria instituição. “Quem semeia vento, colhe tempestade”. Ele conhece bem a sua história direitista. “D. Luiz é de São João da Boa Vista, onde atuava com o Sidney Beraldo, ex-deputado e ex-secretario do então governador Serra, e mais recentemente um dos coordenadores da campanha de Geraldo Alckmin, que tem ligações com o Opus Dei, que age nas sombras”.

Em sua opinião, o direitismo de Dom Bergonzini representa uma ameaça à igreja e à democracia. “Assistimos ao fundamentalismo religioso matar a religião e transformá-la em mero instrumento eleitoral. Esta mistura acintosa de religião, num viés fundamentalista, e de política é um perigo à sociedade brasileira, pois ameaça os pilares do Estado Laico”.

A triste cumplicidade da CNBB

O triste nesta história é a cumplicidade da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Seu nome é usado e ultrajado pelo clérigo de Guarulhos e ela ainda passa a mão na sua cabeça. Quando dos seus primeiros panfletos criminosos, distribuídos por ordem hierárquica nas igrejas, a CNBB soltou uma tímida nota de crítica. Agora, seu próprio presidente, Dom Geraldo Lyrio, justifica suas atitudes criminosas. “Ele [Dom Bergonzini] tem o direito e até o dever, de acordo com sua consciência, de orientar seus fieis do modo que julga mais conveniente”.

A CNBB estaria sendo cúmplice da impressão ilegal de panfletos? Estaria corroborando com as calúnias divulgadas pelo “bispo da mentira”? Será que a hierarquia católica não aprendeu nada com a história? Em 1964, ela organizou as famigeradas “marchas com Deus, pela família e pela liberdade”, que criaram o clima para o golpe militar. Com a instalação da ditadura sanguinária, bispos e padres foram perseguidos, presos e mortos. Frei Tito Alencar foi o símbolo desta época sombria. Foi torturado e morreu no exílio. Outros padeceram nas masmorras da ditadura.

Na sequência, como que arrependida do seu pecado, a Igreja Católica cumpriu um papel na luta pela democracia, em defesa dos direitos humanos. O seu setor progressista, ligado à Teologia da Libertação, ajudou a organizar a resistência popular, criando milhares de Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e estimulando suas pastorais sociais. Com a guinada conservadora no Vaticano, o setor progressista foi castrado pela rígida hierarquia católica. Isto explica o narcisismo de Dom Bergonzini. Mas será que justifica seus crimes eleitorais e as suas declarações levianas?

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6 comentários:

rangelrj disse...

Com toda certeza não é esta a Igreja que me ajudará a educar os meus.

A Igreja que conheci quando criança pregava o amor em detrimento ao ódio. A verdade, com forma de combater a mentira.

Esta "nova Igreja" se apequenou, se transformou num culto ao "vale tudo".

cesar a giometti disse...

A igreja se coloca como porta-voz dos brasileiros católicos, mas sem consultá-los. Sou católico, meio claudicante, mas não concordo com as besteiras que este bispo diz, sou formado na área de ciências sociais, portanto, não sou inocente nas leituras tendenciosas que os grupos de opinião conservdores tentam nos impor. A igreja deveria respeitar os seus fiéis e os que não congregam de suas idéias, pois o povo brasileiro é formado de múltiplas origens, idéias, regionalidades, enfim, todos são brasileiros, independentemente de sua classe social e seu poder econômico, todos com direito à opiniões próprias e opções políticas individuais. A igreja deveria contribuir para o processo e não conpurscá-lo.

Claudinete Sergipe disse...

Um fato. As igrejas católicas estão ficando vazias. O povo de Deus e de Cristo está tomando conhecimento que não precisa de intermediários nem atravessadores para chegar ao Criador. "Eu sou o caminho a verdade e a vida, ninguem vem ao Pai senão por meio de Mim", disse Jesus Cristo.

Anônimo disse...

Estou perguntando à Igreja Católica, porque ela não é, igualmente, tão atuante na guerra contra a PEDOFOLIA.

Eu fico bastante admirada em sentir a omissão da Igreja Católica por ela não ter a preocupação de livrar e defender seu rebanho contra os padres pedófilos.

A PEDOFILIA, esta sim, é o vedadadeiro mal que grassa nos subterrâneios da Igreja e que deixa marcas tenebrosas para os resto da vida em crianças e adolescentes.

Cadê o vozeirão e a mobilização desses padres do pecado da calúnia e da difamação? Cadê a CNBB que nos dois casos, o da PEDOFILIA e da CALÚNIA, se omite?

Aliás, a Igreja Católica é recorrente em casos de lesa humanidade: assim foi no Nazismo; assim foi em relação as torturas em algumas ditaduras da América Latina; e assim está sendo com relação à PEDOPFILIA.

Anônimo disse...

Está mais do que na hora de lembrar disso:
06/03/200: O caso da menina de 9 anos que interrompeu a gravidez de gêmeos causou comoção e revolta. A repercussão foi ainda maior pela reação da Igreja Católica ao aborto provocado pelos médicos. O arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho, excomungou a mãe e a equipe médica envolvida no procedimento.
Está em
http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL1031860-5598,00-ARCEBISPO+DIZ+QUE+SUSPEITO+DE+VIOLENTAR+MENINA+NAO+PODE+SER+EXCOMUNGADO.html
Esta é a(s) igreja(s) que apoia Serra!

Jorge Stolfi disse...

Alguém precisa avisar os fiéis desse bispo de que ele está gastando dinheiro de esmolas para imprimir panfletos políticos mentirosos.