segunda-feira, 3 de junho de 2013

Politização da Parada do Orgulho LGBT

Por Igor Carvalho, na revista Fórum:

“Manda bala gente, começa essa Parada”. Dessa forma, a ministra da Cultura, Marta Suplicy, começou a 17º Parada do Orgulho LGBT 2013. Com o tema “Para o Armário Nunca Mais, União e Conscientização”, o evento durou mais de seis horas e justificou a fama de maior manifestação do gênero no mundo.

O prefeito Fernando Haddad (PT) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB) estiveram na avenida Paulista para prestigiar o ato. Nos camarotes também estavam vereadores da capital paulista, entre eles o presidente da Câmara Municipal, José Américo (PT), a vice-prefeita Nádia Campeão (PCdoB) e o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ). A presença dos políticos reforçou o cunho politizado do evento.

Em entrevista coletiva, antes da Parada, Haddad disse que “existe amor em São Paulo” e lembrou outros povos excluídos para pedir liberdade à comunidade LGBT. “Assim como os homossexuais, os judeus, os cristãos, os negros e as mulheres já tiveram que defender seus direitos ao longo da História. Quem não compreende isso terá que se render aos fatos. O ser humano nasceu para ser livre e será livre.” O prefeito acompanhou a Parada de dentro do primeiro trio elétrico.

Para Alckmin, a “riqueza de São Paulo está em sua diversidade.” O governador lembrou que as estatísticas tem apontado para o aumento da violência contra os homossexuais. “A injustiça cometida contra um cidadão é uma ameaça a toda a sociedade”

Os personagens da rua

A resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), do último dia 14, que determina que cartórios do Brasil são obrigados a realizar casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo, já está sendo utilizada. “Estamos muito felizes, demos entrada nos documentos há duas semanas, em outubro nos casamos em definitivo” afirma Marcelo Honorato, que se casará com Júlio César.

“Fomos muito bem tratados no cartório e nem precisamos lembrar à eles da lei”, explicou Júlio César. O taxista Valmir Alencar também formalizará a união com o parceiro. “Eu e Tiago estamos juntos faz 8 anos, agora podemos ter os mesmos direitos que qualquer casal, isso nos resguarda.”

Além de celebrar recentes conquistas do movimento, militantes aproveitaram a visibilidade para divulgar causas. Renato Silva, coordenador da Associação Brasileira de Homens Trans, apresentou a ONG durante o evento. “Damos tratamento psicológico, instruímos sobre como conseguir os documentos, trocar de nome e falamos sobre a utilização dos remédios. Por conta da ausência do Estado, ainda temos que fazer esse trabalho.”

A transexual Bianca afirmou que somente neste anos de 2013 já foi agredida duas vezes. “Não denunciei porque nada acontece. Somos vítimas de violência todos os dias em São Paulo.”

O estilista José Roberto Fernandes chamou a atenção na avenida Paulista ao aparecer fantasiado de Papa. “Sou católico e revoltado com essa igreja. Se eles tivessem o mesmo empenho em expulsar os pedófilos que tem para perseguir os gays, estaria faltando padre.” O protesto bem humorado gerou dezenas de pedidos de fotos.

Daniela e o pastor

Daniela Mercury assumiu que não dormiu bem “durante uma semana” por conta de sua apresentação na Parada. Recentemente, a cantora baiana tornou público seu casamento com a jornalista Malu Verçosa e se tornou musa do movimento LGBT.

Após cantas “Paula e Bebeto”, de Milton Nascimento, que diz em seu refrão “qualquer maneira de amor vale à pena”, Daniela atacou o presidente da Comissão Nacional dos Direitos Humanos e Minorias, o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP). “Se a gente já tirou um presidente, não é possível que um governo mantenha na comissão alguém que não nos representa. Vamos usar o nosso poder cotidiano, isso é ser cidadão.”

Segundo a Polícia Militar, 400 mil pessoas passaram pela avenida Paulista e nenhuma ocorrência grave foi registrada. Até 19h15, a organização do evento não havia divulgado sua versão sobre a presença do público.

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