sábado, 15 de dezembro de 2012

Época e a "murdechização" da mídia

Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho:

A reportagem de capa da Época desta semana revela a murdochização inexorável, definitiva e… cara de pau da mídia brasileira… Trata-se de uma matéria feita inteiramente com vazamentos seletivos fornecidos pela Polícia Federal.

O esquema de Murdoch na Inglaterra era parecido. Seus jornais subornavam policiais para obterem dados sigilosos dos desafetos ou vítimas da vez. A maioria das vítimas eram celebridades, cujas intimidades eram expostas na mídia. A coisa aqui, porém, é bem mais pesada. O mau caratismo murdochiano visava, na maioria das vezes, apenas o lucro. Na mídia brasileira, o esquema de vazamentos de dados sigilosos para órgãos de comunicação faz parte de uma estratégia de luta pelo poder.

A matéria da Época força a barra ao vender conversas entre Rose e os irmãos Paulo, ou os irmãos entre si, como “tentativa de influenciar o julgamento do mensalão”.

O envolvimento de Dirceu na história, entra, mais uma vez, de maneira nebulosa, sem qualquer prova de crimes. A matéria, assinada por Diego Escoteguy, que trabalhou na Veja, incorpora sem nenhum critério, do início ao fim, ilações desencontradas, baixa intriga e insinuações levianas.

O problema de alguns segmentos do jornalismo de escândalos assemelha-se ao da oposição politica: falta de objetividade e consistência. Uns não conseguem provas para embasar suas denúncias, outros não conseguem votos.

Ganhar a confiança da mídia é fácil, basta demonstrar ausência de escrúpulos quando se trata de chutar o “lulo-petismo”. Difícil é ganhar a confiança do povo.

Entretanto, temos aqui uma situação realmente grave: a luta política está se deteriorando para uma guerra suja e antidemocrática, onde já se pode vislumbrar a criação de uma frente golpista, que inclui os seguintes pontos:

- Esquema de vazamentos seletivos de operações deflagradas pela Polícia Federal.
- Rede de apoios entre procuradores, figuras corruptas da PF, empresários de mídia ligados à oposição.
- Grupo de ministros do STF dispostos a violar princípios constitucionais básicos, interpretando a Constituição de maneira distorcida, ou contra legem.

A ação do STF é essencial ao esquema. Juízes tem procurado consolidar a tese, que é eminentemente golpista, de que tem o poder quase ilimitado para “interpretar a Constituição”. Existe interpretação da Constituição sim, mas voltada para o aprofundamento de seus princípios, e não contra eles. A Constituição, por exemplo, volta-se sempre em favor da democracia, em favor da presunção da inocência, em favor da preeminência do povo, só para citar alguns exemplos.

A reportagem da Época, porém, é traída justamente por seu tom exagerado e alarmista. Falta conteúdo. Pra piorar, ao final, reproduz uma conversa privada entre Adams, advogado-geral da União, e Weber, advogado-adjunto da mesma instituição, com ilações sobre quem seria “Paulo”. O máximo que a revista conseguiu, após fuçar horas de conversas convencionais entre dois funcionários da AGU foi uma frase de Adams perguntando se ele teria “ido no Paulo”. Adams diz que se referia a Paulo Kuhn, procurador geral da União, e ao jantar em sua homenagem. A reportagem, ao invés de ligar para o tal Paulo Kuhn, e perguntar se houve, de fato, tal jantar, prefere o suspense. Ou seja, o único momento em que a revista poderia acrescentar uma informação nova ao “dossiê” que recebeu do esquema golpista de vazamentos seletivos, não faz o serviço.

Não estou dizendo que Adams seja inocente, apenas ressaltando a criação de um ambiente onde todos são culpados. As mais inocentes conversas ao telefone são manipuladas com objetivo de se encaixarem em determinadas teorias. Cria-se, assim, um clima de chantagem perpétua contra qualquer autoridade e mesmo contra qualquer cidadão comum. Haveria, dentro da Polícia Federal, um balcão de negócios para vender informações sigilosas? Murdoch vendeu muito jornal comprando sigilos da até então incorruptível Scotland Yard. Quando estourou o escândalo em Londres, um membro do esquema Murdoch revelou que pelo menos dez funcionários da respeitada polícia britânica estavam no bolso do magnata.

Se Murdoch conseguiu subornar membros da Scotland Yard, não é absurdo suspeitar que nossos barões midiáticos compraram agentes da PF, com objetivo de obter, com exclusividade, vazamentos das conversas captadas na Operação Porto Seguro, entre outros favores.

Pior que o vazamento, porém, é a sua seletividade, tanto dos trechos que interessam quanto do veículo a receber o material. No mesmo momento em que vemos setores da mídia radicalizarem o discurso de oposição, e usarem seu poder de influência sobre o STF para obterem as vitórias políticas que não conseguem nas urnas, cria-se, dentro da Polícia Federal, núcleos de vazamentos seletivos de operações justamente para esses mesmos jornais?

