quinta-feira, 25 de março de 2010

Os professores “amam” Gilberto Dimenstein



Numa das principais faixas da passeata dos professores de São Paulo, que mobilizou mais de 60 mil grevistas e virou “não-notícia” na mídia demotucana, foi possível ler: “Greve é cidadania. Dimenstein, vá pentear macaco”. Ela é assinada pela subsede da Apeoesp de Cotia e expressa o grau de revolta da categoria contra Gilberto Dimenstein, o paparicado colunista da FSP (Folha Serra Presidente), que vive desqualificando os docentes e os seus movimentos reivindicatórios.

Em recente artigo, ele babou: “Greve contra os pobres”. Ele elogia os programas de meritocracia do governo tucano e afirma, na maior caradura, que “não vou discutir aqui o pedido de aumento salarial” da categoria. Ele tenta jogar a sociedade contra os professores, mas se recusa a falar dos péssimos salários, das condições precárias das escolas e do péssimo nível de ensino, todos entre os piores do país. O artigo foi a gota d’água. Dimenstein até que poderia pintar num protesto dos grevistas para explicar suas “brilhantes” teorias sobre educação, difundidas na sua sinistra ONG.

Cobertura asquerosa da mídia

A revolta dos grevistas não se limita à figura patética do colunista da Folha, que é muito próximo do tucano Serra e do demo Kassab. Ela se estende a toda mídia privada. O Estadão, por exemplo, publicou opinião raivosa contra a categoria. “A greve do professorado paulista não passa de encenação”, atacou o editorial intitulado “greve política”. Já as redes de televisão não exibem as gigantescas mobilizações da categoria e quando tratam da paralisação, iniciada em 8 de março, é para insinuar que ela “congestiona o trânsito e atrapalha a vida do paulistano”.

Num dos piores exemplos da manipulação “jornalística”, a mídia tratou como verdade a nota da Secretaria de Educação que afirmou que a greve teria “apenas 1% de adesão”. Para justificar a farta publicidade do governo estadual, ela decretou o fracasso do movimento. Ela nem sequer se deu ao trabalho de ir às escolas para conferir a falsa declaração, que logo foi desmentida pelos protestos que reúnem mais de 50 mil grevistas. Além de abalar a imagem do tucano Serra, a poderosa greve dos professores serve para desmascarar, de vez, a mídia venal e seus colunistas de aluguel.

.

Emprego e renda crescem. É hora de ousar

O Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Socioeconômicos (Dieese) divulgou um dado surpreendente na semana passada. Em plena crise do capitalismo, que gerou uma queda de 0,2% no PIB do Brasil – não foi um tsunami, como torcia a oposição demotucana, mas também não foi uma marolinha, como despistou o presidente Lula –, 93% das negociações coletivas em 2009 arrancaram reajustes salariais iguais ou superiores à inflação medida pelo IBGE no período.

Desde o primeiro balanço realizado pelo Dieese, em 1996, o ano passado foi o melhor no que se refere aos reajustes salariais dos trabalhadores. O recorde anterior havia sido registrado em 2008, antes da eclosão da crise capitalista, quando 89% das negociações ficaram acima da inflação. O ano de 2003, ainda sob os escombros da “herança maldita” de FHC, foi o pior para as categorias no governo Lula. De cada dez negociações coletivas, seis ficaram abaixo da inflação do período.

Recorde na geração de empregos

Na mesma semana, outra informação positiva animou o sindicalismo. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, confirmaram a criação de 209.425 novas vagas formais em fevereiro. “Foi o melhor fevereiro da história de 22 anos do Caged”, comemorou Carlos Lupi, ministro do Trabalho e Emprego. Otimista, ele garante que “2010 tende a ser o melhor ano na geração de empregos na história do Brasil”.

Serviços e construção civil foram os setores que mais contrataram, o que já era esperado. O mais surpreendente, porém, foi a retomada do emprego na indústria de transformação, o que confirma as previsões sobre a arrancada da economia em 2010. Do ponto de vista político, os dados sobre geração de emprego e renda representam duro revés nos planos de retrocesso neoliberal da oposição demotucana. Como brinca o jornalista Paulo Henrique Amorim, eles significam o desejado “bye-bye Serra”.

