quarta-feira, 21 de março de 2012

A pressão pela Comissão da Verdade

Editorial do jornal Brasil de Fato:

Florestan Fernandes denunciou que a transição controlada da ditadura se transformaria no grande trauma nacional. A partir do entendimento da transição “lenta, gradual e segura” como um movimento de adiamento do desenlace da crise da autocracia burguesa Florestan Fernandes conceituou a Nova República e a operação de “conciliação pelo alto” que lhe deu sustentação, como interrupção da contrarrevolução preventiva desencadeada em 1964 com vistas a barrar, mais uma vez, as potencialidades de uma revolução democrática e nacional alimentadas pelo próprio desenvolvimento do capitalismo dependente em sua fase monopolista. O alvo principal desta operação política promovida pelas classes dominantes era o emergente movimento social das classes subalternas, nascido durante a crise da ditadura, que apresentava uma nítida propositura programática de “revolução dentro da ordem”, embora já apontando tarefas de “revolução contra a ordem”.


Mais uma vez sua análise foi correta. As eleições de 2010, onde os setores mais conservadores da burguesia foram novamente obrigados a buscar um candidato que ostentasse a luta contra ditadura em seu currículo e as acusações desse candidato contra nossa presidenta Dilma atacavam sua coragem em ter participado da resistência armada, comprovam que o tema segue sendo um forte trauma em nosso imaginário coletivo.

A questão ressurge com força através da criação da Comissão Nacional da Verdade. O debate sobre o direito de apurar os crimes praticados pela ditadura retoma com força na sociedade.  A Comissão da Verdade tem como tarefa institucional estabelecer quais as circunstâncias em que as mortes, a tortura, a violência de Estado foi realizada no Brasil. Apurar a responsabilidade dos militares e servidores públicos da época, que teriam participado de atos perversos da ditadura, mas também dos próprios civis que participaram de estruturas não governamentais, empresariais, que participaram da repressão.

As forças sociais se movimentam para defender ou impedir que a verdade venha à tona.  Até mesmo os acovardados torturadores saíram de seus esconderijos e lançaram um manifesto em nome do Clube Militar, onde retomam suas velhas ameaças golpistas e atacam a iniciativa do governo federal.

Recentemente, a Anistia Internacional denunciou que “O Brasil continua atrasado em comparação aos demais países da região em sua resposta às graves violações de direitos humanos cometidas no período militar”, o que constitui um eco do clima internacional em relação ao acobertamento institucional daqueles crimes. É um fato lamentável.

ONU, Anistia Internacional, Comissão Interamericana de Direitos Humanos e Tribunal Penal Internacional condenam o Supremo Tribunal Federal brasileiro por ter se manifestado contra ação da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) iniciada em 2010 que questionava a Lei da Anistia, de 1979. A condenação informal do Brasil por leniência com os crimes de Estado durante a ditadura tem amplo apoio dos principais países-membros.

Entre os países que integraram a Operação Condor – aliança secreta entre Brasil, Argentina, Chile e Uruguai orquestrada pelos Estados Unidos entre os anos de 1960 e 1970 para combater movimentos de esquerda –, só o Brasil ainda não iniciou punições de militares que cometeram crimes de lesahumanidade. Segundo a Ministra Maria do Rosário, da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, a “sociedade precisa mobilizar-se para assegurar a Comissão da Verdade”.

Recordemos que o Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) recomendou, em 2 de novembro de 2005, que o Brasil tornasse públicos os documentos relevantes sobre os crimes cometidos durante essa fase do país, responsabilizando seus autores.

Portanto, para assegurar que a Comissão da Verdade cumpra sua tarefa histórica será necessário construir lutas populares que assegurem sua defesa e funcionamento.

É o momento dos lutadores populares retomarem com todas as energias as denúncias sobre os assassinos e torturadores que cometeram os piores crimes durante a ditadura.

