terça-feira, 6 de janeiro de 2015

2015: ano de diálogo e combate

Por Wladimir Pomar, no site Correio da Cidadania:

O significado da vitória de Dilma em 2014 é muito mais problemático do que a vitória de Lula, em 2002. Por um lado, a correlação política de forças é mais desfavorável do que a dos períodos anteriores. A direita burguesa conseguiu fazer com que alguns milhões de beneficiados pelas políticas governamentais de transferência de renda acreditassem em sua campanha anti-petista. E seus candidatos até hoje não desceram do palanque, com seus setores mais reacionários tentando mobilizar os brasileiros a apoiar um terceiro turno sem urnas, e transformar a Operação Lava Jato em processo exclusivo contra o PT e o governo Dilma. Em vários setores da população, enraíza-se a suposição de que, com a democracia, aumentaram a violência urbana e os casos de corrupção, supostamente inexistentes durante a ditadura militar.

Como coadjuvante dessa situação, o PT ainda não conseguiu sair de seu defensivismo, evidente em sua paralisia até mesmo quando a situação se apresentou favorável, como no sucesso da Copa do Mundo. Até hoje o PT não foi capaz de reconhecer publicamente seus erros, nem adotar medidas de impacto que revertam o quadro de descrédito em que se encontra. Por exemplo, o que impede esse partido de tornar pública uma decisão de que não mais aceitará contribuição de empresas em suas campanhas eleitorais? Ou que, além dos presidentes, governadores e prefeitos eleitos, seus deputados e senadores não mais poderão concorrer a mais de dois mandatos? Ou que está afastando os dirigentes e militantes envolvidos em processos judiciais referentes à corrupção, de modo a não atrapalhar as investigações e demonstrar sua decisão de expulsá-los, caso as acusações de confirmem?

O mesmo se pode dizer da área de comunicação do governo, que é incapaz de desmentir até mesmo as mais absurdas acusações propaladas pelo oligopólio midiático e de demonstrar como esse oligopólio distorce fatos e evidências. Como a presidenta pode ser acusada de chefe de quadrilha num programa de TV e não adotar qualquer medida judicial, ou utilizar seu poder constitucional para fazer um pronunciamento público de repúdio?

Ao invés de entender a liberdade de expressão como ações de busca da verdade, com pelo menos dois lados, a comunicação governamental tem medo de ser acusada de atentar contra a tal liberdade ao se contrapor às inverdades e invencionices. Bem vista essa situação, compreende-se por que a primeira disposição de Dilma foi sugerir o diálogo, sugestão de cara repelida pelos principais representantes da direita reacionária.

Por outro lado, apesar de todos os confusos sinais do cenário atual, as condições para a mobilização social são muito mais favoráveis do que nos últimos 12 anos. A ralé, a classe trabalhadora assalariada e setores da pequena-burguesia urbana, embora ainda não de forma consistente, colocaram em pauta a prioridade de solução da mobilidade urbana, saúde, educação, segurança e alimentação sem repiques inflacionários. As ruas colocaram em evidência a intensa luta de classes urbana, e os problemas urgentes que precisam ser solucionados para que um desenvolvimento econômico e social de novo tipo seja efetivado. Efetivação que somente a esquerda pode proporcionar.

No entanto, as aspirações populares tanto podem empurrar a direita para seu gueto, quanto desbancarem a esquerda, possibilidades que se evidenciaram na campanha eleitoral de 2014. O PT pode não ser capaz de criar, juntamente com as demais correntes de esquerda, uma pauta comum de luta para conquistar as ruas e levar o governo Dilma a adotar uma estratégia de desenvolvimento que tenha como eixo os investimentos produtivos, em especial na agricultura familiar de alimentos e na indústria de não-duráveis. Isto, para combater a inflação através do aumento da oferta, perseverar no crescimento dos empregos e dos salários e gerar recursos para resolver as graves lacunas da saúde, saneamento, educação, transportes públicos, arborização e outras áreas críticas. Nessas condições, a direita pode atrair, com suas promessas mentirosas, novos setores médios e populares e colocar o governo contra a parede.

Na prática, somente com o crescimento econômico em novas bases será possível mobilizar a maior parte da população e isolar a direita. Essa é a condição para avançar no rumo de reformas democratizantes e estruturais. Reformas que, pelo menos, eliminem o financiamento privado das campanhas eleitorais, aprovem a democratização da propriedade dos meios de comunicação e institucionalizem as formas de participação social no controle e nas decisões dos órgãos políticos do país. Reformas políticas que são o primeiro passo para outras, como a agrária, a urbana, a tributária e as que fazem parte da pauta dos movimentos sociais desde muitos anos.

O Congresso eleito em 2014 só se mostrará receptivo a tais reformas, através de plesbicito e constituinte exclusiva, se elas forem bandeiras de um amplo processo de mobilização e organização de milhões de brasileiros. Não só daqueles que propiciaram a vitória eleitoral de Dilma, mas também dos setores populares e médios que acreditaram que a direita seria capaz de atender a suas demandas de mais crescimento, mais empregos, melhores condições de vida, mais direitos democráticos e mais soberania nacional.

