terça-feira, 31 de julho de 2012

A Monsanto em apuros no Brasil

Por Carmelo Ruiz Marrero, no jornal Brasil de Fato:

A companhia de biotecnologia estadunidense Monsanto, maior empresa de sementes do mundo, pode acabar tendo que pagar 7,5 bilhões de dólares a cinco milhões de plantadores de soja brasileiros, que processam a empresa pela cobrança de royalties.


A Monsanto, uma das corporações mais detestadas do mundo, tornou-se aos olhos de muitos o símbolo mais facilmente reconhecido de controle coorporativo sobre os alimentos e a agricultura. Suas táticas duras para cobrar royalties de agricultores pelas suas sementes patenteadas foram documentadas nos filmes “Food Inc” e “El Mundo Según Monsanto”. Esta corporação, tão acostumada a processar e intimidar agricultores, vive uma situação contrária no Brasil, onde agora é processada por agricultores.

O Brasil é o segundo maior produtor de cultivos transgênicos ou geneticamente modificados (GM) no mundo, superado somente pelos Estados Unidos. A vasta maioria deste cultivo consiste em soja, que tem sido alterada geneticamente pela Monsanto para resistir ao herbicida Roundup, produto da mesma companhia.

O Brasil exporta a maior parte de sua colheita de soja para Europa e China, que a utilizam para produzir biodiesel ou como alimento para gado. Estima-se que 85% da soja brasileira sejam geneticamente modificados. Não se sabe a proporção exata, porque a soja da Monsanto foi contrabandeada da Argentina a partir de 1998. Em 2005, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para fazer frente a uma situação de fatos consumados, legalizou o cultivo de soja GM no país.

Uma vez legalizada, a Monsanto começou a cobrar dos agricultores brasileiros um imposto de 2% por sua produção de soja GM. A companhia também comercializa soja não modificada geneticamente e requer aos agricultores que mantenham ambas as variedades estritamente separadas. Caso seja encontrada soja transgênica em carregamento de soja que se supõe não modificada, o agricultor é penalizado com uma cobrança de 3%.

Em 2009, um grupo de sindicatos rurais do Rio Grande do Sul processou a Monsanto, denunciando que a soja GM e a soja não GM são praticamente impossíveis de se separar e que, portanto, o “imposto Monsanto” é injusto.

Esta alegação contradiz diretamente um dos principais meios de propaganda da indústria da biotecnologia: de que as sementes e plantas transgênicas nunca aparecem onde não deveriam estar. Esta ocorrência, conhecida como contaminação genética, é negada pelas companhias. Quando isto ocorre, eles negam, mas quando a evidência é demasiadamente contundente para negá-la, a companhia minimiza a importância ou coloca a culpa no agricultor.

“O problema é que separar a soja GM da soja convencional é difícil, dado que a soja GM é altamente contaminante”, declarou João Batista da Silveira, presidente do Sindicato Rural de Passo Fundo (RS), um dos principais denunciantes do caso.

No último mês de abril, um juiz do Rio Grande do Sul determinou que são ilegais as cobranças da Monsanto e notou que a patente da semente de soja GM da companhia estava expirada no país. O juiz também ordenou que a empresa deixe de cobrar royalties e também devolva todos os royalties cobrados desde 2004 - estamos falando de 2 bilhões de dólares.

A Monsanto está apelando da decisão, mas recebeu outro golpe no dia 12 de junho, quando o Supremo Tribunal Federal determinou de forma unânime que a decisão do judiciário do Rio Grande do Sul seja abrangente ao país inteiro. Isso aumenta o montante envolvido para 7,5 bilhões de dólares. Agora, os agricultores que processam a Monsanto são cinco milhões.

Em uma declaração concisa, a Monsanto declarou que seguirá cobrando os royalties dos agricultores brasileiros até que o caso se resolva em definitivo.

Em 2008, a revista científica Chemical Research in Toxicology publicou um estudo do cientista francês Gilles-Eric Seralini, especialista em biologia molecular e professor da Universidade de Caen, que indica que o Roundup é letal para células humanas. Conforme sua investigação, doses muito menores que as utilizadas em cultivos de soja provocam morte celular no solo em poucas horas.

Em 2010, a mesma revista publicou um estudo revisado pelos parceiros do embriólogo argentino Andrés Carrasco, principal pesquisador do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (Conicet) e diretor do Laboratório de Embriologia Molecular da Universidade de Buenos Aires, que mostrou que o glifosato, ingrediente ativo do Roundup, é extremamente tóxico a embriões de anfíbios mesmo em doses até 1.540 vezes menores que as utilizadas nas fumigações agrícolas.

* Carmelo Ruiz Marrero é escritor, jornalista e educador ambiental. Dirige o Projeto de Biossegurança de Porto Rico.

8 comentários:

Carlos disse...

Agradecido pela informação completa.
Sera que a grande Mídia vai divulgar?
Creio que não.
Abraço!

Luis disse...

Aparentemente o agronegócio gaúcho não está preocupado com o modelo equivocado de agricultura que pratica e que, está claro, não é para alimentar as pessoas ou, ao contrário, nos envenenar e degradar a terra com roundup e monocultura transgênica. E, acredito, que o governo Lula liberou as sementes por ignorância, falta de criatividade e falta de coragem para peitar o agronegócio, avançar com a Reforma Agrária e premiar os agricultores produtores, a agricultura orgânica e a agrofloresta, que pode, de fato, alimentar a todos com saúde e sem a falácia do pib/agronegócio.

Anônimo disse...

Em vez de pagar os sete bilhoes aos agricultores, a Monsanto vai pegar o dinheiro para financiar um golpe de estado no Brasil...

Partido Pirata Argentino disse...

Interessante notícia, logo faço a tradução ao português.
Deixo a informação de um processo judicial na Argentina contra a pulverização/fumigación:

http://www.juicioalafumigacion.com.ar/

Se quiser dar uma olhada!

Ignez disse...

A Monsanto não envenena apenas o solo e nossa saúde, mas, também, estereliza todo e qualquer obstáculo que a ela se contraponha, como fez no episódio do golpe-branco no Paraguai, que depôs o Fernando Lugo. Pretenderá tornar nosso solo estéril, em troca de lucro? A afirmação dos agricultores: "a soja GM (geneticamente modificada)é altamente contaminante" causa profundo medo. No entanto, só estão lutando porque as cobranças da Monsanto afetam seus bolsos. Pelo menos fica mais claro o terror que é a Monsanto.

Anônimo disse...

Bem feito. Requião tentou impedir a Monsanto e ninguém deu bola. ele cedeu. Quem já havia aderido no sul, se ferrou. Assim se aprende.

Regina disse...

Mais grave ainda. Cientistas russos alertam por meio da Associação Nacional para a Segurança Genética da Rússia, que alimentação com soja GM (Geneticamente Modificada) causa esterilidade até a terceira geração, como também a aumento da mortalidade de fetos.
Será que a exigência de não misturar decorre de um possível envio das não transgêncicas (parte) para o famoso "cofre do fim-d-mundo"?

Marco Antonio Rodrigues disse...

http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/22653/colombia+e+o+sexto+pais+a+tirar+embaixador+de+assuncao+apos+golpe+no+paraguai.shtml