sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A presença de Cuba no mundo digital

Reproduzo artigo de Bruno Peron Loureiro, publicado no sítio da Alai:

As tecnologias digitais permitem uma nova forma de interação cultural e a internet é o meio mais fértil de expressão deste fenômeno. A experiência cubana, por seu contraste político com outras nações latino-americanas, desperta a curiosidade de como sua cultura circula no mundo digital.

A Cubarte (Portal de divulgação da Cultura Cubana) organizou a "1ª Jornada da Cultura Cubana em Meios Digitais" em 10, 11 e 12 de novembro de 2010 na Casa da ALBA Cultural (ramo de cultura da Alternativa Bolivariana para os Povos de Nossa América).

O evento compôs as comemorações do 17º aniversário da Cubarte. Já se anunciou a 2ª Jornada para novembro de 2011.

Este tipo de encontro soma-se às oportunidades de discutir sobre os caminhos culturais de um país que seguiu uma experiência política guerrilheira, revolucionária e polêmica (desde a ótica capitalista dominante) sob o comando de Fidel Castro e logo seu irmão Raul, atual presidente.

Na seção acadêmica do encontro, especialistas, jornalistas e pesquisadores expuseram sobre as diversas facetas e dificuldades das novas tecnologias digitais em Cuba, o mal uso da informação, a baixa representatividade na internet de elementos essenciais da identidade cubana, a socialização de conteúdos digitais, o jornalismo cultural digital, e o uso das redes sociais. Na seção competitiva da Jornada, houve a premiação de produtos culturais digitais, como sítios virtuais.

O acesso à internet é limitado em comparação com a média latino-americana e sofre controle por parte do governo cubano. Predominam, desta forma, sítios governamentais oficiais na ilha, mas os blogs prosperam junto de outras participações em redes sociais.

O expositor Víctor Ángel Fernández recordou que Cuba cumpriu quinze anos de uso de internet em setembro de 2010 e a ilha, agregou este participante do evento, tem o desafio de inserir-se na rede de modo a defender o "projeto social" que começou em janeiro de 1959 com a derrubada do ditador Fulgencio Batista, alinhado então aos interesses dos Estados Unidos.

A restrição do acesso à internet à maioria da população cubana não procede somente da política de Cuba de monitorar o tráfego de informações e punir os dissidentes políticos senão da pressão dos Estados Unidos de restringir investimentos em telecomunicações na ilha, negar a concessão de endereços IP (Protocolo de Internet, da sigla em inglês) a provedores locais, e sugerir o bloqueio do acesso de endereços cubanos a sítios virtuais estadunidenses e noutros países alinhados.

EUA segrega Cuba. Está claro

A Cubarte definiu como objetivo do evento: "propiciar o debate e intercâmbio de experiências entre os meios digitais cubanos na esfera da cultura". A pauta da Jornada é outro precedente para reforçar o internacionalismo da cultura cubana.

Cuba não alcançou o sonhado comunismo, que nunca existiu em país nenhum deste planeta exíguo do universo senão como experiências tortuosas de socializar a riqueza entre seres indispostos a este fim, os humanos. O sonho persiste a despeito da defesa do dinheiro, o luxo e o excesso, que ainda persegue os anseios de muitos Homo sapiens inebriados pelo pior dos vícios.

Enquanto houver uma vela acesa, Cuba continuará expondo sua vasta produção cultural apesar do embargo econômico dos Estados Unidos e o desmerecimento da imprensa servil, que digere a cultura estadunidense como a legítima e universal.

Não se deve ignorar, porém, que uma pequena ilha a cento e cinquenta quilômetros da Flórida resiste e não deixa que feneça sua dança, culinária, música e literatura. É uma brisa que sopra sobre a animosidade do vizinho intolerante.

A intrepidez cubana, apesar dos desajustes de um desafio tão difícil de conquistar quanto mal compreendido, aumenta com o acesso crescente de seus cidadãos ao cenário digital da internet. A crítica é inclusive bem-vinda neste meio de comunicação integrador.

A 1ª Jornada da Cultura Cubana em Meios Digitais, portanto, enriquece o diálogo sobre rumos que Estado nenhum pode controlar ou censurar devido à porosidade da informação e o direito universal de se comunicar livremente.

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