Com denúncias de compra de votos e de outras maracutaias, o parlamento da Colômbia aprovou em agosto o projeto de lei que permite ao presidente Álvaro Uribe disputar um terceiro mandato. A mídia hegemônica, que fez tanto estardalhaço contra as sucessivas vitórias eleitorais de Hugo Chávez e que espalhou terrorismo contra a hipotética reeleição de Lula, não deu maior destaque à corrupta aprovação deste projeto. No máximo, forçou uma comparação entre Uribe e Chávez, que não corresponde aos fatos. Na prática, a mídia dá proteção ao narcoterrorista Álvaro Uribe.
Este silêncio cúmplice causou indignação em diversos setores da sociedade. O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini, ironizou a omissão da mídia e dos histéricos líderes do PSDB, DEM e PPS. “Na reeleição de Chávez ou num terceiro mandato para Lula, sempre houve reação feroz destes setores, mas com Álvaro Uribe, um preposto dos EUA, há um silêncio escandaloso. Esse comportamento seria estranho se não fosse óbvio”, cutucou. “Esse é o posicionamento claro da grande mídia, que faz uma diferenciação dos governos alinhados com os EUA e aqueles que são voltados às demandas populares e às propostas de integração da América Latina”, observou o professor Laurindo Lalo Leal Filho, um atento observador crítico da mídia hegemônica.
Cobertura seletiva da “doce mídia”
O blog “Os amigos do presidente Lula” fez uma pesquisa no Google para evidenciar a distorção na cobertura. Ao usar as palavras-chave “reeleição Chávez”, encontrou aproximadamente 1.370 resultados só neste ano. No mesmo período, com as palavras-chave “reeleição Uribe”, encontrou apenas 598, menos da metade. Já o jornalista Renato Rovai ridicularizou no seu blog a cobertura seletiva da “nossa doce mídia”. Ela trata o presidente Hugo Chávez como “a personificação do demônio”; já Uribe, acusado de corrupção e fantoche do militarismo ianque, é um “good-boy”.
“A Câmara da Colômbia aprovou, com 85 votos a favor e cinco contra, a proposta que permite a Uribe iniciar o caminho para se re-candidatar à sua sucessão. Eram necessários 84 votos. O mais escroto (perdão, não tenho palavra mais precisa) desse processo é que dos 165 deputados colombianos, 92 estavam impedidos de votar devido a um processo na Suprema Corte de Justiça. Entre outras coisas, os processos são por evidências de que venderam seus votos para o governo. É incrível como a indignação da nossa doce mídia é seletiva”, ironizou Rovai.
Advogado do Cartel de Medellín
Em mais este episódio, a mídia hegemônica brasileira demonstra que é totalmente colonizada. É um filial das ambições imperiais dos EUA, que acabam de instalar novas bases militares no país vizinho, colocando em risco a segurança do continente. Ao relativizar a corrupção na votação do projeto ou ao comparar Chávez com Uribe, ela mente descaradamente. Ela sabe que o presidente colombiano é um ditador sanguinário, com sólidas ligações com o narcotráfico. Os “colunistas” bem pagos da mídia deveriam ler o livro “Amando Pablo, odiando Escobar”, escrito por Virgínia Vallejo, ex-apresentadora de TV e ex-amante do chefão do Cartel de Medellín, Pablo Escobar.
Em caso de preguiça “seletiva”, poderiam recuperar a entrevista dada por ela ao repórter César Tralli, da TV Globo. Na ocasião, Virgínia Vallejo lembrou que Álvaro Uribe, quando dirigiu o Departamento de Aviação Civil da Colômbia (1980/82), facilitou o tráfico de drogas aos EUA. “Pablo dizia que se não fosse por esse ‘rapaz bendito’ ele ainda estaria transportando cocaína em porta-malas de carros e nadando até Miami para levar a cocaína para os gringos... Os aviões do narcotráfico podiam aterrissar e levantar vôo diretamente para Bahamas de suas próprias pistas. Uribe tinha dado licença para as pistas e também para toda sua frota de aviões e helicópteros”.
A ignorância dos “serviçais da CIA”
Estes “colunistas de aluguel” também deveriam consultar o livro de Joseph Contreras, jornalista da Newsweek, intitulado “El señor de las sombras”. As 260 páginas desta valiosa obra são ricas em informações sobre a trajetória do narcoterrorista que preside a Colômbia. Ou, como muitos mantêm excelentes relações com a CIA, eles deveriam ler o relatório do serviço de inteligência do Departamento de Defesa dos EUA, datado de setembro de 1991 e liberado recentemente ao público. Ele lista os 100 principais colombianos envolvidos no tráfico de cocaína aos EUA.
Na página 82 do documento surge uma informação bombástica: “Álvaro Uribe Vélez, político e senador colombiano, dedicou-se à colaboração com o Cartel de Medellín em níveis elevados do governo... Uribe trabalhou para o cartel e é amigo próximo de Pablo Escobar Gaviria”. Seu pai, Alberto Uribe Sierra, chegou a ser preso e seu processo de extradição aos EUA foi negado graças à ação do filho. Um helicóptero do Cartel de Medellín foi usado no enterro do pai de Uribe. Será que os “colunistas” da mídia brasileira não conhecem este relatório revelador?
Já no que se refere à “democracia liberal” da Colômbia, tão alardeada como antítese da “ditadura chavista”, a mídia colonizada deveria, pelo menos, destacar os relatórios anuais da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que atestam que este país é um dos mais violentos do planeta. De janeiro de 2001 a dezembro de 2006, foram assassinados 2.245 líderes sindicais e outros 138 estão desaparecidos. Os jornalistas independentes também são vítimas de censura e perseguições e boa parte dos veículos de comunicação está comprometida com o ditador Álvaro Uribe. O seu vice- presidente inclusive é um dos barões da mídia na Colômbia.