Quadro de retomada das greves

Já do ponto de vista sindical, a retomada do crescimento cria um cenário mais favorável para a luta dos trabalhadores por melhores salários e por benefícios sociais. As empresas estão lucrando como nunca na história do país, surfando no aquecimento do mercado interno e preservando suas exportações. Várias indústrias já atingiram o pleno uso da capacidade produtiva, eliminando sua ociosidade. Muitas têm elevado a jornada de trabalho, evitando novas contratações. Elas não têm como se lamuriar das dificuldades e, sem estoques, ficam mais vulneráveis à pressão sindical.

Com a economia mais aquecida, os próprios trabalhadores elevam a sua auto-estima. Após longo período de medo do desemprego, muitos hoje pedem as contas e procuram melhores vagas. Com maior confiança, o trabalhador fica mais susceptível às mensagens dos sindicatos, mais disposto a lutar por seus direitos. Tanto que o início do ano já registra a retomada das greves, em especial no setor público, que tem sua capacidade de arrecadação elevada com o crescimento da economia.

O empurrão para a redução da jornada

A conjuntura atual, política e econômica, reforça a capacidade de pressão do sindicalismo, eleva seu poder de barganha diante do patronato e permite maior mobilização das bases. Na contramão da regressão mundial do trabalho, o Brasil tem tudo para conquistar a vitória histórica da redução da jornada – uma “reforma de caráter revolucionário”, segundo o sociólogo Ricardo Antunes. O projeto está quicando no Congresso Nacional e depende de mais um empurrão, de maior pressão, para virar realidade, o que confirmaria o quadro mais favorável à luta dos trabalhadores.

O momento exige maior ousadia do sindicalismo. É hora de chutar o balde, de exigir uma melhor distribuição dos ganhos do crescimento econômico. Do contrário, o desenvolvimento induzido pelo governo Lula, que não enfrenta os graves problemas estruturais do país, servirá para manter as distorções na distribuição de renda e riqueza. Artigo da revista “Retrato do Brasil” prova que o fosso entre ricos e pobres cresce no país, com a multiplicação dos super-ricos e da chamada alta classe média. É hora de exigir a redistribuição da renda e da riqueza. É hora de maior ousadia!

.

O papel da mídia nas eleições de 2010

Reproduzo abaixo a entrevista concedida ao Blog da Dilma e agradeço aos editores, Daniel Pearl e Jussara Seixas, pelas palavras carinhosas na abertura da matéria:


Blog da Dilma: Como você viu o crescimento da ministra Dilma Rousseff nas últimas pesquisas?

Altamiro Borges: Penso que este crescimento reflete os avanços do governo Lula e as dificuldades, ainda que momentâneas, da oposição neoliberal-conversadora. A pesquisa divulgada pelo insuspeito Ibope, um instituto com notórias ligações com os tucanos, confirma a popularidade recorde de Lula e a sua capacidade de transferência de votos para Dilma Rousseff. Mesmo ainda sendo desconhecida por parcelas do eleitorado, a ministra já é vista como continuadora do governo Lula e como uma pessoa firme, convicta e capaz de manter o rumo das mudanças e de avançar nas mudanças. Ela representa a continuidade com avanços.

Apesar das limitações e mesmo das vacilações, o governo Lula abriu um novo ciclo político no país. Na política externa, o Brasil deixou de ser capacho dos EUA – como pregava FHC com sua linha servil do “alinhamento automático” com o império – e passou a adotar uma postura mais soberana e altiva, contribuindo para a integração latino-americana e fortalecendo as relações Sul-Sul. Esta política enterrou o tratado neocolonial da Alca (Área de Livre Comércio das Américas) e evitou a entrega da base militar de Alcântara (MA) para os EUA, entre outras conquistas.

Já no front interno, mesmo sem alterar o tripé macroeconômico ortodoxo das políticas monetária, fiscal e cambial, o governo passou a jogar um papel mais ativo na economia, com um viés mais desenvolvimentista. Isto é que impediu que a crise mundial do capitalismo, uma das mais graves da sua história, atingisse em cheio o nosso país. O fortalecimento do mercado interno, fruto da valorização do salário mínimo e dos programas sociais, evitou o pior. Um crescimento mais forte gerará milhões de empregos, elevará a renda do trabalhador e reforçara a capacidade indutora do Estado – para desespero dos neoliberais de plantão.

