domingo, 1 de março de 2015

O protesto contra a falta de água em SP

Foto: Gabriel Soares
Por Mariana Serafini, no site do UJS:

Mais de 15 mil pessoas se reuniram no Largo da Batata, na região Oeste da capital paulista, na tarde desta quinta-feira (26), e seguiram em direção ao Palácio dos Bandeirantes na grande Marcha pela Água. A mobilização encabeçada pelo MTST contou com a participação de movimentos sociais e partidos de esquerda. O governador Geraldo Alckmin recebeu uma comitiva para ouvir as reivindicações e se comprometeu em tratar com mais responsabilidade a crise hídrica para reduzir os impactos nas periferias.

Com música e bom humor os manifestantes cobraram do governador soluções urgentes para o racionamento de água que atinge as famílias mais pobres da capital paulista. O dirigente nacional do MTST, Guilherme Boulos, deixou claro quem é o responsável pela falta de água: “O foco é ele [Alckmin], o responsável pela Sabesp, pela gestão hídrica e pela crise”. Afirmou também que as manifestações vão ocupar as ruas até que a crise seja resolvida.

E explicou o objetivo da manifestação: “Em primeiro lugar, nós queremos um plano emergencial para minimizar o impacto desse racionamento que já ocorre nas periferias. Instalar caixa d’água, cisternas e poços artesianos. Além disso, é necessário ter maior transparência do governo e participação popular no comitê de gestão da crise. O movimento exige ainda o fim imediato dos contratos de demanda firme e nenhum reajuste na tarifa, isso é um absurdo”.

A coordenadora estadual do MTST, Jussara Basso, apresentou a pauta: “Exigimos que o governo minimize o impacto do racionamento que existe – apesar de ele sempre negar – nas periferias. Nós temos creches fechando as portas, escolas suspendendo as aulas, hospitais adiando cirurgias. A periferia está sendo agredida. Sabemos que grandes empresas têm ganhando descontos na conta de água. Não por economia, mas por gasto. Enquanto isso, na periferia, quanto mais for gasto, mais se paga”, afirmou.

Para o presidente municipal do PCdoB de São Paulo, Jamil Murad, o govenador age com cinismo e hipocrisia ao não admitir que a cidade passa por uma crise hídrica grave onde as pessoas pobres são as mais atingidas em detrimento do lucro de empresários donos de ações da Sabesp. “O governador, com sua política de transformar água em mercadoria, que colocou a Sabesp na Bolsa de Valores para dar lucro aos acionistas, comprometeu não a vida de uma pessoa, mas de famílias inteiras, escolas, hospitais, creches, comércios… todo mundo sofre com a falta de água”.

Mesmo sem admitir a existência do racionamento, Alckmin toma medidas drásticas que afetam diretamente a vida nas periferias. Anunciou recentemente que a tarifa da Sabesp vai aumentar e aplica multas por “excesso de consumo”, porque a prioridade é atender grandes empresas. “O governador insiste em ludibriar o povo. Considera que o povo é bobo e não consegue perceber que o erro grave é dele. Essa manifestação procura desmascarar isso”, explicou Jamil.

Compromissos assumidos sob pressão

Ao receber os manifestantes o governador assumiu alguns compromissos, mas insiste em não reconhecer oficialmente o racionamento seletivo, mesmo com a apresentação de inúmeros casos em diversas regiões que sofrem com a crise.

Alckmin se comprometeu, porém, em reeditar o decreto do Comitê de Crise, até então restrito ao governador e prefeitos, e incluir os movimentos sociais; também irá formar uma comissão para identificar os locais onde há falta de água crônica; irá implementar um sistema de distribuição de caixas d´água na periferia, construção de poços artesianos e envio de caminhões pipas nas regiões mais necessitadas; rever o contrato de demanda estabelecido com grandes gastadores e apresentar uma resposta dentro de uma semana.

Não houve comprometimento com o cancelamento de multas e reajuste da tarifa. Em nota o MTST afirma que não vai aceitar aumento na tarifa e seguirá mobilizado.

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