terça-feira, 17 de julho de 2012

Cachoeira, escolas chinesas e a Veja

Por Vinicius Mansur, no sítio Carta Maior:

No dia nove de junho de 2011, em ligação telefônica interceptada pela Operação Monte Carlo, da Polícia Federal (PF), às 14:59, o contraventor Carlos Cachoeira revelou a Gleyb Ferreira da Cruz, um de seus auxiliares, de acordo com a PF, o seu projeto para construção de escolas em Goiás. “Comenta com ninguém não, mas o Thiago passou modelo pra nós, tá? Vai alugar várias escolas no estado, entendeu? E vamos construir, porque na hora que sair, tá pronta, é só oferecer”, disse Cachoeira. O nome do secretário de educação de Goiás é Thiago Peixoto.
 

A partir dos 35 segundos desta ligação o contraventor pede a Cruz que busque o “Alex da China” para obter modelos de escola sem citar que “é do secretário essas coisas”. Cruz afirma que o Alex “tá na mão” e que entrará em contato com ele. (Ouça abaixo)

Audio 1

Em pouco menos de um mês, no dia sete de julho de 2011, às 10:09, Cachoeira liga para o editor da Veja em Brasília, Policarpo Junior, afirma que o secretário de educação de Goiás “ta fazendo uma revolução na educação” e pergunta “com quem que ele vê? (...) Como é que a gente pode fazer uma divulgação disso?”. Junior afirma que a ligação está cortando e não responde mais. (Ouça abaixo)

Audio 2

Às 10:48, do mesmo dia, o então diretor da Construtora Delta no Centro-Oeste, Claudio Abreu, durante um encontro com Policarpo Junior, liga para Cachoeira para solicitar informações sobre a compra de uma fazenda em Nova Crixás (GO) por “Juquinha” - José Francisco das Neves, ex-presidente da Valec, estatal responsável pelas ferrovias. À época a revista Veja publicava denúncias envolvendo o Ministério dos Transportes. Na ligação, Abreu chega a pedir um dossiê. Cachoeira diz não saber e muda de assunto . “Você tá com o Poli... Fala para ele fazer a reportagem aí, o Thiago ta fazendo uma revolução na educação aqui. Manda ele designar um repórter para cobrir”. Ouça abaixo:

Audio 3

O contraventor ainda cita que o secretário de educação colocou 14 mil professores para a sala de aula e que ele está fazendo um projeto com a Gerdau. “Vai revolucionar a educação aqui em Goiás”, insiste. Abreu se compromete em passar o recado.

Em outra ligação, às 10:57, Abreu volta a falar do dossiê, Cachoeira diz que vai averiguar com João Bosco e, em seguida, pergunta sobre seu pedido ao editor da Veja. “Ele vai conversar com você sobre isso aí e vai dar um jeito”, respondeu Abreu, que ainda pediu a Cachoeira que arrumasse um rádio para Policarpo Júnior. O contraventor negou. Ouça abaixo:

Audio 4

A matéria na Veja

O assunto não é explicitado em nenhuma outra gravação entre o editor da Veja em Brasília e os homens de Cachoeira. As gravações às quais Carta Maior teve acesso registram 29 conversas diretas entre Policarpo Júnior e membros da quadrilha de Cachoeira investigados pela PF.

Entre as matérias da Veja no período, nenhuma abordou a “revolução educacional” em Goiás. Entretanto, em dezembro de 2011, a matéria de capa da edição 2248 da revista diz “A arma secreta da China: a educação de qualidade e baixo custo para milhões é o verdadeiro segredo dos chineses em sua corrida para a liderança mundial”.

Em 12 páginas, o jornalista Gustavo Ioschpe relata o modelo educacional chinês, incluindo as construções. “Os prédios são parecidos com os de muitas escolas brasileiras, ainda que um pouco mais verticalizados. São escolas grandes, a maioria com mais de mil alunos (…) em algumas, cada série ocupava um andar. Essa organização do espaço é relevante. Pois em cada andar há uma sala de professores…”

Em abril deste ano, a Secretaria de Estado da Educação de Goiás emitiu nota alegando que “nunca discutiu projetos de construções de escolas ‘inspirados’ em modelos de outros países” e negou “informações sobre construção de unidades de ensino que seriam, posteriormente, alugadas”. Thiago Peixoto segue no cargo de secretário estadual de Educação do governo de Marconi Perillo (PSDB).

1 comentários:

Frederico Luiz disse...

Frederico Luiz

O Conversa Afiada publica hoje, documentos que comprovam a conexão da revista Veja com o esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Na matemática, a letra grega delta, equivalente ao nosso "D" é usada para variações. Assim como a letra sigma, nosso "S", para o somatório. Na figura abaixo, o Delta grego nas versões maiúscula e minúscula.