quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Quando a burrice está no poder

Por Bepe Damasco, em seu blog:                                                                        
O desempenho do governo golpista, além de reafirmar o caráter tacanho, mesquinho, antipopular, antinacional e entreguista da direita brasileira, traz à tona outra não menos importante faceta do pensamento conservador brasileiro: a burrice.

Com as exceções de praxe que confirmam a regra, a indigência intelectual da nossa elite, e de seus representantes nos governos e parlamentos, é de dar dó.

Só mesmo um candidato a se alimentar de alfafa pode achar que desfrutará das delícias da vida de privilegiado com o corte de direitos sociais, trabalhistas e previdenciários da maioria de pobres que compõem a população de um país campeão em desigualdade social.

O egoísmo e o preconceito de classe embotam o raciocínio da nossa burguesia, cegando-a para a uma obviedade estelar: ela só tem a perder com a forte reação popular que se avizinha, com sério risco de convulsão social.

Se fosses dotados de um pouco mais de luzes, os endinheirados perceberiam que a cortina de fumaça levantada pela mídia para impedir que o povão enxergue que está sendo roubado acabará se dissipando, tornando impossível que a classe trabalhadora não sinta que o golpe foi dado contra ela.

Com o dinheiro mais curto, topando com desempregados aos montes na família e entre os amigos, trabalhando até 60 horas semanais, sem direito à aposentadoria e vítima do corte radical ou do fim de programas sociais como o Bolsa Família, Mais Médicos, Minha Casa, Minha Vida, política de cotas, Prouni, SUS, etc, o trabalhador não vai se conformar em voltar praticamente à condição de escravo. Aí os grã-finos que ponham suas barbas de molho.

A forma como o usurpador Temer e Alexandre Moraes, dublê de ministro da Justiça e advogado do PCC, vêm reagindo à explosão do sistema penitenciário é outra demonstração de que o covil golpista está a anos luz de um mínimo de inteligência e clarividência.

As condições degradantes a que são submetidos os internos da população carcerária brasileira (mais de 600 mil pessoas, a quarta maior do planeta) tinha que ser motivo explícito de vergonha nacional. Mas não é porque uma mistura de burrice e adesão a teses nazifascistas fazem de expressiva parcela da elite cúmplice dessa ferida nacional purulenta.

Temer e Moraes deviam saber que mais de 40% dos nossos presos sequer foram julgados e condenados e que fatores como o encarceramento em massa, fruto em larga escala do fracasso retumbante da guerra às drogas, só agravam o gravíssimo problema da superlotação das sucursais do inferno que são as penitenciárias. Isso é agravado pela política cruel e preconceituosa de atirar nas cadeias a torto e a direito ladrões de galinha e desvalidos.

Temer e Moraes deviam saber que se as penas restritivas de liberdade atingissem apenas pessoas envolvidas em crimes contra a vida, e cuja liberdade ofereça perigo à sociedade, as condições dos presídios já melhorariam significativamente; que as penas alternativas são aplicadas em proporção crescente em todos os países avançados e que é preciso pôr um ponto final na farra das prisões preventivas e provisórias.

No lugar de aproveitar a oportunidade para enfrentar o debate sobre os fatores alimentadores da carnificina nas cadeias, o que fazem Temer e Moraes? Se limitam a defender a construção de novos presídios. Alguém acha mesmo que existem poucos presídios no Brasil?

No meu estado, por exemplo, o Rio de Janeiro, além das prisões espalhadas pelos municípios, tem o complexo de presídios de Bangu, o qual, salvo engano, concentra oito presídios.

Sem o enfrentamento das causas das cenas tenebrosas de barbárie em nossos cárceres, sem que os custodiados pelo Estado tenham sua dignidade respeitada e sem que governos e sociedade entendam que a perda temporária da liberdade não justifica a negação ao condenado dos mais comezinhos direitos humanos, não haverá presídio que chegue.

Fora Temer, Diretas Já!

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