segunda-feira, 25 de setembro de 2017

O furor da extrema-direita na Alemanha

Por Tereza Cruvinel, em seu blog:

Há uma semelhança e uma diferença entre o resultado da eleição de ontem na Alemanha e a conjuntura brasileira. A conquista de 13,5% dos votos na eleição alemã pelo partido de extrema direita AfD (Alternativa para a Alemanha) foi mais uma indicação eloquente do avanço dos extremistas de direita no mundo, que se traduz aqui no Brasil pelo segundo lugar de Jair Bolsonaro nas pesquisas de intenção de voto para presidente em 2018 e pela difusão dos discursos e comportamentos intolerantes e conservadores. 

A diferença está no fato de que, mal foram proclamados os resultados, centenas de alemães saíram espontaneamente às ruas de Berlim e de outras grandes cidades protestando contra a emergência de uma força política que os remete à tragédia do nazismo e da Segunda Guerra Mundial. Aqui, nem a decrepitude do governo de Temer, acusado juntamente com seus ministros de formar uma organização criminosa, nem as ameaças explícitas de uma intervenção militar, produziram sequer fagulhas de indignação e revolta.

Com 94 dos 243 deputados, a AdD será a terceira força no Parlamento e ontem mesmo declarou sua intenção de “abrir a caça” ao governo de Angela Merkel. Pela primeira vez, um partido de viés nazista terá representação no Parlamento Nacional, o Bundestag, bem como nos parlamentos regionais, depois da derrocada do nazismo com a derrota da Alemanha na Segunda Guerra. O (antes) pequeno partido surgiu em 2013 com uma plataforma crítica à União Europeia e de lá para cá seguiu radicalizando em seu discurso racista, xenófobo e islamofóbico. 

Sua principal dirigente, Frauke Petry, derrotou a ala moderada e impôs a marcha da sigla para posições cada vez mais extremadas. Não serão tempos fáceis para a chanceler Angela Merkel, que conseguiu manter-se no cargo, embora seu partido, CDU (democracia cristã) tenha obtido uma votação aquém do espero (32,9%), não obtendo maioria parlamentar. Para completar, o Partido Social Democrata (SPD), a segunda maior força política, decidiu não mais participar mais do governo em regime de coalizão. Restou a Merkel a alternativa de negociar uma aliança com dois partidos menores, o Partido Liberal-Democrata, de centro, e o Partido Verde, de centro-esquerda.

A única notícia boa foi dada pelas forças democráticas do povo alemão, com a resposta imediata através dos protestos de ontem. Nos cartazes dos manifestações, mensagens como “Fora Nazistas”, “Refugiados, bem vindos”, “Não repetiremos a História”, “Xenofobia não é alternativa” e afins.

Aqui no Brasil, não vimos nem meia dúzia de gatos pingados protestar, na semana passada, contra a pregação de um golpe militar por um general da ativa, endossado por seu superior, o comandante do Exército, sob o silêncio acovardado de Temer.

Amanhã será lida na Câmara a denúncia contra ele e dois de seus ministros, por formação de organização criminosa, sob a indiferença geral da população, que desaprova Temer mas não sai de sua zona de conforto para exigir de seus representantes na Câmara um basta à esta situação que já rompeu todos os limites do inaceitável.

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