segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Fittipaldi e a velocidade nas marginais

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Por Helena Sthephanowitz, na Rede Brasil Atual:

O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), segue em sua agenda para distrair a plateia com muito marketing e pouco governo. Depois de prometer, durante a campanha eleitoral, doar seu salário para uma “associação de crianças defeituosas” e causar polêmica ao cogitar extinguir a Secretaria da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida, Doria andou de cadeira de rodas neste domingo (22) para tentar simular problemas que os cadeirantes costumam enfrentar na capital.

A preocupação, sem marketing e sem demagogia, com políticas públicas para pessoas com deficiência é necessária. São Paulo é a cidade com maior número de cadeirantes; apesar de haver soluções de acessibilidade em muitos pontos da cidade, a dificuldade ainda é muito grande principalmente na periferia – onde o marqueteiro Doria não chegou ainda.

Mas um dos pontos que torna a preocupação do prefeito os cadeirantes demagogia pura é a decisão de aumentar os limites de velocidade nas marginais Tietê e Pinheiros. Segundo dados do IBGE, os acidentes de trânsito são a maior causa de paraplegia.

Para convencer os paulistanos que velocidades nas marginais da capital paulista não causam acidente ou morte, o tucano Doria contratou o bicampeão de Fórmula 1 Emerson Fittipaldi como garoto-propaganda. O mesmo Fittipaldi, embaixador em programa da Federação Internacional de Automobilismo que pede redução de velocidade (FIA). E que em 2012 foi ao Palácio do Planalto, junto com o presidente da FIA, Jean Todt, e o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, para apresentar à presidenta Dilma Rousseff uma campanha pregando internacionalmente a segurança no trânsito, com redução de velocidade em grandes cidades.

“Desde seu lançamento em 2011, a campanha FIA Action for Road Safety tem sido entusiasticamente festejada pela comunidade do automobilismo e por figuras conhecidas, como Lewis Hamilton, Sebastian Vettel, Emerson Fittipaldi, Michael Schumacher, Sébastien Loeb, Yvan Muller e Monisha Kaltenborn, que têm firmemente dado apoio à mensagem (…)”, diz Fittipaldi na campanha publicitária publicado pela própria FIA em seu site oficial. Segundo a campanha, “uma redução de 5% da velocidade média diminuiria o número de acidentes fatais em 30%”.

“Como piloto de F1, e ainda mais agora como campeão do mundo, sinto que tenho a responsabilidade de promover uma condução segura fora da pista”, declara à campanha o piloto da Mercedes Lewis Hamilton.

A contradição de Emerson Fittipaldi pode levantar suspeitas: à prefeitura paulistana, Emerson deve mais de R$ 50 mil em IPTU. Estaria Fittipaldi fazendo propaganda em troca do perdão? Na sexta-feira (20), o juiz Luiz Manuel Fonseca Pires, da 4ª Vara de Fazenda Pública de São Paulo, proibiu o aumento de velocidade nas marginais.

“Quando programas políticos provocam resultados estatísticos favoráveis, tornam-se precedentes administrativos que só podem ser modificados com estudos e substancial fundamentação, afirmou o Fonseca Pires, ao conceder liminar em ação movida por entidades da sociedade civil, entre elas a associação Ciclocidade. Segundo ele, em seu despacho, a redução da velocidade encontra-se em um contexto de política pública relacionada à mobilidade urbana e que resultou em “acentuado declive dos casos de morte”, e para alterá-lo é necessária “fundamentação contextualizada” das razões pelas quais a política deve ser interrompida”, como entendeu o juiz.

Confusão do público com privado.

Depois de se vestir de gari, prestar zeladoria, plantar árvores e atacar Lula... Doria pede verba a empresários por “almoço-debate” do próprio prefeito. Presidente do grupo empresarial Lide, João Doria está pedindo contribuições de empresários para organizar uma palestra. Mas, conforme informou na quinta-feira (19) a Folha de S.Paulo, o palestrante é o próprio Doria.

O tema da palestra? “O impacto de uma gestão eficiente na cidade de São Paulo.” Os presidentes das empresas que pagarem uma cota de “copatrocínio” de R$ 50 mil terão direito de se sentar à mesa principal com o prefeito.

O curioso é que quem está à frente do Lide agora, com a ida de Doria para a prefeitura de São Paulo, é Luiz Fernando Furlan, o mesmo que foi ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior no governo Lula. Ou seja: as palestras de Lula – a quem Doria chamou de maior “cara de pau” do Brasil – são criticadas e frequentemente alvo de suspeitas. Mas Doria prossegue com as suas, e ainda chama um ex-ministro de Lula para estar à frente da instituição que promove e arrecada para suas palestras.

Pega bem essa espécie de “ação entre amigos”?

1 comentários:

Anônimo disse...

Emerson Fittipaldi se prestar a isso !?
É o fundo do poço.