O IBGE divulgou nesta semana que produção industrial de novembro passado teve uma queda de 5,2% em relação ao mês anterior, que já havia se contraído em 2,8%. Foi a maior retração desde maio de 1995, no início do reinado de FHC, quando a produção despencou em 11,2%. Segundo o balanço oficial, a forte contração do final do ano atingiu 21 dos 27 ramos industriais pesquisados pelo instituto, o que indica que a crise capitalista mundial, detonada nos EUA, já produz os seus efeitos destrutivos em vários setores da economia nacional.
“Esta redução atingiu níveis recordes. O quadro de novembro mostra o aprofundamento da queda da produção industrial e o alargamento dos setores atingidos”, advertiu Silvio Sales, coordenador de pesquisa do setor de indústria do IBGE. Conforme relembra, em maio de 1995 a queda brusca foi puxada por um único setor, o de petróleo, em decorrência da greve dos petroleiros reprimida com mão de ferro por FHC. Agora, a retração atingiu vários setores e decorreu, basicamente, da escassez de crédito, devido à grave crise financeira mundial. Os setores mais dependentes de financiamento é que mais sentiram o baque – como o ramo automotivo, que despencou 22,6%.
Da “marola” ao tsunami
“A indústria acusou logo o golpe e os números mostram que os efeitos da crise são bem graves”, alerta Rogério de Souza, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), entidade que não se cansa de criticar a política ortodoxa de juros estratosféricos do Banco Central. Apesar das iniciativas do governo Lula para enfrentar a crise mundial, como a liberação do compulsório bancário para estimular o crédito, a falta de liquidez e as incertezas do mercado desregulado parecem já afetar com velocidade surpreendente a produção nacional.
Entre outras advertências, os números do IBGE atestam a política criminosa do BC, que mantém nas alturas a taxa de juros – num momento em que todos os bancos centrais do mundo reduzem ou até zeram suas taxas, como nos EUA. Diante da brusca queda da produção industrial será preciso ver se o presidente Lula terá coragem para seguir os conselhos do seu vice, José Alencar. Para ele, a redução da taxa Selic “não é assunto para técnicos, mas sim uma decisão política. É preciso dar ao Banco Central a ordem para que pratique taxas mais competitivas”. Do contrário, a crise mundial poderá ultrapassar rapidamente a fase da “marola” para virar um tsunami.