segunda-feira, 6 de março de 2017

Uma nova onda macartista nos EUA

Por Antonio Martins, no site Outras Palavras:

Você acredita nas “matérias” e comentários cada vez mais frequentes na velha mídia, segundo as quais Putin aliou-se a Trump para influenciar as eleições norte-americanas? Então leia, por favor, um artigo (http://bit.ly/macartismo) publicado há uma semana, em The Nation, por Stephen Cohen, editor associado à revista e professor emérito das universidades de Princeton e Nova York. Abismado com o volume gigantesco de propaganda anti-russa nos jornais e sites norte-americanos (inclusive “alternativos”), Cohen concentra-se em dois pontos.

Primeiro, ele desconstroi, um a um, os seis “argumentos” que supostamente “demonstrariam” a aliança. Trump fez elogios a Putin? Saiba, então, o que Roosevelt falou de Stálin, e o que Bill Clinton disse de Boris Yeltsin — inclusive comparando-o (favoravelmente…) a George Wasgington e Abrahan Lincoln. Hackers russos ligados ao Kremlin invadiram o servidor de emails do Partido Democrata? Fora a lenda, não há evidência alguma a este respeito — e sobram sinais de que as mensagens comprometedoras a Hillary Clinton foram vazadas por gente de seu entorno, ou pelas agências de espionagem dos próprios EUA.

Cohen não pára por aí. Ele busca identificar os três grandes interesses por trás da onda de alegações vazias. 1) A ala de Hillary Clinton no Partido Democrata. Obstinada em conservar o controle sobre o partido, ela quer fugir da responsabilidade pela derrota humilhante, atribuindo-a a um “poder externo”; 2) O complexo industrial-militar e as agências de “informação”, que se opõem, por interesse e ideologia, a qualquer perspectiva de paz com Moscou; 3) O Establishment político em geral, preocupado em manter a “democracia” tutelada por dois partidos que, no essencial, em nada divergem - e assustado pela emergência de ousiders como Trump e Bernie Sanders.

O texto põe o dedo na ferida: a onda de ataques à Rússia é a volta de um velho cacoete norte-americano: o macartismo, tentativa de atribuir os males nacionais à ameaça “comunista”. Não importa que Moscou já não seja vermelha: o fundamental é encontrar um inimigo externo. Cohen termina com um desafio: “quem vai frear o novo macartismo, antes que ele se espalhe em definitivo e atinja a ‘alma da democracia’, tão reverenciada pela esquerda e os liberais”?

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