segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Papel do jornalista na era da internet

Por Carlos Norberto de Carvalho Lisboa Souza, no Observatório da Imprensa:

Quando todos se tornam potenciais produtores de informação, a Web 2.0 traz em si grande possibilidade de questionamentos à grande mídia. Isso porque surgem ferramentas na internet que possibilitam a qualquer pessoa produzir suas próprias notícias. “Os veículos eram aquele emissor de informação acima de qualquer suspeita e, hoje, você dá oportunidade de qualquer um checar por outros meios. Ela é muito importante porque deixa mais transparente esse conteúdo”, afirma a professora de Jornalismo Online Daniella Aragão. Ela leciona na Universidade Santa Cecília (Unisanta) em Santos, São Paulo.


A professora acha muito importante a participação do cidadão. No entanto, isso deixa os jornalistas mais vulneráveis, pois seus erros também têm visibilidade maior. “Se o repórter não for feliz na apuração das informações, alguém vai pressionar e as outras pessoas vão ficar sabendo”, diz. Por isso eles precisam ter humildade, pois nunca foram os donos da verdade e isso está cada vez mais claro.

Pioneiro do jornalismo de internet, o jornalista Luís Nassif destaca uma diferença fundamental entre o jornalismo da “mídia velha” e o da “nova”. “A velha mídia não admite abrir mão do controle da informação, então ela não vai aceitar colaboração de leitor, a não ser para coisas muito pontuais como ‘Mande aqui filmagem de uma batida que você viu...’”, afirma Nassif.

“Explorar assuntos que a mídia não aborda é o caminho”

No entanto, a professora Daniella considera que os meios de comunicação estão se preparando; afinal, estão nas mídias sociais. “É dar a cara a bater. Lógico que há preocupação de marketing primeiro, mas há também o outro lado”, pondera. Porém, para Nassif, a mídia tradicional vai continuar retendo e manipulando a informação de acordo com seus interesses comerciais e políticos.

Nesse sentido, Nassif afirma que serão os novos grupos que trabalharão o conceito de jornalismo colaborativo, “que é o jornalismo que deixa de ser o dono da informação”. “Você joga a informação, o leitor vem ajudar a construir ou rebater, quando for o caso”, explica. “Esse tipo de jornalismo, que é típico da era da internet, quem praticará serão os novos grupos”, arrisca.

Graças às mídias sociais, hoje é possível mobilizar muita gente para manifestações e protestos num espaço de tempo cada vez menor. É importante também na troca de ideias em favor da pluralidade de opiniões. “A questão é se é apenas uma onda ou se vai surtir efeito. Antes não havia essa possibilidade. Mas tem que ser espontâneo – não como massa de manobra”, comenta o professor e jornalista Fernando De Maria, que também dá aulas na Unisanta. Ele também destaca o papel de contraponto à grande mídia. “Explorar assuntos que a mídia não aborda, desde que haja responsabilidade, é o caminho. Mas precisa ser algo concreto, e não aquelas bandeiras que são levantadas hoje e esquecidas no dia seguinte”, pondera.

Impressos “com os dias contados”

Potencial para isso, há. A professora Daniella menciona pesquisa recente do Instituto Nielsen, que anualmente faz pesquisa de todas as mídias. Há dois anos também realiza uma sobre mídias sociais (a Social Media Report). Segundo a pesquisa, 80% dos internautas estão nas mídias sociais. A média de uso é grande. Por exemplo, os usuários do Facebook ficam conectados por volta de seis horas por dia, em média. Estão conectados e, ao mesmo tempo, fazendo outra coisa.

Os novos grupos, segundo Luís Nassif, estão em formação. “O que tem hoje são blogs colaborativos, mas muitos são partidarizados.” De acordo com Nassif, eles vão casar a Web 2.0 com o jornalismo, o que não foi feito ainda. E fala do seu blog: “É um embrião que vai frutificar para outras experiências. Uns 80 ou 90% dos posts são os leitores que trazem. Tenho lá um portal com quase 20 mil colaboradores já cadastrados”, conta. E reforçou: “Os novos grupos virão dentro dessa nova concepção. Os velhos não têm jeito, estão amarrados ao passado”. Nassif diz que a grande mídia sofre uma perda gradual de influência e considera que os jornais impressos estão “com os dias contados”.

“A nova mídia será muito mais humilde”

Já Fernando De Maria discorda do fim da mídia impressa: “Eu não acho que acabe, vai ter público para tudo. Os impressos vão tornar-se cada vez mais locais e analíticos”, acredita.

Mesmo com tanta informação disponível, não compreendemos o mundo em que vivemos. Ou seja, o excesso de informação (sem contexto e sem história) desinforma. “O nosso trabalho hoje é muito mais de tradutor do mundo, de explicar o que está acontecendo e passar para o leitor, já que à informação bruta ele tem acesso”, afirma Daniella. Ou seja, selecionar o que é relevante dentre um oceano de informações sem importância.

Diante disso, parece razoável o que Philip Meyer escreveu no livro Os jornais podem desaparecer?: “O velho jornalismo era dominado por um único jornal local e, mesmo no nível nacional, sempre foram alguns poucos jornais que não respondiam a ninguém. Com os blogueiros ou mesmo com outros usos da internet, esta cobrança da qualidade da informação está vindo e forte. Isto será bom para o jornalismo, o padrão de qualidade vai ser mais exigente. Grande parte da imprensa está acostumada com o monopólio da informação e ficou arrogante. A nova mídia será muito mais humilde e mais disposta a aprender.”

* Carlos Norberto de Carvalho Lisboa Souza é estudante de Jornalismo, Santos, SP.

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