quarta-feira, 20 de junho de 2012

O baile dos fanáticos do mercado

Ilustração: Jorge  Alaminos
Por Paulo Moreira Leite, na coluna Vamos combinar:

Se a Europa fosse um laboratório e os cidadãos do Velho Mundo pudesse ser vistos como camundongos num ensaio científico, a cena poderia ser descrita como como demonstração do fracasso das políticas de austeridade.


Há cinco anos a economia européia não pára de afundar. Os governos caem, um após o outro. O desemprego aumenta e a falta de perspectiva real faz crescer a sombra do fascismo.

Quem acreditou que o problema europeu era a Grécia se decepcionou. Nem mesma a pressão alemã dos últimos dias conseguiu garantir uma votação clara a favor dos partidos favoráveis ao programa de austeridade e desmanche do bem-estar social. O país está dividido e o recado das urnas está longe de apontar para uma saída.

O partido de ultra-esquerda teve 27% dos votos, apenas 2% a menos do que a direita, que ficou em primeiro lugar. Se os social-democratas ficaram um pouco abaixo, o neo-nazismo acumulou 18%. A esquerda tradicional – fora os socialistas – teve pouco mais de 6%.

Isso quer dizer que nada está resolvido e todo esforço para impor medidas que impliquem em novos sacrifícios irá enfrentar resistência. É por isso que as bolsas caem e os governos hesitam.

A única utilidade da pressão alemã foi desmascarar a boa vontade do Banco Europeu com a Espanha. Vinte e quatro horas depois da contagem de votos em Atenas, descobriu-se que a ajuda de 100 bilhões de euros a Espanha era um presente de grego. Só queria dar a impressão de que a austeridade representa uma saída.

O pacote espanhol sequer está resolvido e parece claro que terá poucos efeitos práticos para tirar o país do precipício. Querem salvar os bancos — mas não querem incentivar o consumo, nem o emprego.

Numa demagogia de hospício, o governo conservador da Espanha apoia medidas que favorecem demissões de trabalhadores porque acha que isso vai ajudar nas constratações. É como se as empresas fossem dirigidas por executivos angelicais, que não tem interesses nem metas financeiras para entregar no cassino continental.

Isso não quer dizer que os governos europeus não sabem o que fazer. Sabem sim. Querem promover um show chamado “destruição criadora”, pela qual as crises do capitalismo destroem forças produtivas, esmagam conquistas sociais e, sobre uma paz de cemitério, iniciam uma reconstrução em novas bases.

O sonho dos fanáticos do mercado é um mundo sem conquistas sociais nem direitos, onde as corporações e os mercados estejam livres para submeter os assalariados a uma regressão social como poucas vezes se viu na história. Algo como uma Idade Média com internet — se ainda houver luz elétrica, claro.

Faz parte dessa visão até mesmo neutralizar instituiçõies do Estado, criadas após a última grande destruição criadora – a crise de 1929 – e assim permitir um grande salto para trás. Por isso querem acabar com os bancos centrais, instrumentos para uma política econômicas capazes de fazer o contraciclo e estimular uma retomada.

O jogo está iniciado e a única pergunta consiste em saber até onde haverá resistência da população. O resto é retórica, desemprego e retrocesso.

2 comentários:

Regina disse...

Na verdade a Europa só tem um jeito. Largar esse euro e cada país recuperar sua soberania. Essas instituições supranacionais são despersonalizadas, não têm compromisso algum com o social e estão acabando com conquistas seculares. Como se esses empréstimos beneficiassem de alguma forma o povo desses países. França veio mais ou menos firme, agora já começa a mostrar sinais de fraqueza. Alemanha que não se iluda. Ela tb. vai para o buraco.

Regina disse...

Depois de ler esse artigo, li um outro na Carta Capital, que recomendo:
http://www.cartacapital.com.br/economia/a-europa-vai-prosperar-mas-o-reino-unido-pode-estar-condenado-a-uma-vida-nas-margens/.

Aqui se lê: O partido de ultra-esquerda teve 27% dos votos, apenas 2% a menos do que a direita.

Lá: Se a Grécia deixasse o euro antes que o resgate esteja concluído, a corrida aos bancos afogaria a Espanha e se espalharia para outros lugares.

Fica a pergunta: quem patrocinou os 2%, se tudo indicava que os gregos não queriam mais o euro?

Curiosidade: um dos comentaristas do artigo diz que a esposa do primeiro neto é uma Rothschild. Não foi à toa toda a festança...