Esses cenários dependem, portanto, em grande medida, de o PT transformar seu defensivismonum ativismo de mobilização pelo atendimento das demandas populares e democráticas, por crescimento e emprego, por mais distribuição de renda, por menos violência, menos poluição e menos discriminação. E dependem ainda, em grande medida, do governo Dilma. Isto é, de esse governo elevar rapidamente a taxa de investimento, reduzir a taxa de juros, utilizar a taxa de câmbio como instrumento de competição industrial, aumentar a produção de alimentos pela agricultura familiar, qualificar as forças humanas sem condições de acesso ao mercado de trabalho e elevar a concorrência nos setores monopolizados ou oligopolizados.

Em outras palavras, tanto o PT quanto o novo governo Dilma precisarão se tornar um partido e um governo não só de diálogo, mas também de combate. Diálogo com os movimentos sociais e com as camadas populares. Diálogo com os aliados estratégicos e táticos. Diálogo com o inimigo, para deixar claro para o conjunto da população quem quer a paz e quem quer a guerra. Mas, combate na defesa de seus feitos. Combate na comunicação, incluindo a presença constante da presidenta Dilma, do presidente do PT e do Lula na mídia escrita, falada e televisiva. Combate pela participação popular nos assuntos políticos. Combate no apoio às manifestações populares. Espírito permanente de combate, para que a militância volte a se sentir necessária e atuante.

Bem vistas as coisas, 2015 será um ano decisivo não só para o futuro da esquerda, do PT e do governo Dilma, mas também para o futuro do próprio país. Não é preciso grande clarividência para perceber o que estará em jogo nesse novo ano e quais serão os seus desdobramentos nos anos posteriores.

1 comentários:

Eduardo Lima disse...

PARA MUDAR O BRASIL PRECISAMOS... MUDAR O BRASIL!!
Precisamos de reformas estruturais profundas, que reduzam as desigualdades, que se volte mais à Classe C, espelho atual do país, e que torne o Estado acessível a todos, e não apenas a alguns endinheirados.
PELO FIM DOS ATRAVESSADORES DA NOTÍCIA. INFORMAÇÃO INDEPENDENTE! O Governo precisa substituir os “atravessadores da informação”, ou seja, a mídia tradicional, como canal para informar o povo. Fortalecer a internet, investir nos jornais e boletins de classe, jornais de igrejas, associações, etc. Enfim, pulverizar os meios de se dirigir ao Brasil. O texto abaixo reflete sobre o tema. Recomendo a leitura!
http://reino-de-clio.com.br/Pensando%20BR2.html

Saúde: diminuir as filas de espera e melhorar o atendimento. Não há problemas mais urgentes que estes. A criação de grandes centrais de exames e consultas especializadas nas regiões metropolitanas vai atender melhor a demanda. O texto abaixo reflete sobre o tema.
http://reino-de-clio.com.br/Pensando%20BR3.html

Educação: Cursinhos Pré-ENEM públicos, PROUNI para o ensino médio, Pós, Mestrado e Doutorado à distância, Mestrado e Doutorado à noite, para os trabalhadores. A Classe C deve poder dar a seus filhos a melhor educação com o menor custo. O texto abaixo reflete sobre o tema. Recomendo a leitura!
http://reino-de-clio.com.br/Pensando%20BR4.html

BANDEIRAS DA DIREITA. Algumas delas encontram eco nos medos e anseios da Classe C, que precisa ser reconquistada pelo governo, especialmente a do Centro-Sul do país. O governo pode se apossar de algumas delas como já fez antes? Como fazê-lo? É importante debater a questão? É o que o texto do link abaixo procura fazer: refletir a respeito.
http://reino-de-clio.com.br/Pensando%20BR5.html

PELO FIM DA LIBERTINAGEM DE IMPRENSA. LEI DE IMPRENSA JÁ!
A reforma mais urgente para o Brasil é a reforma dos meios de comunicação. A versão tupiniquim da Ley de Medios dos hermanos argentinos. Como deve ser essa reforma? Em nossa opinião, deve ser radical. Desconcentrar a posse da mídia, realizar concorrências públicas para concessão, exigir conteúdo local ou regional em 60% da grade, garantir o imediato direito de resposta, punir rigorosamente as falsas reportagens e acusações, etc. E você? O que acha? Nossa reflexão sobre o tema está no texto do link abaixo:
http://reino-de-clio.com.br/Pensando%20BR7.html

REFORMA JUDICIAL: O que mais precisa de reforma neste país, depois da mídia, é a “justiça”. É preciso reduzir o número de recursos, acelerar os processos judiciais, eliminar as manobras jurídicas, confinar os juízes a seus papéis, restringir sua ação aos autos. Juízes, promotores e procuradores devem ser punidos severamente se atuarem de forma seletiva, atrasarem ou impedirem investigações. Toda essa sensação de impunidade, discriminação e seletividade que emanam da “justiça” brasileira atinge em cheio a Classe C e mudar isso é um dos passos que mais vai garantir a reconquista dessa parcela da população pelo governo. É sobre isso a nossa reflexão desta semana no link abaixo.
http://reino-de-clio.com.br/Pensando%20BR6.html

A REFORMA CRUCIAL: Reforma Política. Como deve ser? A nosso ver, radical. Poucos partidos, financiamento público. Não ao voto distrital em qualquer de suas formas. Voto nos partidos, com as vagas no legislativo atreladas à eleição majoritária. Listas partidárias e fidelidade. Fim da reeleição ilimitada para o legislativo, etc... O texto do link abaixo reflete sobre o tema:
http://reino-de-clio.com.br/Pensando%20BR8.html