Se forem confirmadas as estimativas de que a economia brasileira crescerá cerca de 6% neste ano, aí é que o Serra se suicida! O grão-tucano FHC, com todos seus diplomas, foi culpado por recordes de desemprego, precarizou o trabalho e reduziu a renda dos brasileiros. O sindicalista Lula, com sua sensibilidade social, enfrentou a crise capitalista com políticas mais heterodoxas, desenvolvimentistas, e gerou recordes de emprego. FHC e Serra devem morrer de inveja! Mais ainda: sabem que isto será fatal para os seus planos de retrocesso neoliberal em 2010.

Não é para menos que a oposição demotucana está desesperada. Ela não tem programa, não tem discurso e ainda está rachada. O falso discurso ético dos novos udenistas, mais sujos do que pau de galinheiro, morreu junto com presidiário demo José Roberto Arruda e com as sujeiras da governadora tucana Yeda Crusius. A crise é tão brava que Serra não consegue nem seduzir um vice. Aécio Neves já oficializou sua candidatura ao senado em Minas Gerais e deu bye-bye ao Serra. O “vice-careca” dos seus sonhos, o demo Arruda, está preso. A coisa está feia para a direita. Sua única esperança é contar com as manipulações terroristas da mídia hegemônica.

Blog da Dilma: Como deverá se comportar a mídia golpista neste ano?

Altamiro Borges: Penso que esta será uma das campanhas mais sujas e torpes da nossa história republicana. Espero estar enganado, mas os sinais são preocupantes. Recentemente, os barões da mídia se reuniram em São Paulo, num seminário organizado por um instituto direitista, a Millenium, para traçar sua tática para a batalha sucessória. Os jagunços da mídia golpista, como Arnaldo Jabor, Reinaldo Azevedo, Demétrio Magnoli e outros, deram a linha. O objetivo é bater para matar em Dilma, é acabar com a esquerda no país, como afirmou o bobo da corte da Rede Globo, o Jabor.

A orgia da Casa Millenium traçou a pauta única da direita midiática para 2010. Na sequência, a revista Veja, este panfleto dos republicanos estadunidense impresso no Brasil, já produziu duas capas para atingir Dilma Rousseff. Na primeira, utilizou como “fonte primária” um promotor que é desprezado pela própria Justiça e já sofreu vários processos, inclusive de enriquecimento ilícito e proteção de contrabandistas. Na segunda, a Veja se superou e usou como “fonte primária” um doleiro famoso, que já esteve envolvido em vários casos de corrupção – escândalo do Banestado, Operação Satiagraha e até no “mensalão dos demos” do Distrito Federal. Haja baixaria.

A tendência é que o clima piore, esquente ainda mais. Há informações de que a mesma revista já produziu reportagens tentando colar em Dilma a imagem de “terrorista”, “assaltante de bancos”. O jornal Folha, da mesma famíglia Frias que emprestou as suas peruas para transportar presos políticos para tortura durante a ditadura militar, já divulgou uma falsa ficha policial contra Dilma – o que deverá ser explorado na campanha. O esquema será do “una solo voz”, como foi rotulado pelos golpistas midiáticos da Venezuela. Uma revista semanal produz um factóide no final de semana; as emissoras de televisão, em especial a TV Globo, amplificam a denúncia para milhões de telespectadores; e os jornais diários depois municiam a oposição. O jogo será pesado.

Blog da Dilma: Por isso que você alertou num artigo para o risco do salto alto?

Altamiro Borges: Exatamente. Não dá para brincar com as elites. As pesquisas hoje são positivas: Dilma cresce de forma consistente e meteórica; José Serra sofre novas quedas e está perdido, sem programa, sem discurso e sem vice. Mas, como brinca José Simão, quem fica parado é poste. A direita não vai assistir passivamente o risco da continuidade da experiência do governo Lula. Ela não tolera a idéia de ficar mais um longo período fora do poder central. Há fortes interesses externos no país. Recentemente, o jornal britânico Guardian noticiou que os EUA torcem – e agem – pela derrota de Lula por discordar da sua política externa soberana, das suas posições sobre o Irã, Cuba, etc.

