sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

O saco de dinheiro do Pê Esse Debê

Por Osvaldo Bertolino, em seu blog:

Era uma vez um homem chamado Paulino Silvério Doravante Blindado, mais conhecido na intimidade pelo apelido de Pê Esse Debê, que lhe haviam posto os íntimos, servindo-se sistematicamente das iniciais do seu nome. Achando-se na condição de chantagear uma distinta viúva, conseguiu ele a chave de um cofre onde encontrou o que parecia algo de imenso valor naqueles dias de crise. Era um saco enorme, de uns oitenta quilos. Apalpou, examinou…

- Hum! É dinheiro! Só notas de cem! – exclamou. E se eu pusesse o saco nas costas e fosse embora?

Entre o pensamento e a execução da ideia medeava apenas um movimento dos braços, acompanhado de uma contração vigorosa dos músculos. O saco de dinheiro foi jogado nas costas e o Pê Esse Debê, isto é, Paulino Silvério Doravante Blindado, ganhou com ele a rua.

A manhã estava chuvosa. Ao chegar à primeira esquina, o Pê Esse Debê (Paulino Silvério Doravante Blindado) sente que o saco está pesando demais. E estava mesmo. Com a água da chuva, o dinheiro foi inchando. E logo parecia que, em vez de oitenta quilos, pesava duzentos. E o Pê Esse Debê gemia, surdo, sob o peso dele. E se atirasse aquilo ao chão? Teve o pensamento, mas não lhe veio a coragem. Além disso, não poderia perder o esforço já empregado. Iria, pois, até o fim, com aquela carga maldita, que de hora para hora pesava mais.

Ao fim de duas horas de marcha, sem ter onde descansar, o Pê Esse Debê, isto é, Paulino Silvério Doravante Blindado, resolveu tomar uma decisão: deixar o saco no meio da rua e ir-se embora. Que o dinheiro se perdesse, mas que ele, o Pê Esse Debê, se salvasse. Mas a decisão chegou tarde. O saco tinha, com a chuva, o seu peso triplicado, de modo que era impossível ao carregador atirá-lo ao chão sem risco da própria vida.

- Bonito! - pensa. - Se eu procurar livrar-me do saco, ele me cairá em cima do ombro, matando-me. E se eu continuar a caminhar, morrerei da mesma forma, esmagado por ele. E ninguém por aqui para me ajudar! Onde fui me meter!

Vai gemendo, mas vai andando.

De repente, numa esquina, surgem vultos. É uma força-tarefa da Polícia Federal. Em outra circunstância, Pê Esse Debê, isto é, Paulino Silvério Doravante Blindado, teria amaldiçoado aquele encontro. Mas, naquele momento, era quase providencial. O chefe da força-tarefa aproxima-se, acompanhado do seu pelotão.

- Alto, elemento! – impõe-lhe a autoridade.

Pê Esse Debê, isto é, Paulino Silvério Doravante Blindado, detém-se, cambaleando sob o peso do saco.

- Que é isso que leva aí? – pergunta o ríspido chefe da força-tarefa.

- Dinheiro.

- É seu?

- Não, é nosso.

- Então entregue-o à autoridade.

- Estou pronto para isso, autoridade. Faça favor de tomar conta dele.

O jovem da força-tarefa aproxima-se, resoluto. Paulino Silvério Doravante Blindado passa da sua cabeça para a da autoridade o saco de trezentos quilos e vai saindo, esgueirando-se junto à parede.

E de lá, escondido, fica espiando o esforço da autoridade para achar o culpado do desvio daquele saco de dinheiro do cofre da viúva. E o Pê Esse Debê ri da situação, porque sem a intervenção da autoridade a seu favor teria sido esmagado por aquele peso todo.

1 comentários:

Lalo disse...

Excelente texto.... teria algo a ver com a propina da compra da petroleira argentina?