quarta-feira, 8 de junho de 2016

A encruzilhada política de Michel Temer

Por Eduardo Maretti, na Rede Brasil Atual:

Michel Temer está numa encruzilhada. Para seu governo interino ganhar um mínimo de credibilidade e conseguir sair da crise em que está três semanas após a posse, ele teria de se livrar das lideranças políticas envolvidas em denúncias, como as relacionadas aos vazamentos de conversas envolvendo o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao Supremo Tribunal Federal a prisão do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), do senador Romero Jucá (PMDB-RR), do ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP) e do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Todos são acusados de conspirar para conter a Operação Lava Jato.

“O governo Temer só está aí porque é resultado de um pacto entre PMDB, o Centrão e a oposição tradicional, o PSDB. E o pacto tem vários envolvidos em denúncias de corrupção”, lembra a professora Maria do Socorro Sousa Braga, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).

“Renan, Cunha, Aécio Neves, Fernando Henrique Cardoso, todos aparecendo em denúncias, não vão sair facilmente de cena e do pacto porque são alguns dos principais atores de seus partidos. E como há atores de diferentes partidos na Lava Jato, que está fazendo um furacão na classe política, a verdade é que é difícil encontrar saídas se os envolvidos não saírem de cena.”

Para ela, quanto maior for a pressão popular, maior será a dificuldade do governo interino de se manter. “Nos próximos dias precisamos ver o que vai acontecer com Eduardo Cunha, para ver os desdobramentos dessa crise. Não vejo ainda muita luz no fim do túnel. Se não melhorar nem economicamente, vai ficar muito difícil (para Temer)”.

Para Maria do Socorro, ironicamente, Temer poderia conseguir algum fôlego se houver maior estabilidade econômica, pelo menos quanto a alguns fatores como inflação e balança comercial, para as quais já se esperava cenário mais positivo desde o ano passado. “Com um cenário econômico melhor, ele poderia começar a ter melhor percepção por parte da sociedade. Mas o que ele está conseguindo fazer até agora não vai na direção de melhoria. Então tudo vai depender de novos nomes envolvidos em denúncias no ministério e dos movimentos sociais indo pra rua.”

Uma eventual volta de Dilma Rousseff após o processo do impeachment ainda aponta para cenários pouco claros. Maria do Socorro lembra que parte do PT aposta em eleições gerais, ou pelo menos para eleger novos presidente e vice da República. Tanto que diversos petistas estão entre os 30 senadores que assinaram uma PEC, no final de abril, que insere um artigo no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição prevendo eleições presidenciais simultaneamente às eleições municipais de 2016.

Eleições gerais, na opinião de Maria do Socorro, não passam no Congresso. “Os parlamentares sabem das perspectivas pequenas de grande parte deles de se reeleger.”

Mas para presidência e vice, tudo depende da conjuntura e da costura de um acordo que envolva a própria Dilma. E também de novas denúncias. “A depender das delações que vêm pela frente, a Dilma também não se sustentaria. Nesse caso, se tiver eleição, Dilma e Temer precisariam sair”, diz.

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