domingo, 21 de dezembro de 2014

O interesse geopolítico contra a Petrobras

Por Darío Pignotti, no site Carta Maior:

“Há vários interesses geopolíticos interferindo na crise da Petrobras”, afirma Luiz Gonzaga Belluzzo, ao lembrar que as petroleiras norte-americanas ficaram de fora da exploração de uma enorme reserva da área do pré-sal onde estão presentes companhias chinesas, associadas à estatal brasileira.

O professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e eventual assessor da presidenta Dilma Rousseff analisa o escândalo em torno da operação Lava Jato a partir de um ângulo geopolítico e econômico, evitando o alarmismo da velha imprensa, que parece interessada em “modificar o regime da partilha e voltar ao de concessão”, segundo afirmou em entrevista à Carta Maior.


Mar de fundo

“Claro que tudo isto que acontece na Petrobras tem importância geopolítica. Acredito que os Estados Unidos não se conformem em terem ficado de fora da exploração do campo de Libra, no leilão do ano passado, vencido por um consórcio de petroleiras chinesas, e todo o mundo sabe que a China quer disputar novos leilões na área do pré-sal, fortalecendo sua presença”.

“A crise da Petrobras tem que ser compreendida em meio a um quadro maior, que é o problema global do petróleo, envolvendo a Rússia e as pressões feitas recentemente contra a Rússia, tentando encurralar o governo de Putin. Me parece difícil que as potências ocidentais consigam fazer a alma russa ceder”.

Dilma

“É absurdo vincular de algum modo a presidenta Dilma com a corrupção. É inaceitável que setores da oposição, setores da sociedade brasileira digam essas coisas que na verdade são conseqüência de não aceitarem que foram derrotados nas eleições. Isso é desconhecer o voto popular, isso é golpismo”.

Petróleo, Rússia e Brics

“Eu não sei se este escândalo é em represália pela participação brasileira nos Brics, o que sei é que a posição do Brasil nos Brics é algo que os Estados Unidos e a Europa olham atentamente. Quando alguém fala com funcionários internacionais, contam as pressões que o Brasil sofreu relacionadas ao banco de fomento e ao acordo do fundo de contingências dos Brics, que é uma espécie de novo FMI (acordos assinados neste ano na cúpula dos Brics de Fortaleza).

Se este fundo já estivesse em funcionamento hoje, talvez pudessem mitigar as pressões cambiais que a Rússia sofre e que estão afetando o Brasil também. As pressões de certos grupos são fortíssimas para que o Brasil se separe dos Brics e também do Mercosul, que estará reunido nesses dias na Argentina. E querem empurrar o Brasil para fazer um acordo com a União Europeia, que eu chamo de ‘volume morto da economia mundial’. Eu não digo que é preciso se separar dos Estados Unidos e da União Europeia”.

Petrobras e empreiteiras

“O peso da Petrobras e das empreiteiras na formação de capital fixo é fundamental no Brasil, então o que eu tenho manifestado é o temor de uma paralisia maior na economia. Existe o risco de que seja introduzido um fator depressivo em uma economia que se está comprometendo o corte de gastos e a austeridade com o novo governo.

É preciso saber discernir entre os eventuais crimes que tenham ocorrido e permitir que as empresas empreiteiras continuem operando porque não é possível substituí-las. Elas têm uma memória técnica muito importante, participaram em todas as grandes obras de infraestrutura desde o regime militar”.

“É preciso evitar um problema sistêmico, se a Petrobras continuar neste impasse, isto vai prejudicar as empresas provedoras da Petrobras, que já estão estranguladas e não estão cobrando”.

Hipocrisia

“Há muita hipocrisia no modo como a mídia trata a crise no Brasil. Fala-se com muito alarmismo da Petrobras e não se diz como agiram os norte-americanos diante da crise do subprime, foi um problema muito maior que o da Petrobras. Alguns bancos receberam multas pesadas, alguns executivos foram sancionados penalmente, foram menos do que aqui, mas ao final, os americanos preservaram as estruturas.

O Congresso introduziu mudanças nas leis financeiras para proteger os bancos e os depósitos. Foi um projeto redigido pelo Citigroup. E, frente a tudo isto, ninguém se escandaliza e ninguém fala de corrupção”.

Abutres

“Quando a justiça dos Estados Unidos intervém na crise da Petrobras diante das demandas dos advogados que patrocinam os acionistas, estamos vendo um procedimento estranho, parecido com o que aconteceu com os fundos abutres e a Argentina.