Embora seja saudável vermos que a Polícia Federal tem autonomia para investigar a fundo membros do próprio governo, não me parece que o seja tanto a criação, dentro da PF, um braço do grande esquema golpista que se está criando no país. A coisa está ficando feia demais. Condena-se sem provas, cassa-se mandatos ao arrepio da Constituição, e agora se promove vazamentos seletivos de informações sob segredo de justiça. A seletividade, claro, se dá em função dos interesses políticos do grupo que patrocina o esquema. É assim que operações enormes, que gravam uma quantidade colossal de conversas, a maioria das quais apenas conversas privadas, ou mesmo articulações de caráter político, se tornam fontes de material de chantagem. Esse é um poder eminentemente murdochiano. Se eu tenho em meu poder gravações que, mesmo que não ofereçam nada de claramente comprometedor, podem ser facilmente manipuladas para causar grande dano político ou moral a uma autoridade, seja membro do executivo, parlamentar ou juiz, eis-me dotado de condições para chantageá-lo se não agir conforme a minha vontade. E assim se conseguem direcionar votações, remover nomes de relatórios finais de CPI, e impedir a abertura de outras comissões.

6 comentários:

Anônimo disse...


Caso Escola Base: Globo terá de pagar R$ 1,35 mi

A Rede Globo foi condenada a pagar R$ 1,35 milhão para reparar os danos morais sofridos pelos donos e pelo motorista da Escola Base de São Paulo. Icushiro Shimada, Maria Aparecida Shimada e Maurício Monteiro de Alvarenga devem receber, cada um, o equivalente a 1,5 mil salários mínimos (R$ 450 mil).

A assessoria de imprensa da Globo afirmou que a emissora "está recorrendo e que não divulga a informação por questão de estratégia jurídica"
.
Os jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e a revista IstoÉ também já foram condenados. Em todos os casos já julgados, ainda não houve decisões do Superior Tribunal de Justiça.Segundo o site Espaço Vital, a decisão contra a Globo foi tomada por unanimidade na manhã de quarta-feira pela 7ª Câmara de Direito Privado do TJ-SP. O TJ entendeu que a atuação da imprensa deve se pautar pelo cuidado na divulgação ou veiculação de fatos ofensivos à dignidade e aos direitos de cidadania.

Em março de 1994, a imprensa publicou reportagens sobre seis pessoas que estariam envolvidas no abuso sexual de crianças, alunas da Escola Base, localizada no Bairro da Aclimação, em São Paulo. Jornais, revistas, emissoras de rádio e de tevê basearam-se em "ouvir dizer" sem investigar o caso . Quando foi descoberto, a escola já havia sido depredada, os donos estavam falidos e eram ameaçados de morte em telefonemas anônimos.

Anônimo disse...

O seu comentário está aguardando moderação.
Caso Escola Base: Globo terá de pagar R$ 1,35 mi
A Rede Globo foi condenada a pagar R$ 1,35 milhão para reparar os danos morais sofridos pelos donos e pelo motorista da Escola Base de São Paulo. Icushiro Shimada, Maria Aparecida Shimada e Maurício Monteiro de Alvarenga devem receber, cada um, o equivalente a 1,5 mil salários mínimos (R$ 450 mil).
A assessoria de imprensa da Globo afirmou que a emissora “está recorrendo e que não divulga a informação por questão de estratégia jurídica”
.
Os jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e a revista IstoÉ também já foram condenados. Em todos os casos já julgados, ainda não houve decisões do Superior Tribunal de Justiça.Segundo o site Espaço Vital, a decisão contra a Globo foi tomada por unanimidade na manhã de quarta-feira pela 7ª Câmara de Direito Privado do TJ-SP. O TJ entendeu que a atuação da imprensa deve se pautar pelo cuidado na divulgação ou veiculação de fatos ofensivos à dignidade e aos direitos de cidadania.
Em março de 1994, a imprensa publicou reportagens sobre seis pessoas que estariam envolvidas no abuso sexual de crianças, alunas da Escola Base, localizada no Bairro da Aclimação, em São Paulo. Jornais, revistas, emissoras de rádio e de tevê basearam-se em “ouvir dizer” sem investigar o caso . Quando foi descoberto, a escola já havia sido depredada, os donos estavam falidos e eram ameaçados de morte em telefonemas anônimos.

Arnaldo Pereira disse...

E o ministro Cardozo, da Justiça, só fica olhando os vazamentos seletivos oriundos da PF... E a Presidente Dilma só fica olhando o ministro Cardozo... Estamos com uma raposa no galinheiro e o governo está marcando toca! Acorda Dilma!

Anônimo disse...


