quinta-feira, 11 de agosto de 2016

A corrupção e a seletividade da mídia

Foto: Felipe Bianchi
Por Felipe Bianchi, no site do Centro de Estudos Barão de Itararé:

Na noite da segunda-feira (8), em São Paulo, o jornalista Paulo Moreira Leite e o advogado Ricardo Gebrim, da coordenação da Consulta Popular, participaram de debate sobre mídia, política e corrupção no Brasil. Segundo eles, a seletividade dos grandes meios de comunicação na cobertura e denúncia de casos de corrupção é um grave problema para a democracia e serve a interesses estritamente privados.

“A preferência da mídia”, afirma Paulo Moreira Leite, “é notadamente por escândalos que envolvam o campo público, como as empresas estatais”. A finalidade, conforme opina, seria desmoralizar a coisa pública para viabilizar os projetos de privatização. “O combate à corrupção de fato não interesse ao capitalismo”, acrescenta Ricardo Gebrim.

A entrega do patrimônio nacional à iniciativa privada, segundo o advogado, também é um dos principais fatores por trás do processo de impeachment em curso no país. “Alterar o marco regulatório do petróleo e promover privatizações são alguns atalhos para alimentar um capitalismo em crise”, opina. “Essa é uma das funções do golpe em curso”.

O domínio quase hegemônico da opinião pública pelos grandes meios de comunicação é um problema, avalia Gebrim, na medida em que passa a ser decisivo para o jogo político. “As classes médias são historicamente mobilizadas pelo tema da corrupção, no Brasil e em todo o continente”, pontua. Fazer essa cobertura de modo seletivo atende a interesses, para ele, atende a interesses de setores bastante específicos.

Autor de livros como A outra história do mensalão e A outra história da Lava-Jato, ambos publicados pela Geração Editorial, o jornalista Paulo Moreira Leite mostra, nas obras, como a atuação partidarizada dos meios de comunicação pode distorcer a realidade e aplicar dois pesos e duas medidas distintas no tratamento da corrupção.

Simbolizado pela heroicização do juíz de primeira instância Sergio Moro, o jornalista também mostra como tem ocorrido uma espécio de conluio entre o poder judiciário e a imprensa nas investigações, interferindo diretamente na agenda política do país. “Há uma pressão evidente contra partidos de esquerda e, especialmente, contra Lula e o Partido dos Trabalhadores. São denúncias feitas de forma extremamente arbitrárias”, avalia.

Sobre Moro, o jornalista acredita que o juíz tem colaborado para mobilizar as pessoas para uma agenda fascista. Os grandes meios de comunicação, segundo ele, têm endossado e reverberado essa perspectiva de Moro como uma espécie de ‘salvador da pátria’, ainda que demonizando uns e inocentando outros.

Defensor da tese de que é ilegal o processo de impedimento de Dilma Rousseff, Gebrim recorda os golpes em Honduras e no Paraguai, nos anos de 2009 e 2012, respectivamente, tem tudo a ver com o que se passa no Brasil.

“O que ocorreu nos dos dois países foi uma espécie de laboratório para essa nova forma de golpe, consolidado sob um manto judicial”, argumenta. Os oligopólios de comunicação, em todos os casos, têm sido decisivos na tentativa de legitimar os processos e, quase sempre, a seletividade no combate e na denúncia da corrupção é a chave para a derrubada de governos democraticamente eleitos.

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