terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Canalhice e corrupção no Golpe Cunhaguaio

Por Marcelo Zero, no site Brasil Debate:

A tentativa de golpe iniciada por Cunha é de tal forma cínica, hipócrita, suja e inconsistente que precisa de um neologismo: cunhaguaio. Uma mistura, em doses iguais e cavalares, de canalhice e corrupção com inconsistência jurídica e atitude antidemocrática.

Cunha acusar Dilma é, como já se disse alhures, um sujeito acusado de tudo acusar uma presidente acusada de nada. É como se o Estado Islâmico acusasse o Dalai Lama de terrorismo. É como se Hitler acusasse Roosevelt de genocídio. É como se Judas acusasse Jesus Cristo de traição. É uma total e surreal inversão de valores.

Max Horkheimer, um dos melhores pensadores da mal chamada Escola de Frankfurt, dizia que o nazismo é a “verdade” do capitalismo, no sentido de que aquele movimento político desnudava as entranhas do sistema capitalista. Nesse mesmo sentido, Cunha é a “verdade” da nossa oposição ou de parte expressiva dela: golpista, irresponsável, antidemocrática, hipócrita e corrupta. Simbiose caricata de Carlos Lacerda com Adhemar de Barros. Entranhas malcheirosas.

A manobra chantagista de Cunha desnudou as intenções dos golpistas. Caíram as máscaras. Ninguém ali está pensando em combater a corrupção. Ninguém ali está preocupado com o Brasil. Muito menos com seu povo. Todos, como Cunha, estão ali por uma única razão: proteger seus interesses rasos e mesquinhos.

Querem simplesmente voltar ao poder a qualquer custo. Ao custo do voto popular. A expensas da democracia. Ao custo da decência. Ao custo até das aparências.

Sonham com ganhos que obterão quando privatizarem o pré-sal e a Petrobras. Salivam imaginando os lucros com futuras vendas de bancos públicos. Deleitam-se especulando sobre as taxas de lucro majoradas com quedas de salário e aumento do desemprego que promoveriam com seus ajustes draconianos e definitivos.

Fantasiam seu mundo ideal: um Brasil submisso, desigual, reacionário, autoritário, impune e pequeno. Pequeno como eles. Rasteiro como eles.

Um Brasil que dê mais lucro para uns poucos e permita mais negociatas para os privilegiados.

Um Brasil de impunidade, de engavetadores, com era antes de Dilma.

Um Brasil que feche escolas. Um Brasil que bata em estudantes. Um Brasil que coloque trabalhadores e negros em seu devido lugar. Com balas e porretes.

Um Brasil homofóbico e racista. Um país que sacrifique até gastos constitucionais com Educação e Saúde, em nome da austeridade suicida que elevará as taxas de lucro.

Um Brasil sem Bolsa Família e sem salário mínimo. Um país sem proteção trabalhista. Um Brasil sem regras e políticas que protejam os mais fracos. Um Brasil sem controle sobre os que despejam sua sujeira em nossas instituições e em nossos rios. Um país de Marianas anunciadas. Um Brasil de Doces amargos e contaminados.

Um Brasil sem pudor de ser desigual, excludente, preconceituoso e autoritário. Como era, antes de Lula e Dilma.

Um Brasil sem-vergonha. Um Brasil dos sem-vergonha para os sem-vergonha.

Um Brasil de Cunhas.

* Publicado originalmente no site Brasil-247.

1 comentários:

Unknown disse...

Dilma Rousseff contra as almas sebosas

Publicado no Brasil 247

Até aqui, o roteiro do impeachment seguiu a lógica previsível.

A iniciativa de Eduardo Cunha é consequência da pressão oportunista que ele sofreu do Judiciário, ávido para atingir os objetivos políticos da Lava Jato antes que o apuro dos tucanos esvazie a operação. A esquisita prisão de Delcídio Amaral deixou sinais de que as cortes já não conseguem lidar com a ansiedade dos bastidores investigativos.

Também o momento de prorrogação da crise obedece ao propósito original de manter o governo acuado, atingindo-o exatamente quando ele ameaçava recuperar alguma estabilidade. Por isso mesmo, recessos, “pedidos de vista” ou quaisquer adiamentos no desfecho da questão favorecem apenas o projeto reacionário.

As passeatas legalistas comprovarão seu papel decisivo no sepultamento do golpe. Nem tanto por causa da suposta resistência ao fato consumado, mas principalmente por anteciparem a força oposicionista que um novo governo enfrentaria. Esse aspecto será decisivo para o posicionamento do empresariado e do campo jurídico no embate.

O governismo agora precisa de união e iniciativa. Ambas se conquistam superando as desavenças com certa esquerda reticente e assumindo sem hesitações o pólo republicano da disputa. A mídia tentará descolar Cunha do processo para anular o antagonismo ético em jogo. Eis o ponto central da narrativa do impeachment.

Daí a importância de o Planalto não cair na armadilha de transformar Michel Temer em adversário direto. Ele é o representante ideal que o golpismo procura. Ao mesmo tempo, suas conspirações têm apelo restrito. O vice pode barganhar apenas um futuro incerto de crise e conturbação social. Dilma guarda poder efetivo, de materialização imediata.

Isso nos conduz ao fato de que a luta será decidida no Congresso Nacional. Ali não funciona brandir méritos jurídicos ou minúcias técnicas. A pressão sobre os parlamentares deve atingir os respectivos interesses nas eleições do ano que vem. Os candidatos e seus financiadores não querem passar 2016 justificando exonerações de correligionários e o apoio à chantagem de um notório contraventor.

Sabendo colocar-se como adversária da irresponsabilidade e da sordidez política, Dilma conseguirá ao menos preservar o cargo. Mas esta seria uma vitória frustrante, quase nula em médio prazo, se o governo continuar fraco e isolado. A luta abrange a preservação da agenda progressista endossada pelas urnas. O que temos adiante é o desfecho da campanha eleitoral mais longa e ruinosa de nossa história republicana.



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