domingo, 23 de junho de 2013

O lugar da presidenta Dilma

Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

Observadores variados descobriram uma melodia única para avaliar o pronunciamento de Dilma Rousseff, ontem, quando a presidente falou sobre os protestos e a baderna.

Eles cobram novidades – sem dizer quais – e reclamam medidas espetaculares – sem dizer o que teriam em mente.

Esse pessoal não entendeu nada. O pronunciamento de Dilma, um pouco demorado demais, talvez, esteve a altura do momento em que o país se encontra depois que milhões de pessoas foram às ruas. Sua virtude é não trazer novidades nem anunciar medidas espetaculares. O país, em 2013, não precisa disso, vamos combinar. O grande espetáculo se encontra nas ruas.

Num ambiente de semi-insurreição, onde reivindicações justas e urgentes se misturam a proclamações autoritárias e atos contínuos de violência arruaceira, cabe a presidente da República mostrar que assume suas responsabilidades, lembrando que o país possui uma Constituição, que ela tem a obrigação de defender pelos meios de que dispõe.

São valores teoricamente velhos, tão antigos como o regime republicano, de 1889.

Na conjuntura atual, são afirmações atuais e indispensáveis. Não precisamos de lances de marketing. Precisamos afirmar valores consistentes e fundamentais, como democracia, progresso social, Constituição.

A atitude de Dilma ajuda a recordar que os brasileiros usufruem do mais amplo regime de liberdades publicas de sua história e que essa conquista deve ser preservada. Lembra que seus poderes presidenciais emanam do povo. Foi um pronunciamento presidencial, de quem fala para o país inteiro – e não para os aliados do governo nem, exclusivamente, para os brasileiros que foram às ruas.

São referências importantes após quinze dias de baderna urbana – carros incendiados, vidros quadros, roubos, ataques a edifícios públicos – e baderna ideológica, com perseguição e porrada em militantes de partidos políticos, faixas que pediam golpe militar e atitudes fascistas.

A presidenta não fez ameaças diretas, mas ficou implícito – felizmente – que se sente inteiramente a vontade para usar o monopólio da violência – que é um direito do Estado – quando for necessário. Num momento em que se multiplicam atos de puro banditismo, condenou a arruaça e a irracionalidade. Mostrou disposição muito maior para ouvir e negociar.

Para quem passou os dois últimos anos criticando a falta de diálogo do governo com a sociedade, Dilma anunciou que irá abrir as portas para dialogar com manifestantes, com entidades e sindicatos. Vai ouvir, considerar e ponderar. Se cumprir o que disse, seu governo assumirá um novo perfil político a partir de então.

Para quem imaginava que os protestos iriam paralisar o governo e transformar a presidente numa órfã política, Dilma avisou que está ativa. Mostrou disposição para ouvir a voz das ruas como nenhum antecessor jamais o fez. Mas sabe seu lugar e sabe muito bem para que foi eleita.

Essa é a mensagem real do pronunciamento.

O resto é crítica de cinema.

6 comentários:

Anônimo disse...

Perfeito.
Inclusive, li pessoas dizendo que Dilma deveria ter detalhado mais algumas consideração, e ao mesmo tempo diziam que o pronunciamento foi longo demais...!!
Claudio Freire

Marcos disse...

A mensagem real na sua visão. Foi um pronunciamento gravado, vazio e produzido por marketeiros...

Marcos disse...

Mensagem real ao seu ver. Para mim foi um pronunciamento vazio, feito por marqueteiros e sem ações claras em relações as principais reinvidicações. E além disso, Como o estado pretende punir a corrupção? que explicação foi aquela dos gastos da copa, até agora não entendi?

Ignez disse...

Excluindo o vídeo que mostra a elite raivosa e reacionária da Barra xingando a Presidenta na hora de seu pronunciamento, todas as pessoas que ouvi, gostaram da fala dela. Um pouco de "conspiração": tudo ocorreu depois da visita do vice-presidente estadunidense ter se encontrado com a Presidenta, Michel Temer e Sérgio Cabral (RJ). Também esteve por aqui este o "Exterminador do futuro" Arnold Shwznneger(?), o ex-governador da Califórnia... Que uruca foi essa que trouxeram para o Brasil?!!!

José Carlos Soares disse...

A Globo News até que tentou fazer com que os telespectadores que iriam assistir ao pronunciamento não o fizessem. Pois, a 02 minutos do início da fala da Presidenta, ela colocou no ar o tal vídeo daquela patricinha radicada nos EUA - Carla Dauden, a fim de sugerir que os incautos telespectadores preferissem o vídeo fascista ao pronunciamento.Mas me parece que a audiência do pronunciamento foi muito alta.

Benjamin Eurico Malucelli disse...

Perfeito! Nada mais a acrescentar.