Claro que há acionistas da Petrobras na Bolsa de Nova York, os ADR são emitidos em Nova York, mas acredito que tudo isto seja um pretexto para poder levar o caso à justiça norte-americana”.

Capitalização estatal

“O governo teria que capitalizar a empresa, que está muito desvalorizada, seu valor de mercado está muito longe de seu valor patrimonial. O preço das ações da Petrobras está diminuindo aceleradamente porque as bolsas se movem seguindo as expectativas de curto prazo, e eu acredito que se enxergassem em longo prazo, o prelo das ações não teria uma queda tão significativa”.

Polícia

“As estruturas encarregadas de “vigiar e punir”, como dizia Foucault, como é a polícia federal, agem sem cuidar das estruturas empresariais fundamentais.

Isso é inevitável no Brasil. Aqui, a Polícia Federal e as polícias estaduais estiveram sempre sintonizadas com certos grupos políticos, com a imprensa e com setores do Poder Judiciário. É assim que o sistema funciona, e os membros da polícia atuam individualmente seguindo esta lógica. Não é pela maldade ou pela vontade deste ou daquele delegado, é o mecanismo existente que faz com que a investigação seja feita sem que se leve em conta as consequências que isso terá para o conjunto da sociedade”.

Globo

“O que se lê na cobertura do Globo é que eles querem transformar o regime de partilha que está em vigor pelo de concessão que se aplicava antes. Mas não se justifica um regime de concessão porque agora não há riscos para os privados porque as reservas já estão descobertas, seus recursos já estão estimados. E tudo isto é para tirar o controle da exploração da Petrobras e passar para as empresas petroleiras estrangeiras. Acredito que também querem trazer as construtoras estrangeiras, em especial as construtoras norte-americanas.

Esses grupos de imprensa sempre atacaram a Petrobras, desde a sua criação (1953).

Toda a imprensa brasileira, salvo o jornal Última Hora, esteve visceralmente contra a Petrobras e atacou a campanha “O Petróleo é Nosso”.

(As palavras de Belluzzo sobre o lobby da Globo a favor das empreiteiras norte-americanas ficaram em evidência em uma coluna de Carlos Alberto Sardenberg, que propôs a formação de um programa similar ao PROER dos anos 90, para socorrer e depurar as empreiteiras e ao mesmo tempo permitir que estas se associem a empresas estrangeiras).

Maria das Graças Foster

“Acredito que não possamos subestimar o problema da corrupção na Petrobras, que mostra que houve falta de controle de suas autoridades. Essa corrupção enfraquece a empresa. Tenho a melhor impressão de Maria das Graças Foster, acredito que ela não esteja envolvida em nada, mas me parece que a direção da Petrobras deveria sair para conter a crise. Acredito que ela deveria ser substituída por um empresário ou por um militar.

Vou lembrar algo que parece meio desagradável, mas a verdade é que o Exército sempre teve um compromisso com o petróleo, por isso eu designaria uma militar democrata sério para administrar a Petrobras, isso daria credibilidade.

Há muitos militares democráticos?, perguntou Carta Maior.

“Sim, há. É preciso lembrar que o processo de criação da Petrobras contou com o apoio do exército. O golpe de 64 fez com que esses militares nacionalistas perdessem peso. Não se pode generalizar quando se fala dos militares. Depois do golpe, houve um grupo comprometido com a tortura, mas houve outro grupo que não estava. Por isso acredito que haja militares nacionalistas que agora podem dar uma contribuição com a Petrobras”.

2 comentários:

Igor_ disse...

2015 nem começou e o PIG segue firme e forte com seu imundo trabalho ultra seletivo de bombardear o PT. O PIG segue seu plano 100 % planejado, proposital de tentar derrubar o governo do PTO PIG também vai uma hora ou outra querer atingir, prestem atenção nisso, querer envolver Lula e Dilma em escândalos. Pois esse é o objetivo do PIG. Tirar o PT do poder. Nada é por acaso nesse caso da Petrobras muito estranho isso não mesmo ? O PIG age em conformidade também a interesses $$ estrangeiros que querem a Petrobras mão beijada para eles. E é por isso que está acontecendo como a Petrobras não é mesmo ?
Querem também que o Brasil volte a ser dependente do FMI ou seja uma volta ao atraso total.
Querem o brasil como uma eterna colônia que financie os países ricos, afinal juros altos por aqui nos já pagamos não é mesmo ?
OBS: A verdade é uma só: o preço pela falta da democratização/ regulamentação da mídia que o PT deixou de fazer pode ser bastante alto não é ?. E o PT ainda parece morrer de medo do PIG pois nada faz de concreto para se defender de tantos ataques seletivos que sofre diariamente por parte da mídia..