A INCIVILIDADE [SERVIL] TRANSVESTIDA DE EMPÁFIA! ENTENDA

... Sistematicamente, todas as vezes que o *Alexandre Garcia 'trata da Lei do Meios o faz destratando' (sic) os limites da análise tendenciosa, atrofiando a discussão a um reducionismo criminoso – procedimento covarde, leviano, desonesto e, sobretudo, deliberadamente capcioso!... Simplesmente, o tal jornalista preconiza que a Lei dos Meios significa tão somente o cerceamento da liberdade de expressão, o cerceamento da liberdade de expressão (idem sic)!...
... Qualquer pessoa dotada de boa fé - ainda que em tese discorde, pelo menos a priori, do referido democrático e civilizatório [a Lei dos Meios] - tem o dever de estudar melhor o assunto, compreender a dimensão da temática, identificar interpretações equivocadas - muitas das quais movidas por interesses inconfessáveis das [nefastas] oligarquias... Dirimir dúvidas, enfim...
Sinceramente, causa-nos profunda irritação e dor ouvir estas declarações sendo proferidas diuturnamente por (de)formadores de opinião, que apostam no terrorismo das bravatas e na falta de discernimento da maioria da população brasileira!...

... A DIREITONA [eterna] OPOSIÇÃO AO BRASIL precisa admitir a necessidade de uma urgente - ainda que mínima -, digamos, **'reciclagem'!... As elites brasileiras não deveriam insistir no absurdo de [estupidamente] continuar ‘desprezando as próprias ignorâncias!', lembrando o enunciado lapidar do eminente escritor e pensador humanista uruguaio Eduardo Galeano...

... Com toda a humildade: Magnífica presidente Dilma Rousseff, não nos faça sentir inveja da presidente Cristina Kirchner!... É óbvio que o encaminhamento das discussões acerca da imperiosa Lei dos Meios em nosso país deverá ter um rito próprio, um curso baseado em nossas experiências democráticas, ouvindo todos os segmentos direta ou indiretamente envolvidos no debate salutar - incluindo, é claro, desde os barões da "grande" mídia nativa até os consumidores dos diversos conteúdos das múltiplas formas de mídia...
*o mesmo ex-porta-voz da ditadura militar, 'ditabranda' [militar] segundo os Frias 'da folha de São Paulo'!
**'reciclagem': utilizando termo caro ao discurso do [DEMo]tucano José (S)erra!...

Por fim... Ou melhor, 'por início':
[Lei de Meios promove a liberdade de expressão, diz juiz.
A sentença do juiz Horacio Alfonso é taxativa e afirma que não há argumentos para declarar a inconstitucionalidade da Lei de Serviços de Comunicação Audiovisual, como pretendia o grupo Clarín. Alfonsi conclui sua decisão dizendo que “as restrições à concentração” não implicam “um prejuízo à liberdade de expressão” e enfatiza inclusive que um regime que articula os direitos dos operadores, ao invés de cercear a liberdade de expressão, está promovendo essa liberdade e não a cerceando.
(...)

em http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/lei-de-meios-promove-a-liberdade-de-expressao-diz-juiz.html]

EM TEMPO DE ALVÍSSARAS!: parabéns aos responsáveis pela conspícua e radicalmente democrática casa cibernética, blog 'viomundo'!...

AVANTE POVO BRASILEIRO!... E veremos quem tem 'a farinha da verdade no saco'!... E não deveremos deixar de considerar o seguinte provérbio hindu: 'Toda a verdade deixa de ser uma verdade quando ela é uma verdade.'

Hasta la Victoria Siempre!

Saudações democráticas, progressistas, civilizatórias, nacionalistas e antigolpistas,

BRASIL (QUASE-)NAÇÃO
Bahia, Feira de Santana
Messias Franca de Macedo

Anônimo disse...


No mundo de Murdoch
Mídia

A mídia é o único poder que tem a prerrogativa de editar as próprias leis

Arrisco a dizer: o relatório Levenson é a mais corajosa e serena crítica aos abusos e malfeitos da mídia contemporânea. O relatório é tão destemido em sua ousadia como a Areopagítica de John Milton ao pregar a liberdade de impressão em 1644, no auge da Revolução Inglesa.
(...)

Por Luiz Gonzaga Belluzzo
em www.cartacapital.com.br

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EM TEMPO: qual ‘jornalista amigo(a) dos patrões barões da grande MÉRDIA nativa’ irá desqualificar a análise do economista Luiz Gonzaga Belluzzo, tachando-o de reacionário xiita fundamentalista, além de torcedor do ‘Parmeira’ do José (S)erra?!...

Lei dos Meios JÁ passou da hora!...

EM TEMPO: Magnífica e intrépida presidente Dilma Rousseff, não nos faça sentir inveja da presidente Cristina Kirchner!...

BRASIL (QUASE-)NAÇÃO
Bahia, Feira de Santana
Messias Franca de Macedo


Anônimo disse...


ajuste desprezível: … o tal jornalista preconiza que a Lei dos Meios significa tão somente o cerceamento da liberdade de imprensa, o cerceamento da liberdade de expressão (idem sic)!…

BRASIL (QUASE-)NAÇÃO
Bahia, Feira de Santana
Messias Franca de Macedo