Quem praticou tantos horrores nas salas de tortura não pode permanecer esquecido, escondido em sua covardia. Resgatar esses episódios é o caminho para superarmos o grande trauma nacional da Ditadura. Está é a nossa história e não permitiremos que seja abafada.

Sem mobilização não conseguiremos sequer assegurar a Comissão da Verdade.

É preciso tocar na ferida e enfrentar esse debate. Mas principalmente, é preciso sair às ruas e construir uma luta popular pela Comissão da Verdade.

5 comentários:

Ronaldo disse...

O significado da palavra anistia é 'esquecimento'. Trinta anos se passaram desde o movimento popular avalizado pelo congresso por uma anistia ampla geral e irrestrita. Figueiredo não teve como vetá-la. Agora eu não consigo identificar quem e porque querem inverter o significado da palavra anistia? Quem? por que? Para que? Qual o efeito prático? Só pode ser algum movimento, para criar animosidade, ódio, ressentimento entre brasileiros que felizmente esqueceram = anistiaram.

Luis R disse...

Ronaldo, essa 'anistia" é distorcida, foi imposta bionicamente de cima para baixo, foi uma auto anistia, o que, por uma simples definição inexiste e desligitima o conceito ao pé da letra, como vc coloca, além disso as pessoas que resistiram a ditadura foram violentamente punidas, enquanto os torturadores seguem impunes ou então para facilitar a sua cabeça dê uma sacada no que ocorre nos outros países que participaram da opreção Condor e veja que beleza e como a auto estima e orgulho dessas nações é hoje renovado. A Verdade deve vir a tona e ser amplamente conhecida por todos, não foram apenas vidas que foram roubadas clandestinamente em nome do estado, mas muitas riquezas e pagamos esse pato há várias gerações, se liga.

Anônimo disse...

" mais uma vez, as potencialidades de uma revolução democrática e nacional alimentadas pelo próprio desenvolvimento do capitalismo dependente em sua fase monopolista." Revolução DEMOCRÁTICA ou REVOLUÇÃO COMUNISTA? Por que os "progressistas" insistem em não dar nome aos bois? Po os pingos nos is? Mais uma vez, a anisrtia do jeito que foi feita não partiu dos militares, nãaaaao. Aliás, os militares tiveram de engolir a anistia do jeito que os movimentos sociais da época queriam, e o MDN está muito longe do PMDB de Sarney(antiga ARENA) de hoje. Se for para haver revisão da lei da anistia eu faço votos que tb ela seja AMPLA,GERAL E IRRESTRITA, ou seja, juntos com torturadores quero ver tb assassino/ladrão/terrorista comunista atrás das grades tb. Algum "progressista" topa? Vamos ver o que o PBFHGREKLMCXZA acha disso, ele que já vem de uma loooooonga data como "progressista" que é ...

Anônimo disse...

As vezes me pergunto se os leitores habitueés não deixam comentário algum porque a- não entendem o texto; b- não conseguem se expressar alem do 'é isso aí" ou c- não conseguem decifrar o tal de verificador digital. Ó dúvida cruel ...

Anônimo disse...

Quanto a questão da Lei da Anistia, para resolvermos a discussão vale-não vale, basta que reafirmemos LOCKE: todo e qualquer governo que se formou pela força das armas ou de qualquer forma sem o consentimento do povo, é ilegítimo; e mesmo que esse governo tenha arrancado acordos desse povo, tal acordo é ilegítimo, pois o povo o concedeu sem condições de liberdade. Afirma ainda que qualquer um que se levante contra tal governo, incluindo esses acordos, apesar de tal movimento ser chamado comumente de rebelião, tal fato não é contra Deus, mas este na verdade os consente e apoia, pois são contra um governo ilegítimo. Tal governo, diz ainda Locke, quando ultrapassa a forma convencional, como o foi o governo militar brasileiro com seus AI's, além de ilegítimo, é também tirânico.