segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Fina Estampa e classificação indicativa

Por Renata Mielli, no blog Janela sobre a Palavra:

As telenovelas são uma mania nacional. Gênero audiovisual que tem seguidores em todas as camadas sociais e em todas as gerações. E não só no Brasil. Nossas telenovelas se transformaram num dos principais produtos culturais de exportação brasileira, sendo transmitidas e retransmitidas em vários países de todo o mundo. A tal ponto, que quando um brasileiro é identificado em outro país, é muito comum que seja alvejado de perguntas sobre a novela da vez.



Por décadas ocupa o chamado horário nobre da TV brasileira, não só na TV Globo, emissora de maior alcance e audiência, mas em outras que tatearam a possibilidade de conquistar mais público com o gênero. Foi assim com a extinta Manchete, ou o SBT, Record, Bandeirantes.

A influência cultural da telenovela é avassaladora. Ela dita comportamentos, moda, constrói através de seus personagens um ideal de consumo e de sucesso pessoal como nenhum outro produto cultural é capaz de fazer.

De alguns anos para cá, passou a abordar de forma mais direta temas sociais, como a questão da violência contra a mulher e o uso de drogas, para citar os dois assuntos preferidos dos autores de novela.

As tramas exploram cada vez mais os antagonismos entre mocinho (a) e bandido (o). O herói e o vilão da história. E a questão é que o vilão, a cada dia, é mais amado pelo público. As coisas que eles dizem e fazem têm tido certa aceitação da população.

Os impropérios ditos pela vilã da vez, a Tereza Cristina da novela Fina Estampa, não estão causando repúdio, mas estão contribuindo para reproduzir preconceitos e galvanizar um sentimento reacionário que está pulsando na sociedade.

Vistos por uma criança ou adolescente, as ações da Tereza Cristina em questão, mas de qualquer outro personagem em qualquer outra emissora, funcionam mais como exemplos a serem seguidos do que a serem condenados.

Novela não é coisa para criança

Claro, o remédio para evitar isso está na ponta da língua dos que acham que a TV pode tudo e que a culpa é dos pais, qual seja: Novela não é coisa de criança, os pais precisam cuidar do que seus filhos assistem.

Lembro vivamente desta frase repetidas tantas vezes por minha avó quando eu era pequena. Mas, o que fazer? O televisor – que se transformou no centro de convivência e relações familiares – estava sempre ligado nas novelas. Então, minha memória infantil gravou profundamente cenas como a explosão da Dona Redonda, ou o formigueiro que saia do nariz do Zico Rosado, personagens folclóricos de Saramandaia.

Todas estas imagens um tanto inadequadas para uma criança de 5 anos. Eu ficava com medo que minha bisavó – que era gorda – explodisse dentro de casa.

Classificação indicativa nelas

Os que acham que não é bem assim – ou seja, que tanto as emissoras quanto o Estado têm responsabilidades pelo que veiculam – defendem que é preciso classificar o conteúdo por faixa etária e horário de veiculação.

Não é preciso ser expert para reconhecer que a novela Fina Estampa não está adequada para a faixa etária em que está classificada. O Ministério da Justiça está atento e já notificou a emissora sobre a questão.

Este é um tema de interesse de toda a sociedade e precisaria ser discutido amplamente em respeito ao direito do público.

2 comentários:

Luis R disse...

Desculpa, querido, mas acho que eu vivo em outro planeta pois nunca assisti a uma telenovela na vida e, pasmen, conheço um monte de gente assim.

Márcia Campêllo disse...

BOM MESMO SÃO OS TELEJORNAIS: “Pelo menos 50 pessoas lincharam motorista que passou mal ao volante...”; “E começou... canibalismo de gays após assassinato...”; “Cidades de Alagoas que foram citadas no Fantástico ficaram sem luz na hora da reportagem... Bem-vindo ao Faroeste Caboclo...”. Sem hipocrisias: É A VIDA REAL QUE CHOCA.