Emanuel Cancella disse...

Petrobrás sofre o maior ataque desde sua criação
Operação “Lava a jato” não passa de uma grande farsa para destruir a Petrobrás
A Petrobrás foi criada na maior campanha de rua que este país conheceu, na década de 40/50, quando foram criados comitês em todos estados brasileiros e em milhares de municípios. Naquela época o petróleo era um sonho e não existia televisão muito menos a internet.
Na ocasião, as multinacionais de petróleo americanas e européias se contrapunham à criação da Petrobrás e ao monopólio estatal do Petróleo. Sessenta e um anos depois a Petrobrás se firma diante da sociedade brasileira, pois além de abastecer todo o país de derivados de petróleo, financiar com seus impostos 75% das obras do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC, com tudo isso a empresa ainda é a que mais investe na área social e cultural.
Além disso, no governo Lula, os petroleiros desenvolvem tecnologia inédita no mundo propiciando a descoberta do pré-sal, que já produz 700 mil barris de petróleo por dia, o suficiente para abastecer países como Uruguai, Paraguai, Bolívia e Peru. Mesmo com todo esse êxito a Petrobrás sofre o maior ataque desde sua criação.
A “Operação Lava a Jato” da Policia Federal é composta por dois delegados federais que fizeram campanha para o candidato do PSDB, Aécio Neves, inclusive nesse blog, chamaram o ex-presidente Lula de “anta’; e o chefe da Operação, juiz Sérgio Moro, também atuou na AP 470, conhecida como “Mensalão do PT”, e cuja mulher advoga para o PSDB.
Tudo isso tem a ver pois José Serra, candidato do PSDB, em telegrama em dezembro 2009, apesar dos desmentidos em texto revelado pelo Wikileaks, Serra se comprometeu a entregar o pré-sal para as multinacionais. O então candidato diz para a petroleira dos EUA, Chevron: “Nós mudaremos de volta”(ao modelo antigo favorável às multis). A ideia do tucano era de derrubar nova legislação pró-país e pró- Petrobrás caso ele vencesse as a eleição.
Lógico que a “Operação Lava a jato” está tentando fazer o que Serra prometeu. A Operação já escandalizou o país prometendo ao doleiro principal envolvido na corrupção da Petrobrás, Alberto Yossef, liberdade e uma polpuda recompensa.
Junto com a operação “Lava a jato” está a grande mídia, principalmente a Globo que, nas privatizações no governo de Fernando Henrique Cardoso, na década de 90, comparou a Petrobrás a um paquiderme e chamou os petroleiros de marajás, os petroleiros revoltados chegaram a realizar ato de protesto na porta da emissora. A história mostrou que a Petrobrás e os petroleiros tinham razão.
E agora para deixar mais claro seu envolvimento na farsa contra Petrobrás, a Globo dá ao juiz Sérgio Moro o título de personalidade do ano de 2014.
Até quando a Policia Federal vai ocupar a Petrobrás? Diga-se de passagem, é esse mesmo Ministério Público e Policia Federal que não apuram vários crimes emblemáticos no país tais como a sonegação do imposto de renda da Globo na transmissão da Copa do Mundo de 2002, o escândalo do metrô de São Paulo, que envolve 3 governadores do PSDB; que fingem desconhecer a denúncia da “Lista de Furnas” que envolve em propina o juiz Gilmar Mendes e dois candidatos à presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha do PMDB/RJ e Paulo Delgado do PSB/MG.
Será que não estaria na hora de prender de verdade os corruptos e corruptores envolvidos no escândalo da Petrobrás, confiscar seus bens, e deixar a Petrobrás trabalhar em paz pelo país? Ou a intenção não é prender ninguém e sim destruir a imagem da Petrobrás com denúncias diárias para privatizá-la, como tentou o presidente Fernando Henrique Cardoso, e também como prometeu o candidato José serra, ambos do PSDB?

Emanuel Cancella é diretor do Sindipetro-RJ e da Federação Nacional dos Petroleiros.
Rio de Janeiro, 29 janeiro de 2015;