Reproduzo artigo de João Peres, publicado na Rede Brasil Atual:
Dirigentes sindicais participantes da Conferência Nacional da Classe Trabalhadora apontam o monopólio da mídia como arma do pré-candidato José Serra (PSDB), para tentar impedir a vitória da pré-candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff.
João Felício, secretário de Relações Internacionais da Central Única dos Trabalhadores (CUT), lamenta que a gestão Lula, com mais de 80% de aprovação popular, seja tão desprezada pela mídia. Ele considera que isso é fruto da concentração da comunicação na mão de poucas famílias (Civita – Abril, Mesquita – Estado, