quarta-feira, 4 de junho de 2008

“Mídia livre” e a publicidade oficial




O debate sobre as verbas públicas para a publicidade será um dos eixos temáticos do 1º Fórum de Mídia Livre, que ocorrerá na UFRJ em 14 e 15 de junho. O estado brasileiro sempre estimulou, com o dinheiro arrecadado dos tributos do povo, o nocivo processo de concentração dos meios de comunicação. Getúlio Vargas foi um dos poucos que desafiou os barões da mídia ao investir pesado na Rádio Nacional e ao bancar a publicidade para o jornal nacionalista Última Hora. Já o governo Lula, que criou certa expectativa de que estimularia a diversidade informativa, não teve coragem para enfrentar a ditadura midiática e se vergou diante das bravatas do “deus mercado”.

Em 2006, o governo Lula e as empresas estatais desembolsaram R$ 1.015.773,83 – mais de um bilhão de reais – em publicidade. O recorde anterior de gastos se deu no governo FHC, em 2001, que torrou R$ 953,7 milhões em anúncios. A quase totalidade destes recursos beneficiou os nove grupos empresarias que controlam mais de 85% dos meios de comunicação no país. No caso de FHC, a “bondade” com o dinheiro público serviu para criar uma blindagem ao seu governo. Já para o presidente Lula, a ilusão da sedução foi efêmera e a verba oficial serviu para alimentar as cobras, com a mídia virando o “partido da direita” e pedindo a sua degola – o seu impeachment.

Veículos independentes à mingua

Do montante das verbas publicitárias no governo Lula, 62% foram para as emissoras privadas de televisão, 12% para as rádios, 9% para os jornais, 8% para as revistas, 1,5% para a internet, 1,5% para outdoors e 6% para outras mídias. Somente a onipotente TV Globo abocanhou mais de 60% dos recursos da televisão. Já os três principais jornalões do país (Folha, Estadão e Globo) ficaram com o grosso da verba publicitária do setor. A ditadura midiática, que prega o “estado mínimo” e critica os gastos públicos, iria à falência sem os recursos oficiais, como já reconheceu em artigo insuspeito o colunista Fernando Rodrigues, homem de confiança da famíglia Frias.

Enquanto os poderosos grupos privados mamam nas tetas do estado, os pequenos produtores de mídia e os movimentos sociais enfrentam um calvário para manter seus veículos. Publicações de qualidade correm o risco de fechar. É o caso da Adital, que faz uma das melhores coberturas da América Latina, segundo relata Ermanno Allegri. Já a Agência Carta Maior, que se notabilizou por suas reportagens e análises de fôlego, teve que dispensar boa parte de sua excelente equipe. A revista Fórum só se mantém graças ao heroísmo da redação. Sindicatos, entidades estudantis, associações de moradores e rádios comunitárias não têm recursos para difundir as suas idéias.

A “covardia” do governo Lula

No campo popular e democrático da mídia, há enorme decepção com o governo Lula – inclusive de históricos petistas. O adjetivo trivial é o de “covarde” diante da ditadura midiática. Ninguém agüenta mais percorrer os corredores burocráticos do governo para solicitar verbas publicitárias. A desculpa apresentada é dos critérios do mercado, da audiência e tiragem. Na prática, o governo incentiva a monopolização do setor com recursos públicos e castra a possibilidade de estímulo à diversidade e à pluralidade informativas. Repetindo: o governo Lula alimenta cobras!

Diante deste cenário angustiante, o 1º Fórum de Mídia Livre deve adotar uma postura incisiva de crítica ao uso nefasto da verba publicitária. Mais do que isto, deve apresentar propostas concretas no sentido de romper este cerco e de superar a lógica mercadológica. Não dá para vacilar neste terreno. Afinal, a publicidade oficial é oriunda dos tributos da sociedade. Ela deveria servir para incentivar e multiplicar as publicações independentes. Nada mais justo de que ela seja usada para fortalecer os veículos dos movimentos sociais e dos produtores alternativos.
É urgente mudar a legislação sobre o tema, o que só ocorrerá com forte pressão da sociedade. Na Europa, por exemplo, vários países adotaram leis de estímulo à diversidade informativa como forma de enterrar os vestígios do nazi-fascismo e de aprimorar a democracia. Uma parte da verba publicitária do estado é carimbada para apoiar veículos independentes e para conter o processo de monopolização capitalista do setor. Até nos EUA, país venerado pelos neoliberais, existem leis para evitar a propriedade cruzada e para financiar publicações independentes. O 1º Fórum de Mídia Livre, unido as energias, deve fazer chegar ao presidente Lula este apelo democrático!

Redução da jornada: ensaio da greve geral

Numa iniciativa unitária e combativa, cerca de mil trabalhadores de 15 estados entregaram nesta terça-feira, na Câmara Federal, mais de 1,5 milhão de assinaturas em favor da redução da jornada para 40 horas semanais. O presidente da casa, deputado Arlindo Chinaglia, transformou a sessão numa audiência especial para debater o tema. Preocupados com o crescente apoio à bandeira, até os representantes do patronato se fizeram presentes. José Pastore, coordenador do programa de relações do trabalho do tucano Geraldo Alckmin e principal coqueluche do capital, afirmou que a redução inviabilizará o crescimento da economia e engessará as empresas – levou muitas vaias!


Ele foi retrucado pelo presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o coerente e corajoso economista Marcio Pochmann. Após citar o elevado crescimento da produtividade no país – o PIB do ano passado foi de R$ 2,4 trilhões –, ele comprovou que o país poderia superar o desemprego se a jornada fosse reduzida para 36 horas semanais. “Todos poderiam ter trabalho se ela fosse melhor distribuída”. No mesmo rumo, Antônio Augusto de Queiroz, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), alegou que os indicadores econômicos apontam para a necessidade e viabilidade da redução da jornada. Sem argumentos, os patrões se calaram.
A manifestação na Câmara dos Deputados reforça a campanha pela redução da jornada, liderada pelas principais centrais do Brasil (CTB, CUT, FS, NCST, UGT e CGTB). Em 28 de maio, mais de 1,5 milhão de trabalhadores participaram de passeatas, paralisações e protestos em todo país. Segundo João Guilherme Vargas Netto, consultor de diversas entidades sindicais, estas iniciativas representam o “ensaio geral para pressões ainda mais incisivas”. Para ele, está se criando o clima para a deflagração da greve nacional pela redução da jornada. “A data de votação do PEC dos senadores Paim [PT-RS] e Inácio Arruda [PCdoB-CE] pode ser a melhor para a greve geral”.