sábado, 23 de julho de 2016

Doria espanta tucanos e “compra” aliados

Por Altamiro Borges

As bicadas no ninho são sangrentas e o PSDB segue dividido para a disputa da prefeitura paulistana em outubro. A própria mídia tucana noticiou nesta semana que Geraldo Alckmin “convocou” quatro governadores tucanos e lideranças partidárias nacionais para a convenção que oficializará neste domingo (24) a candidatura do empresário-trambiqueiro João Doria Jr. Segundo o site UOL, o objetivo do convite foi “compensar a ausência de quadros paulistas históricos do partido... O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o chanceler José Serra, o ex-governador Alberto Goldman e o senador José Aníbal, presidente do Instituto Teotônio Vilela, anunciaram que não participarão do ato”.

O cambaleante Aécio Neves, que virou pó após as recentes denúncias de envolvimento em esquemas de corrupção, também não irá ao evento, mas gravou um vídeo que confirma a crise no ninho tucano. “As disputas existem e fazem bem à política, mas neste instante é hora de unidade e de concentrarmos nossos esforços em torno do candidato do PSDB”, apela o desgastado presidente nacional da sigla. Diante do esvaziamento do convescote, João Doria, o novato nas rinhas tucanas, deu uma de inocente. “Não há divisão. Não dá para classificar o PSDB como um partido dividido. Quem faz o PSDB são seus filiados. O PSDB cada vez menos é um partido de caciques”. Risível!

A revolta dos tucaninhos

Nas últimas semanas, o governador Geraldo Alckmin e o seu filhote até tentaram curar algumas feridas internas. No final de junho, João Doria se reuniu pela primeira vez com a direção da Juventude do PSDB. Não se sabe o que ele prometeu em termos de cargos e de outras benesses, mas parece que a negociata não deu em nada. Segundo matéria publicada pela Folha na ocasião, “o encontro foi protocolar e o ceticismo de ambas as partes se mantém”. Logo após as prévias internas da sigla, que tiveram cenas patéticas de brigas e resultaram na desfiliação de Andrea Matarazzo, “o vereador das abotoaduras de ouro”, os jovens dirigentes tucanos se rebelaram e denunciaram a compra de votos na eleição de João Dória.

O presidente da Juventude do PSDB, Rodolpho Barbosa, e outros tucaninhos chegaram a sofrer pedido de expulsão da legenda. Houve também a tentativa de intervenção na instância partidária. Nas redes sociais, o presidente municipal da sigla, Mario Covas Neto, o “Zuzinha”, atacou sem piedade a “juventude rebelde, traidora e comandada por interesses pessoais” e prometeu retaliações – talvez com o corte de cargos e de outras regalias. Sua fidelidade deve até render a candidatura à vice na chapa de João Doria. A escolha de um dirigente do próprio partido, porém, pode gerar descontentamento nas nove legendas que se aliaram ao PSDB – a maior coligação entre os pré-candidatos de São Paulo.

Loteamento no Palácio dos Bandeirantes

Para compensar a falta de ânimo de vários tucanos – da juventude aos “quadros históricos do partido” –, o governador Geraldo Alckmin agiu com desenvoltura e transformou o Palácio dos Bandeirantes em um balcão de negócios. A própria Folha atestou, em 8 de julho, que “Alckmin negocia cargos com partidos por apoio a João Dória”. Segundo a matéria, assinada por Thais Bilenky, o governador disse que “daria uma secretaria ao PV, uma ao PP, outra possivelmente ao PHS, e que contemplaria diferentes partidos menores como o PMB... Contando PPS e PSB, aliados ao governo estadual, ele fechou uma coligação que garantirá pelo menos 20 minutos de tempo de TV a Doria. O PSDB ainda negocia com o PSC e o DEM”.

A Folha tucana ainda tentou aliviar a barra dos tucanos, ouvindo o “outro lado”. Segundo a reportagem, “o governo e Doria negam trocar cargos por alianças. O pré-candidato diz que se coliga por questão ‘programática’. Alckmin, em nota, disse que ‘não existe qualquer relação entre a administração pública e a lógica eleitoral. A escolha de secretários obedece única e exclusivamente a critérios técnicos voltados ao interesse público’”. Mas, pelo jeito, nem a jornalista acreditou nesta bravata. Ela lembra que o nome indicado pelo PMB para ser adjunto da Secretaria de Turismo, Jaime Fusco, foi “advogado de traficantes” no Rio de Janeiro. Baita “critério técnico voltado ao interesse público”.

Admirador da ditadura volta ao governo

Mas neste loteamento de cargos, o “picolé de chuchu” só fez questão de ser “programático” ao nomear um admirador da ditadura militar para o cargo de Secretário de Meio Ambiente. Ricardo Sales, fundador do movimento Endireita Brasil que já havia sido assessor particular de Geraldo Alckmin entre 2013 e 2014, foi empossado nesta segunda-feira (18) após o seu partido, o PP, ter aderido formalmente à pré-candidatura de João Doria. Em 2013, durante palestra no Clube Militar, o fascistoide fez duros ataques à Comissão da Verdade. “Não vamos ver generais e coronéis, acima dos 80 anos, presos por causa dos crimes de 64. Se é que esses crimes ocorreram".

Na época, o escritor Marcelo Rubens Paiva, filho do deputado Rubens Paiva, torturado e morto pelo regime militar, exigiu retratação de Geraldo Alckmin. Para evitar maiores desgastes políticos, o governador tucano – que sempre manteve íntimas relações com seitas direitistas – optou por retirá-lo do Palácio dos Bandeirantes. Agora, no balcão de negócios instalado para a disputa eleitoral na capital paulista, Ricardo Sales retorna ao convívio do chefão do PSDB. Na sua primeira entrevista como Secretário do Meio Ambiente, o líder do Endireita Brasil – que já foi filiado ao PSDB e ao DEM e hoje milita no PP de Paulo Maluf – voltou a expressar a sua visão fascista, ao afirmar que o MST “não tem mais razão de existir”.

Processo na Justiça Eleitoral

Apesar da “compra” de aliados, a situação do filhote de Geraldo Alckmin segue complicada. Na semana retrasada, o Ministério Público Eleitoral questionou um jantar ocorrido em junho de apoio ao candidato tucano. O promotor Carlos Bonilha informou que já tem “fortes” elementos para entrar com ação na Justiça contra João Doria por abuso de poder econômico. O jantar, ocorrido na casa de eventos Club A, teve um custo de R$ 60 mil e foi bancado pela empresa de segurança Gocil, associada ao Grupo Lide. A nova legislação eleitoral proíbe contribuições financeiras de pessoas jurídicas. Se for acolhida pela Justiça, a ação do promotor pode levar à cassação da candidatura do empresário-picareta.

Carlos Bonilha ainda juntou à ação os depoimentos do senador José Aníbal e do ex-governador Alberto Goldman, ambos do PSDB, e do vereador Adolfo Quintas (PSD), sobre a compra de votos de filiados nas prévias tucanas. Ao Ministério Público, o vereador afirmou que João Doria deu até R$ 5 mil aos apoiadores da sua pré-candidatura. O filhote de Geraldo Alckmin também teria oferecido transporte para os filiados comparecem às prévias e feito propaganda irregular, o que teria sido documentado em fotos. E o promotor também analisa se houve abuso de poder político na pré-campanha. Os indícios seriam o uso da imagem do governador Geraldo Alckmin e as denúncias do loteamento de cargos no governo estadual.

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