quinta-feira, 18 de junho de 2015

Fator previdenciário: Dilma lê a Folha

Por Altamiro Borges

Apesar da pressão das centrais sindicais e das forças de esquerda, a presidenta Dilma Rousseff decidiu vetar a alternativa ao fator previdenciário aprovada pelo Congresso Nacional – a chamada fórmula 85/95. Ao mesmo tempo, o governo anunciou que editará uma medida provisória que “introduz a regra da progressividade, baseada na mudança de expectativa de vida”. Segundo nota divulgada na noite desta quarta-feira (17), com estas iniciativas o Palácio do Planalto “visa garantir a sustentabilidade da Previdência Social”. Na prática, a presidenta cedeu novamente à pressão do “deus-mercado”, que prega maior austeridade nas contas públicas para garantir o famigerado superávit primário.

Um dia antes, como expressão da brutal chantagem rentista, a Folha publicou editorial suplicando ao governo – que o jornal tanto ataca – que vetasse a nova regra aprovada no parlamento: “Espera-se que Dilma resista à pressão sindical e, em nome da saúde das contas públicas, refute a fórmula alternativa ao fator previdenciário”. Num discurso cínico, o diário da famiglia Frias – um dos principais incentivadores das marchas golpistas de março e abril – ainda abusou da inteligência dos seus pobres leitores. “A presidente Dilma Rousseff (PT) tem hoje uma excelente oportunidade para demonstrar à sociedade que tem firme compromisso com as futuras gerações”.

A Folha ainda apela à petista para que “evite a tentação do populismo irresponsável” e confessa que a fórmula 85/95 “dificilmente teria grande impacto no curto prazo – até o fim do governo Dilma, por exemplo –, pois o mais provável é que os trabalhadores hoje próximos da aposentadoria a adiassem por alguns meses ou anos a fim de obter o benefício integral. No médio prazo, contudo, o resultado seria dramático. A população brasileira está envelhecendo. Na década de 1980, a expectativa de vida era de 62,5 anos; chegará a 78,6 anos em 2030... Calcula-se que seriam necessários gastos adicionais de R$ 3,2 trilhões para fechar a conta. Dada essa dinâmica, torna-se insustentável manter a liberalidade atual”.

Diante de tantos apelos do “deus-mercado” e da sua mídia rentista, a presidenta Dilma Rousseff cedeu novamente. Com certeza, ela não terá a gratidão destas víboras, que seguirão em campanha para “sangrar” o seu governo e, se possível, para derrubá-lo num golpe de tipo judicial. Já as centrais sindicais e as forças de esquerda, que foram decisivas para a sua reeleição no ano passado, seguirão na trincheira para evitar o golpismo da direita, mas não deverão abandonar a batalha por mudanças mais profundas no país. Um dia antes do veto, numa vigília em Brasília, cerca de 1,5 mil ativistas de todas as centrais reafirmaram que manterão a pressão contra o fator previdenciário e pela sanção da fórmula 85/95. Vagner Freitas, presidente da CUT, foi incisivo no seu discurso: “Presidenta, a senhora não precisa de uma mancha como essa na sua carreira”.

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2 comentários:

Anônimo disse...

Tem que aposentar integral como os deputados trabalha 8 anos e recebe mais de 35.000,00. Isto deveria ser para todos.

dbacellar disse...

De onde tiraram este supostos 3,2 trilhões? Isso dá 16.000 reais PARA CADA BRASILEIRO, veja bem, para cada um dos 200.000.000 de brasileiros!

No mínimo, é uma conta do tipo "custo total para os próximos 200 anos" ou, ainda, são bilhões e não trilhões, trazendo o custo para valores perfeitamente suportáveis pelas receitas da União. Lamentável, essa manipulação.