domingo, 5 de agosto de 2012

Pesquisa, mensalão e "opinião pública"

Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:

Nunca tantos falaram em nome da "opinião pública" como nestas últimas semanas que antecederam o início do julgamento do processo do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal.

Até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em nome da "sociedade que não suporta mais esta situação", saiu dos seus cuidados para gravar vídeos clamando pela necessidade de se "fazer justiça" para não colocar em risco o futuro da democracia brasileira.


E só tem um jeito de se fazer justiça, segundo os porta-vozes midiáticos da opinião pública, repetindo com todas as letras o lema do procurador-geral Roberto Gurgel: "Fazer justiça é condenar todos os réus".

A "sociedade" a que FHC se refere deve ser certamente aquela formada por seu moribundo partido (ver pesquisa CNT Opinião e Ibope mais abaixo) com os principais veículos de comunicação do país reunidos no Instituto Millennium, que desde 2005 querem "acabar com esta raça", o desejo revelado publicamente por seu aliado Jorge Bornhausen (por onde andará?).

Antes mesmo de Roberto Gurgel começar a ler o seu memorial de acusação na sexta-feira, após o massacre contra o PT dos últimos dias, que ocupou todos os espaços na velha mídia, dia e noite, o veredicto já estava dado, e nem seria necessário prosseguir o julgamento. Bastaria chamar o camburão da polícia para prender todos os réus.

O objetivo declarado era condenar e tirar de circulação o ex-ministro José Dirceu e outros dirigentes do PT. Por trás de todo o discurso moralista em nome da "opinião pública", porém, o que eles queriam mesmo era finalmente derrotar e acabar com a alta e inabalável aprovação popular do ex-presidente Lula, o que não conseguiram fazer nas urnas.

Gastaram toda sua munição nisso e devem ter ficado profundamente frustrados quando foram divulgados ontem os resultados da pesquisa CNT Opinião, mostrando que Lula teria 69,8% dos votos se a eleição presidencial fosse hoje, contra apenas 11,9% do tucano Aécio Neves, o candidato de FHC. Dilma também ganharia de lavada de Aécio: 59% a 14,8%.

Na falta de uma pesquisa sobre como o povo entende o julgamento do mensalão e o papel da imprensa nesta história _ por que não a fizeram ainda? _ outro indicador que deve deixar a "sociedade" dos tucanos e da mídia inconformados é a avaliação da presidente Dilma Rousseff, que não para de subir: passou de 70,2%, em agosto de 2011, para 75,7% por cento agora.

Ou seja: nem o governo Dilma, nem Lula, nem o PT foram abalados pela campanha de vida ou morte desencadeada por derrotados de 2002, 2006 e 2010.

Pior ainda para o orgulho dos tucanos de bico grande em São Paulo deve ter sido a pesquisa Ibope também divulgada ontem sobre a sucessão municipal em São Paulo.

Outra vez candidato tucano, José Serra também não para de subir, mas é nos índices de rejeição, que já atingiram 34% nesta pesquisa (no Datafolha, chegaram a 37%).

Nos índices de intenção de votos, acontece exatamente o contrário: em relação à primeira pesquisa Ibope, divulgada em maio, Serra caiu 5 pontos, ficando agora com 26%, enquanto o candidato do PRB, Celso Russomanno, subia 9 pontos, de 16% para 25%, em rigoroso empate técnico com o tucano.

O que se nota nesta pesquisa é que Russomanno, e não o candidato do PT, Fernando Haddad, empacado com apenas 6%, atrás de Soninha, do PPS, incorporou o papel de candidato da oposição à administração Serra-Kassab.

O eleitorado parece cansado da eterna disputa entre tucanos e petistas e, ao que as pesquisas até aqui indicam, escolheu este ano uma terceira via, encarnada pelo candidato do PRB e sua bandeira da defesa do consumidor.

Na semana em que começou o julgamento destinado a "acabar com a raça" do PT, foi o PSDB de Serra que bateu seu recorde de rejeição no Ibope, enquanto Dilma e Lula batiam recordes de números positivos.

Alguma coisa deu errado no projeto dos estrategistas globais do Instituto Millennium. A "opinião pública" tão cortejada já não obedece aos antigos "formadores de opinião".

2 comentários:

Luis disse...

Se Haddad for esperto, deixa o Cerra 'acabar' com o Ruçomano.

Ana Cruzzeli disse...

Tudo perfeito só um detalhe, talvez haja esse ano não um embate entre PT e PRB, mas pode ( e não é remoto) o voto de aclamação já no primeiro turno.
Pode o Haddad já ganhar no 1º turno, os dados recentes já dizem que ele pode ter até final de setembro 47% das intenções de votos precisando apenas 3% pra ganhar.
Minha bola de cristal não prevê segundo turno e Russomano não tem estofo politico para se contrapor ao Haddad, o que seria mais forte era o Serra e como ele está visivelmente em queda sobra tudo isso para o Haddad.
Russomano tem também grande rejeição e por outro lado é tão conhecido quanto o Serra ele chega a uns 28% de aceitação no máximo, ja os votos perdidos do Serra migram automaticamente para o Haddad.
Isso será evidenciado quando os eleitores entenderem que ele é o candidato de Lula e Dilma e mais que ele foi o ministro dos dois governos. Isso, por incrivel que pareça é de desconhecimento de 61% da população paulistana.
O Haddad só estaria em desvantagem se não tivesse participado do governo Lula/Dilma. Essa credencial o fortalece .
Diante do Haddad há uma escada ascendente, diante do Serra e Russomanno há uma escada descendente.
Posso está enganada, mas desde o principio não vejo segundo turno, Haddad ganha já no primeiro.
Essa exposição dele e dos demais candidatos de esquerda hoje, refletirá em 2014 dentro do estado e pela primeira vez o palacio dos Bandeirante está se aproximando da esquerda como nunca antes e o que será mais sintomático, a esquerda encabeçada por Dilma ganhará no estado de SP.
Aí nesse dia a imprensa terá que se curva a regulação da midia, mas se o Haddad ganhar no primeiro turno os primeiros passos serão saltitante para essa regulação. O Congresso entenderá que esse é caminho sem volta e Dilma como ANIMAL POLITICO sabe sem isso não há congresso que faça as mudanças necessárias.