terça-feira, 5 de agosto de 2014

Banqueiros retiram o bode da sala

Por Altamiro Borges

Após as denúncias de sabotagem contra a economia e de interferência ilegal no processo político, o Santander enviou na semana passada carta aos seus correntistas lamentando os transtornos causados. O banco espanhol garantiu que as suas análises são feitas “sem qualquer viés político ou partidário” e anunciou a demissão do analista que enviou circular aos clientes “select” da instituição com críticas à orientação econômica do governo Dilma. O “humilde” pedido de desculpas deve esfriar a chiadeira contra os banqueiros – que só tiveram a solidariedade da mídia rentista e do cambaleante Aécio Neves. Com isso, o bode fedorento foi retirado da sala e os bancos continuam a cometer seus crimes contra a economia nacional.

Segundo relatório do Banco Central divulgado na semana passada, os juros cobrados pelas instituições financeiras são os maiores desde 2011. Apesar da queda da inadimplência, a taxa média nas operações de crédito ao consumo subiu de 42,5% ao ano, em maio, para 43,0% em junho. No final de 2013, ela era de 38% ao ano. Desde dezembro, o “spread bancário” nesse segmento do crédito cresceu 5,54%. No capitalismo sem risco que impera no país, o “spread” é o seguro garantido aos bancos para casos de calotes e de despesas extras. No mesmo período, o custo do dinheiro para as instituições financeiras recuou 0,5%. E ainda há quem duvide que o Brasil é o paraíso dos banqueiros!

O aumento dos juros aos consumidores e do “spread” bancário tem relação com as expectativas dos agiotas do mercado de queda da taxa básica de juros, a Selic. Após sucessivas altas, a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve o índice no mesmo patamar de 11% ao ano. Como não podem especular com novas elevações da Selic, os banqueiros utilizam outros expedientes para manter seus altos rendimentos. Os balanços financeiros confirmam a alta lucratividade dos bancos no país. Segundo reportagem de Fabiana Lopes, do jornal Valor, o lucro do setor segue em alta, apesar do ambiente de baixo crescimento do conjunto da economia.

“O aumento dos spreads, a inadimplência mais baixa e o controle de custo são fatores que devem ter ajudado os quatro maiores bancos listados a registrar lucro maior no segundo trimestre. A média de sete projeções obtidas pelo Valor aponta lucro líquido ajustado, sem considerar itens extraordinários, de R$ 11,9 bilhões, com alta de 11,9% ante o mesmo período de 2013 e de 0,4% em relação ao último trimestre. O resultado deve ser sustentado principalmente por Bradesco e Itaú Unibanco, enquanto Santander e Banco do Brasil devem mostrar desempenho mais fraco, repetindo o cenário do trimestre anterior”. Outro fator apontado pelo jornal é o ganho com as absurdas tarifas bancárias.

No caso do Bradesco, segundo maior banco privado do país, o relatório oficial já foi divulgado. Ele fechou o segundo trimestre com lucro líquido contábil de R$ 3,778 bilhões, o que representa um aumento de 28,1% sobre o mesmo período do ano passado. O lucro ajustado, que exclui itens extraordinários, subiu 27,7% e alcançou R$ 3,804 bilhões, superando as próprias projeções da instituição financeira. “Analistas consultados pelo Valor esperavam que o banco tivesse lucrado R$ 3,561 bilhões de abril a junho”. Apesar dos altos lucros, os agiotas ainda fazem terrorismo sobre a situação da econômica do país com nítidos propósitos político-eleitorais. Dá para acreditar?

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