quinta-feira, 29 de junho de 2017

Que querem os irmãos Marinho?

Por Marcos Coimbra, na revista CartaCapital:

Considerando que aqueles que têm fortuna maior vivem e atuam fora do País, não é exagero dizer que os três homens mais ricos do Brasil são os irmãos Marinho. Juntos, de acordo com os últimos levantamentos, possuem uma riqueza estimada em 11,3 bilhões de dólares. Agregando sua fortuna à influência que exercem controlando a indústria nacional de comunicação, os Marinho são os bilionários mais poderosos que temos. Suas empresas entram na vida da quase totalidade dos brasileiros, todos os dias, durante várias horas.

É tanto dinheiro e tanto poder que, até muito recentemente, eles preferiam ser discretos, sem exibições e bravatas. Tentavam fazer como aprenderam com o pai e os avós, velhos senhores que gostavam de brincar que eram, apenas, “jornalistas”. Todos foram muito mais que isso e fizeram de tudo para preservar e expandir seus domínios, mas procuravam manter a aparência de isenção e apartidarismo adequada aos autênticos profissionais de imprensa.

O que aconteceu então com os irmãos bilionários? O que levou a família mais rica do Brasil a abandonar qualquer veleidade de ser neutra na condução de seus negócios de comunicação e a entrar de sola na luta política?

Depois de anos de convivência relativamente pacífica com Lula, os Marinho dirigiram contra ele as baterias de seus jornais, emissoras de rádio e televisão, revistas e portais de internet. Puseram em campo um exército de analistas, comentaristas e repórteres com uma única missão: destruir a imagem pessoal e política do ex-presidente. Se havia algum entre seus funcionários que discordava desse ataque, sua voz não foi ouvida. Os irmãos deixaram claro que, nas empresas em que mandam, só há uma opinião, a deles.

Essa inimizade contra Lula vem de longe, como todos lembramos. Para os três, como havia sido para Roberto Marinho, o petista sempre foi o “Sapo Barbudo” com o qual eram forçados a conviver. Terminaram por aceitá-lo a contragosto, certos de que um dia ele acabaria (e que não teriam de esperar por isso eternamente).

A guerra foi declarada quando perceberam que o horizonte do fim do lulismo, em vez de se avizinhar, tornava-se mais incerto. Não apenas porque a imagem de Lula se mostrava mais resistente que o esperado, mas por não conseguirem construir nenhuma candidatura com capacidade de derrotá-lo ou a quem ele indicasse.

Apostaram, por exemplo, que Dilma Rousseff não sobreviveria às “manifestações” de 2013 (estimulando-as tanto quanto puderam) e erraram. Anabolizaram Aécio Neves, Eduardo Campos e Marina Silva, e quem ganhou foi a petista. De 2015 para cá, a guerra para liquidar com Lula e abreviar o fim do lulismo tornou-se sem tréguas. Em nome da autoatribuída missão de fazer com que o Brasil fosse o que queriam, os Marinho deixaram de lado a discrição e sacaram os fuzis.

Soam ingênuas hoje as palavras da presidente da Associação Nacional dos Jornais em 2010, quando dizia que “os meios de comunicação estão fazendo a posição oposicionista deste país, já que a oposição está profundamente fragilizada”. O que vemos é uma imprensa que resolveu fazer política sem a mediação do sistema representativo, definindo alianças com quem escolhe e em favor de seus projetos de poder.

Demolir Michel Temer é apenas uma batalha nesta guerra. Os Marinho e seus aliados o colocaram no cargo esperando que fizesse alguma coisa para ajudá-los a vencer o lulismo. Agora que perceberam que, ao contrário, Temer os atrapalha, pretendem descartá-lo. Qualquer um serve, desde que se ofereça para realizar o governo que desejam. Leonel Brizola, em uma de suas tiradas, disse uma vez que, em dúvida a respeito de como agir em uma conjuntura complicada, bastava observar para que lado a Globo ia. O certo era fazer o oposto.

Só os tolos acreditam que os irmãos decidiram se desfazer de Temer porque se horrorizaram ao descobrir quem era. Logo eles, que cresceram e enriqueceram no mundo dos Michel Temer. Movem-se para derrubá-lo porque acham que assim aumentarão as chances de condenar Lula e preparar um cenário favorável a que vençam as próximas eleições, se consolidando no poder.

E querem consegui-lo o quanto antes, pois precisam de tempo para que tramitem os processos que encorajaram contra Lula e para que possam fabricar uma candidatura para 2018. O projeto dos atuais Marinho não é igual ao de sempre: influenciar os governos para obter vantagens. Daqui para a frente, é fazer o governo.

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