domingo, 9 de setembro de 2012

CPI do Cachoeira vai dar em pizza?

Por Altamiro Borges

O comando da CPI do Cachoeira decidiu nesta semana suspender os seus trabalho até 9 de outubro. O argumento utilizado foi o de que as investigações estavam sendo “contaminadas pelos humores eleitorais” – bem diferente da postura adotada pelo STF, que continua o seu show midiático no julgamento do chamado “mensalão do PT”. Quando retomar as apurações, a CPI terá menos de um mês para tirar suas conclusões – já que o prazo da comissão parlamentar mista de inquérito está previsto para terminar em 4 de novembro.

A decisão de suspender a CPI gerou protestos. Há fortes temores de que tudo pode terminar em pizza. A resistência às apurações das ligações da máfia de Cachoeira foi intensa desde a instalação da CPI, em abril passado. O DEM fez de tudo para desacreditá-la, já que ela atingia um dos principais nomes do partido, o ex-senador Demóstenes Torres, eleito pela revista Veja como “mosqueteiro da ética”. Já o PSDB ficou preocupado com o destino do governador Marconi Perillo, flagrado em várias negociatas com a quadrilha.

O alívio da mídia demotucana

Além disso, as investigações da CPI concluíram que a construtora Delta – que presta serviços para vários governos, incluindo o do PSDB em São Paulo – era uma empresa de fachada da máfia de Cachoeira. A pressão contra a continuidade das apurações uniu setores do governo federal, governadores e a poderosa empreiteira. No início de agosto, a CPI engavetou requerimentos que exporiam as movimentações bancárias da Delta no eixo Rio-São Paulo com outras empresas de fachada, que somaram mais de R$ 220 milhões.

Já a mídia demotucana, que faz tanto estardalhaço com o julgamento do “mensalão”, evitou dar manchetes para a CPI do Cachoeira e pouco investiu no seu chamado “jornalismo investigativo”. Desde o início, ela tratou a investigação como uma trama do ex-presidente Lula para desacreditar os seus opositores – como Demóstenes e Perillo. Com o vazamento das ligações telefônicas entre o mafioso e o editor-chefe da revista Veja, Policarpo Junior, a mídia passou a encarar a CPI como um instrumento de “censura e perseguição”.

O Policarpo não será convocado?

Nos últimos dias, jornais e emissores de televisão, principalmente a TV Globo, anteciparam o “enterro” da CPI. Em seu editorial de hoje (9), o Estadão ainda tenta disfarçar a sua alegria. Ele lamenta a suspensão dos trabalhos, que “praticamente sepulta a comissão”. Mas é só acompanhar seus vários artigos para constatar que, desde o início, o jornalão da famiglia Mesquita acusou a CPI de ser um instrumento do “lulopetismo”.  “Com a suspensão de suas atividades, a CPI confirma a sua irrelevância”, decreta o editorial de hoje.

Não dá para afirmar, como fazem os jornalões, que a CPI foi um “vexame”. Ela ajudou a encerrar a carreira do demo Demóstenes Torres, o falso moralista do DEM cassado pelo Senado. Ela também serviu para levantar fortes suspeitas contra o governador Marconi Perillo, outro ícone da oposição demotucana – que deverá ser citado no relatório final da comissão. Ela ainda ajudou a desnudar as relações promíscuas das poderosas empreiteiras com os governos de várias esferas, o que reforça a urgência da reforma política.

Mesmo assim, o trabalho da CPI ainda está inconcluso – daí a sensação que ela pode terminar em pizza. Muitos envolvidos no esquema criminoso de Cachoeira permaneceram em silêncio, num flagrante desrespeito ao Congresso Nacional. Vídeos e escutas telefônicas da Polícia Federal ainda não se tornaram públicos. As movimentações financeiras da quadrilha com empresas e políticos continuam em sigilo cúmplice. E vários suspeitos de ligação com a máfia nem foram chamados para depor. A blindagem da mídia, um autêntico pacto mafioso, impediu a convocação de Policarpo Junior. Daí o por que da mídia estar tão aliviada com a suspensão dos trabalhos da CPI.

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