quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Manipulação de Temer remete ao real de FHC

Por Bepe Damasco, em seu blog:

É difícil traçar paralelos, no tocante aos respectivos conteúdos, objetivos e alcance, entre um plano econômico nacional e uma intervenção militar na área da segurança pública de um determinado estado. No entanto, no que se refere à estratégia político-eleitoral e ao massacrante apoio da mídia monopolista, são inegáveis os pontos de interseção entre o Plano Real que catapultou Fernando Henrique Cardoso à presidência na eleição de 1994 e a cartada eleitoreira e autoritária do presidente ilegítimo em 2018.

Há 24 anos, Lula liderava com folga todas as pesquisas de intenção de voto, depois de chegar ao segundo turno contra Collor no pleito anterior. Todos os institutos eram unânimes na constatação de que Lula simplesmente não tinha adversário e venceria a eleição ainda no primeiro turno.

FHC, então ministro da Fazenda e candidato a presidente, contra-atacou reunindo uma meia-dúzia de economistas conservadores ligados à PUC-Rio, os tais Chicagos Boys que fariam fortuna em seguida com a privataria tucana, em torno da elaboração do plano real.

Logo as emissoras de rádio e televisão, com a Globo à frente, passaram a bombardear os brasileiros e brasileiros 24 horas por dia sobre a única salvação possível para o Brasil. Fora do plano real, estaríamos definitivamente arruinados como nação. Os jornalões e as revistonas, claro, aderiram ao efeito manada : criticar o real equivalia a ser contra os interesses da pátria amada. Os resultados, tanto da eleição como do plano real, são de amplo domínio público. Encurtemos, pois, a história.

Chegamos ao carnaval de 2018. Odiado pelo povo, o presidente usurpador, suas contrarreformas e a entrega das riquezas do país são repudiados de norte a sul, de leste a oeste. No carnaval do Fora Temer, blocos e escolas de samba, com destaque para a Paraíso do Tuiuti, do grupo especial do Rio, romperam o cerco midiático e desnudam para o Brasil e o mundo as ações antipopulares e antinacionais do governo golpista. A vice-campeã do carnaval do Rio mostrou Temer como um vampiro a sugar os direitos históricos do povo.

Seria a gota d’água para Temer, que convencido por puxa-sacos e políticos corruptos em busca de impunidade, além de marqueteiros à caça de dinheiro fácil, resolvera se lançar candidato à reeleição, a despeito de contar com a aprovação de apenas 6% da população. Pesou também na decisão a tentativa desesperada de salvar seu próprio pescoço, uma vez que depois de 31 de dezembro, com o fim do foro privilegiado de que desfruta, são reais suas chances de terminar a vida na Papuda.

Enquanto Lula atravessa a tempestade, sobrevive à mais sórdida perseguição sofrida por um político brasileiro ao longo da história e se mantém firme na liderança das pesquisas, a direita, tal qual biruta de aeroporto, fracassa em todas as tentativas de viabilizar um candidato viável eleitoralmente. O establishment do golpe sabe que mesmo com Lula fora da disputa, ou preso, um eventual candidato indicado por ele entraria no páreo como um dos favoritos à vitória.

E, então, eureka, fez-se a luz! Por que não explorar a exasperação e o medo das pessoas diante da grave situação da segurança pública do Rio de Janeiro? Que se dane que a falência do estado e sua situação de descalabro absoluto em todas as áreas sejam obra e graça de um governo do próprio PMDB (em respeito à memória do Doutor Ulisses, me nego a tirar o P a como quadrilha que comanda o partido decidiu recentemente).

Bastou a máfia da mídia fazer sua parte no jogo sujo, inventando um Rio completamente à mercê da bandidagem e dos facínoras durante o carnaval, contrariando as estatísticas da própria PM do Rio, para que o decreto da intervenção ganhasse vida assim que a maior festa popular do país chegou ao fim. Imediatamente virou assunto praticamente único da mídia.

Mas é só no começo. Nos próximos dias, as imagens de tanques, baionetas e soldados invadindo as favelas inundarão as telinhas e juntarão gente na porta dos botecos e das lojas de eletrodomésticos.

Tudo com o objetivo de fazer de Temer o candidato com vocação para xerife que peitou o crime organizado. Nos seus cálculos, os golpistas que querem se perpetuar no governo, quem sabe até suspendendo as eleições, desprezaram elementos cruciais. Ao contrário de 1994, quando a mídia dava as cartas de forma soberana, hoje as redes sociais fazem um contraponto fundamental ao monopólio midiático. Além disso, o Brasil dispõe de movimentos sociais e organizações da sociedade civil bem mais fortes e consolidados. A escalada do arbítrio em nosso país, rumo à implantação de mais uma ditadura, será derrotada pelo povo. Não há intervenção capaz de impedir. Quem viver verá.

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