terça-feira, 15 de março de 2016

Nada sobre emprego e salário na Paulista

Manifestantes em frente à Fiesp, que apoiou o Golpe de 1964
Por João Franzin, no site da Agência Sindical:

Às 14h30 do domingo, eu estava na avenida Paulista, São Paulo. Ia acompanhar mais uma manifestação – esta contra o governo. E que manifestação! Pela minha avaliação, ao final da tarde, havia em torno de 1 milhão de pessoas.

Cheguei pela rua Treze de Maio, onde já era grande a movimentação. Na Paulista, olhei à esquerda, para o começo da avenida, e vi gente chegando desde a estação Paraíso do Metrô. Muitos. Quase todos brancos. Muitos casais, cinquentões. Poucos jovens.

A primeira foto que fiz foi de um par bem branquinho, carregando um cartaz: “Lula, você não tem câncer. Você é o próprio câncer”. Pensei que aquele seria o clima da manifestação. Mais tarde, vi que não era. Logo em seguida, novo arrepio ante estandartes da antiga TFP.

Chegava gente de todo lado e as travessas também estavam abarrotadas. A cada trecho, um carro de som, tipo trio elétrico. A multidão vestia amarelo. Pessoas entregavam faixas e materiais alusivos ao mote central da marcha: combate à corrupção. Também havia adereços de mão: pequenos pixulecos, bonecos de Dilma, cartazes de apoio ao juiz Moro, faixas louvando o juiz, boneco grande representando Moro, palavras de ordem em apoio à Lava-Jato etc.

Na caminhada, ora pela via apinhada, ora pelo canteiro congestionado, ou, ainda, pelas calçadas abarrotadas, ia deparando com os bordões: Lula, ladrão; Dilma, incompetente; políticos corruptos; fora PT. Num trio elétrico, o cantor espinafrava Lula. No outro, “Polícia Federal, orgulho nacional” – aplausos calorosos à PF só perdiam para a ovação do juiz do Paraná.

Toda marcha tem seu folclore. Na de ontem, logo depois da TV Gazeta (número 1.000), uns 20 sujeitos se postavam em formação militar, mas a multidão passava sem dar atenção. Num dos trios, uma tiazinha: “Tenho 64 anos. Vivi no regime militar. Tinha ordem e segurança”. Vaiada. Também espirituosa a faixa do conde Chiquinho Scarpa: “Diga não à luta entre as classes”.

Negros

Andei toda a Paulista, passei por várias de suas travessas e, ao final, desci a Avenida Angélica até o Buenos Aires, em Higienópolis, onde moram FHC, o senador Aloysio e outros neoconservadores. Quase nenhum negro. A massa era branca e com cara de rica. Mas soft. Em todos os vários quilômetros que percorri, não presenciei um gesto agressivo. Aliás, não faltavam as expressões “desculpa” e “por favor”.

Nas travessas, o de sempre: camelôs, deserdados e pedintes. Uma camiseta “Fora, Dilma!” custava R$ 30,00 – no final da passeata já davam por R$ 25,00. Embora estivesse liberada a venda de cerveja, havia poucos bêbados. Perto de mim, atrás, colado, ao lado – pegajoso como todo pau d’água – tinha um, vestido com a camisa do Corinthians.

Jovens

Havia um certo silêncio na manifestação, quebrado por carros de som e fogos ou algum mais exaltado. Porém, dois coros reverberavam: “Fora, PT!” e “Polícia Federal, orgulho nacional”. A meu ver, o silêncio era pela pouca presença de jovens – sempre ruidosos. Mas nem por isso faltou uma garota pra espinafrar a UNE: “Não representa estudantes. Só serve pra defender o governo e o PCdoB”.

Sindicalistas

Percorri vários quilômetros e diversos pontos da marcha com Deus, aliás, do protesto contra a corrupção. Não vi sindicalistas – faixas, camisetas, carros de som etc. Já no cruzamento da Consolação para pegar a Angélica observei que havia, em quase três horas, escutado de tudo: bordões, xingamentos, louvações, esporros; menos as palavras emprego e salário.

O que não escutei o Datafolha da segunda veio explicar: a manifestação era majoritariamente de classe média alta – muitos empresários e profissionais liberais e suas donas bem nutridas, de camiseta amarela e jeans de marca.

Contra a política
Se fosse possível sintetizar a manifestação de domingo, eu diria: ato contra a política. De tanto denuncismo, de corrupção atrás de corrupção, essa faixa de brasileiros acabou incorporando a mensagem real da grande mídia – não precisa mais de políticos e de política: deixa que a gente passa as instruções.

Vaias 

Não tive a sorte, como o repórter Pedro Venceslau, do Estadão, de documentar o momento em que os tucanos foram enxotados – mesmo tratamento, aliás, dispensado à dona Marta, de quem, coxinhas – antes mesma da onda coxinhista – diziam: Martaxa. Ou: votou no PT? Toma no IPTU!

Pirâmides

Ao final da tarde, a nos lembrar do real poder das pirâmides, o prédio da golpista Fiesp projetava sua sombra sobre a concentração.

3 comentários:

Mário Silva disse...

Os coxinhas têm dois deuses: um pixuleco e um pato.

thila disse...

Oxente, só tinha patrão! Iam lá protestar a favor de emprego e salário? Mas tinha uma faixa:pobre não nasceu para fazer política e sim para trabalhar!mais ou menos assim.

Rita Lama disse...

Seu blog e fantastico, Miro! Obrigada! As vezes nao consigo entrar em algumas das 'links' - hoje, a 'link' da Agencia Sindical esta bloqueada. Nos dias 17, 18 e ate mesmo 19, diversas 'links' foram inaccessiveis. Censura?