segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Grécia e Brasil em caminhos opostos

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Por Luiz Carlos Azenha, no blog Viomundo:

Seria irônico, não fosse trágico, que o governo Dilma tenha abraçado a austeridade no momento em que ela começa a ser rejeitada na Europa.

Nos dois casos, o que há por trás da encenação política é o interesse dos banqueiros.

No Brasil, representados pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, eles querem manter intacto o duto que lhes reserva uma parcela considerável do Orçamento, na forma de juros.

No nosso parlamentarismo improvisado, enquanto a presidenta levantava o punho esquerdo cerrado na Bolívia ao lado de Evo Morales, para inglês ver, Levy dava tapinha nas costas em Davos, para banqueiro ver.

A encenação de Dilma, diga-se, é puro João Santana. Bom de ver, mas enganador quando o essencial é seguir o dinheiro.

Na Grécia o que está em jogo é a capacidade dos banqueiros, especialmente dos alemães, de extrair cada centavo do PIB local para fechar suas contas, independentemente do sofrimento causado.

Na BBC de Londres, um comentarista foi direto ao ponto quando disse que o grande temor é de que, com a vitória do Syriza, uma Grécia fora do euro recupere-se a ponto de servir de exemplo para outros paises que sofrem com a austeridade, notadamente Portugal e a Espanha.

Foi assim com a Argentina quando Buenos Aires decidiu descartar as fórmulas do FMI - o que explica a contínua má vontade dos “mercados” com um país que decidiu desafiá-los.

É pouco provável que o Syriza conduza a Grécia à porta de saída do euro. Tudo indica que a Alemanha vai acomodar o novo governo, cedendo aqui e ali nos termos do programa de austeridade.

Há novas eleições importantes este ano na Europa, especialmente na Espanha, e tudo o que Angela Merkel quer evitar é uma onda anti-austeridade que implique na implosão de uma arquitetura política e econômica que beneficia, acima de tudo, a Alemanha.

Nossa esperança é de que, dirigindo na contramão, o governo Dilma não comprometa as ferramentas que permitiram ao Brasil se recuperar antes que outros paises da primeira onda da grande crise, em 2008.

Na edição da revista Time que faz uma projeção sobre 2015, Ian Bremmer, presidente do Eurasia Group, descreve as dificuldades que a política externa dos Estados Unidos crescentemente enfrentará em um mundo multipolar.

Deixa claro o valor que o BNDES teve para a soberania brasileira:

“Os paises BRICS - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - em 2014 lançaram um banco de desenvolvimento com U$ 50 bilhões, uma alternativa aos bancos emprestadores de Washington. Eles não podem por si só acabar com o domínio dos Estados Unidos sobre o mercado financeiro. Mas acrescentem o Banco de Desenvolvimento da China e o Banco Nacional de Desenvolvimento do Brasil (BNDES) a uma crescente lista de instituições regionais e os tomadores do mundo não são assim tão dependentes do Ocidente. Os números falam por si. Em 2013 o Banco Mundial emprestou U$ 52,6 bilhões. No mesmo ano o BNDES emprestou U$ 85 bilhões e seu equivalente chinês U$ 240 bilhões”.

Não é preciso lembrá-los que o programa eleitoral da candidata Marina Silva era explícito ao advogar uma redução no papel dos bancos públicos, em benefício do Itaú e companhia.

Como no Brasil, ao que parece, os perdedores governam, esperemos para ver o que o primeiro-ministro Levy reserva ao BNDES.

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