Mesmo alguns setores empresariais, que lucraram como nunca nos últimos anos, mostrarão suas garras na batalha sucessória. É uma questão de classe, de interesses políticos de classe, de ódio e preconceito de classe. Vide os ruralistas, alguns deles travestidos de modernos empresários do agronegócio. Eles estão babando. Não aceitam o comportamento mais democrático do governo diante dos movimentos sociais. Eles querem sangue, repressão, prisão. É bom analisar a lista dos apoiadores da Casa Millenium, que reúne banqueiros, industriais e o grosso dos barões da mídia.

Numa batalha desta dimensão, penso que é fundamental uma acertada política de alianças, que agregue forças e neutralize possíveis inimigos. Os palanques estaduais amplos serão decisivos. Outra questão essencial é o programa. É preciso deixar explícito o que mudou e no que se pretende avançar nas mudanças. Não pode ser uma simples continuidade. O Brasil ainda tem graves problemas estruturais. Como enfrentar a dramática questão agrária, os graves problemas urbanos, a urgente reforma tributária, a democratização do sistema político, entre outros pontos. Por último, penso que a ministra Dilma deve se aproximar mais dos movimentos sociais. Ele precisa construir uma aliança ampla, mas com um núcleo de esquerda forte.

Blog da Dilma: A aliança do PT com o PMDB beneficia ou não a candidata Dilma?

Altamiro Borges: O PMDB é um partido de centro, um “ônibus”, como dizia Ulysses Guimarães. Ele possui forte capilaridade no país – maior número de prefeitos, vereadores, governadores, deputados estaduais e federais, senadores. Ele tem o maior tempo de televisão na propaganda eleitoral gratuita. O pior que poderia ocorrer era esse partido ser atraído pela oposição neoliberal-conservadora. José Serra sabe disso e utiliza todas suas armas de sedução e cooptação. Qualquer erro de cálculo, qualquer partidismo sectário, pode ser fatal. Na atual correlação de forças, penso que o PMDB é essencial para vitória de Dilma Rousseff e para garantir governabilidade à próxima gestão.

Blog da Dilma: Quais são seus planos para nova Secretaria Nacional da Mídia do PCdoB?

Altamiro Borges: Aos poucos, a esquerda brasileira vai percebendo que a luta pela democratização dos meios de comunicação é uma questão estratégica. Não haverá avanços nas lutas dos trabalhadores, nem maiores defesas diante das ações golpistas da direita, nem a construção da perspectiva socialista sem que se enfrente a ditadura midiática, que manipula informações e deforma comportamentos. A realização da 1ª Conferência Nacional de Comunicação, no ano passado, ajudou a reforçar esta urgente compreensão. As forças de esquerda contribuíram no processo pedagógico da Confecom, que envolveu mais de 30 mil pessoas, e arrancaram conquistas importantes na conferência.

O PCdoB vem debatendo este tema estratégico faz algum tempo. Em outubro de 2007, aprovou resolução propondo medidas concretas para a democratização dos meios de comunicação. Em 2008, incluiu esta questão como uma das seis reformas estruturais que o Brasil necessita com urgência, encarando a comunicação como um direito humano e uma premissa da democracia. A militância comunista procurou, em aliança fraterna com outras forças, contribuir no processo da Confecom. A bancada dos comunistas foi a maior da chamada sociedade civil na conferência.

Em decorrência desta compreensão, o partido decidiu agora montar uma secretaria especial para tratar deste tema. Ela terá basicamente quatro funções: ajudar a construir uma militância coesa e permanente na luta pela democratização dos meios de comunicação; fortalecer os movimentos já existentes e criar novos espaços no combate à ditadura midiática; reforçar as experiências de mídia alternativa no país, que crescem com a internet, as rádios e televisões comunitárias, com a articulação de blogueiros; e ajudar no processo de formação dos comunicadores populares.

Será um desafio muito instigante, em parceria com vários atores que lutam pela democratização do setor e pela construção de mídias alternativas. Nesta luta estratégica, penso que três questões são decisivas: desmascarar a mídia hegemônica, já que não é possível democratizar os veículos dirigidos ditatorialmente pelas famílias Marinho, Civita, Frias, Civita, entre outras; construir e fortalecer os veículos alternativos, como o Blog da Dilma, que façam a disputa de idéias na sociedade; e conquistar leis e políticas públicas que ajudem a enfrentar o monopólio midiático.

.