sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

A solidariedade à revolução sandinista

Enviado por Leonardo Severo:

Autor de livros sobre o papel da mídia e a América Latina, o jornalista Leonardo Wexell Severo, conselheiro do Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé, está organizando, junto com o seu irmão Leandro, ex-secretário de Comunicação de São Carlos, o livro “Nicarágua, a flor mais linda do meu querer”. O trabalho, que inclui reportagem fotográfica, relata a história da solidariedade brasileira à revolução sandinista e a luta anti-imperialista. Abaixo, uma pequena entrevista com Leonardo, que continua coletando material para a obra a ser lançada ainda neste ano.

Como surgiu a ideia do livro?

Estivemos dois meses na Nicarágua, no começo de 1987, integrando a Brigada Zumbi dos Palmares, que reuniu militantes de vários partidos e centrais sindicais, para colher café. Muitos jovens nicas - como eram carinhosamente chamados - se deslocavam para a fronteira com Honduras a fim de combater a invasão dos mercenários pagos pelo governo dos Estados Unidos. Por este motivo, nos oferecemos, voluntariamente, para auxiliar na colheita daquele que era o principal produto de exportação do país. Nas montanhas de Matagalpa, na Unidade de Produção Estatal- UPE La Pintada, convivemos um mês com camponeses nicas, com companheiros da França e da Costa Rica. Por todo o país centro-americano, éramos milhares de jovens de todo o mundo que nos somamos nesta empreitada. Depois, fomos para a capital, Manágua, onde tivemos a oportunidade de nos reunir com lideranças do processo revolucionário, conhecer operários, camponeses, religiosos, estudantes e intelectuais, e vivenciar o dia a dia das pessoas.

Por que tanto ódio dos EUA contra aquele processo de mudança?
O fato é que o imperialismo, que apoiou por décadas o clã sanguinário dos Somoza, que havia reduzido o país a um quintal ianque, nunca se conformou em ter perdido a guerra, na qual investiu bilhões de dólares, para a Frente Sandinista de Libertação Nacional- FSLN. É bastante conhecido todo o complexo jogo de poder que envolveu tráfico de drogas e de armas, como ficou evidenciado no caso Irã-Contras.

De onde veio o nome do livro?
“Nicarágua, a flor mais linda do meu querer” pegamos emprestado da belíssima canção de Carlos Mejía Godoy, que até hoje, passados 30 anos, emociona pela intensidade das recordações que carrega. É um termo carinhoso que lembra primavera, beleza, sentimento, esperança. Resgata o significado daquela experiência de afirmação da Pátria Grande com a qual sonharam Bolívar e Sandino.

Neste período em que vocês estiveram por lá, o que mais chamou a atenção?
Ali pudemos ver com nossos próprios olhos o resultado da criminosa intervenção estadunidense, a devastação econômica, conhecer filhos que perderam pais e mães, e pais e mães que perderam seus filhos, incorporar a dor de todas as mortes e horrores causados pela covardia dos invasores. Além de reafirmar a importância da luta anti-imperialista, o livro busca resgatar uma das mais belas páginas escritas pelo nosso povo, em particular pela nossa juventude, que se somou de forma desprendida e abnegada em apoio a um processo que serviu de referência para toda uma geração.

De que forma a obra dialoga com o Brasil de hoje?
Num momento de intensa desideologização, em que um governo entreguista até a medula utiliza os grandes conglomerados de comunicação para vender sua pauta de privatização e retrocessos, buscando matar os sonhos e enterrar a palavra rebeldia, o livro pretende fazer um relato que grite em cada página, mais do que o verbo lutar, o verbo vencer. Sempre apontando que a unidade, a mobilização e a consciência são o que abre caminho para a vitória.

Quem tiver algum material deste período, como fotos e recortes de jornais, pode colaborar com o livro?
Claro. Estamos conversando com vários brigadistas e recolhendo fotos e histórias do período, pois o objetivo é passar a visão mais ampla possível do que foi aquele movimento de solidariedade. Não queremos falar apenas a respeito do que vimos lá, das dificuldades encontradas e superadas. Queremos também mostrar a verdadeira batalha que foi o deslocamento, desde a dificuldade para levantar a grana da viagem. Os dilemas familiares também não foram poucos, pela complexidade da situação, pois, em anos anteriores, brigadistas foram assassinados pelos mercenários a soldo dos EUA. Relataremos também o retorno, os debates, a manipulação da mídia, enfim, toda a riqueza e as contradições de um processo que marcou profundamente as nossas vidas.

Contato pelo e-mail leonardowsevero@yahoo.com.br

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