quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A mídia e as urnas: qual o desfecho?

Por Jaime Sautchuk, no site Vermelho:

Às vésperas das eleições de 5 de outubro, dizer que a grande mídia põe as manguinhas de fora seria condescendência. Afinal, as posições já estão tomadas faz tempo. Agora, porém, as manipulações se acentuam, seja na definição das pautas dos noticiários ou na condução de debates e entrevistas.

A Rede Globo realiza esta semana entrevistas com os candidatos à presidência da República, no programa “Bom Dia Brasil”. Por sorteio, a primeira entrevistada foi a candidata Dilma Rousseff, que mal conseguia responder às perguntas, tal a constância de interrupções dos três entrevistadores. Não deixar responder é técnica conhecida.

Mesmo assim, Dilma conseguiu mostrar que os perguntadores usavam, por exemplo, dados sobre a economia mundial que não batiam com os de organismos internacionais. Quase chegou a um bate-boca com a jornalista Míriam Leitão, conhecida partidária das ideias e políticas de FHC e de seu afilhado Aécio Neves.

Este, aliás, foi o candidato entrevistado no dia seguinte, num clima completamente diferente. Ele teve espaço à vontade para dizer o que bem entendesse, sem as interrupções intempestivas do dia anterior. Mesmo mostrando que, a 12 dias das eleições, ainda não tinha um plano de governo a apresentar. Só desceu o cacete em Dilma, com argumentos que seriam facilmente contestáveis, mas não o foram.

A Globo parece não ter aprendido com o escândalo das eleições de 1989, que levou Fernando Collor à presidência. A manipulação de debate, às vésperas daquele pleito, teve comprovada influência em seu resultado. A empresa chegou a pedir desculpas, anos depois, por aquele feito, mas repete a postura facciosa sem mais nem menos.

É certo que a Globo não está sozinha na campanha aberta anti-Dilma e anti-PT, no plano nacional. Não precisa ser filiado ao partido, nem cientista político para perceber isso. E em quase todos os estados, a trama se repete, em relação às eleições para os governos locais, tendo sempre emissoras afiliadas à Globo na linha de frente.

Nesse processo há, contudo, um aspecto positivo.

Essa descarada partidarização da grande mídia acaba fortalecendo o grande debate em curso no Brasil sobre o papel dos meios de comunicação. Mesmo que qualquer avanço nesse campo dependa de alguma forma de participação direta da sociedade, já que o Congresso Nacional, em sua ampla maioria, está contaminado (ou intimidado) pelo sistema em vigor.

Vale lembrar que é essa mesma mídia que se beneficia do dinheiro público, investido em publicidade pela administração direta, autarquias e empresas estatais. Do bolo total, que é da ordem de R$ 1,8 bilhão por ano, só a Globo abocanha cerca de 30%, segundo dados da Secretaria de Comunicação da presidência da República (Secom).

Ou seja, é a grande mídia, já estabelecida e mamando nas tetas do Estado desde sempre, que dele se beneficia. Só que essa verba deveria servir justamente ao surgimento de novos veículos, novos canais pra quem tem o que dizer e segue calado, por falta de recursos.

Nos dias atuais, a Internet abre alguma possibilidade, via redes sociais, mas até certo ponto. Aumentou bastante o volume de recursos investidos em veículos internéticos. Mas, mesmo ali, a grana fica concentrada nos grandes portais, alguns dos quais pertencem aos próprios grupos que já dominam os meios tradicionais.

Além do mais, manter um blog ou uma página na Internet também tem seu custo, que não é desprezível e, ao contrário, é quase sempre inatingível por quem teria o que dizer ou informar, mas não tem caixa. E assim o tratamento dado à informação permanece uniforme, seguindo a linha ideológica da grande mídia.

A questão central, contudo, ainda é o tamanho dos conglomerados de comunicação. No Brasil, vale tudo. Uma mesma empresa pode ter rádio, TV, jornal, revista, provedor de Internet e o que mais quiser numa mesma região. Nos Estados Unidos, exemplo de democracia nesse campo, quem tem um tipo de veículo não pode atuar nas outras modalidades em um mesmo espaço territorial.

Isto, sem contar que em todo o mundo, a rigor, os canais de rádio e TV são considerados serviços de utilidade pública. Dependem, pois, de concessão dos governos para sua operação. Há quatro anos, por exemplo, a Globo renovou suas concessões por mais 20 anos.

Esses movimentos são, no entanto, de mudanças para o futuro. Para as eleições que se avizinham, valem as regras atuais. Só nos cabe observar.

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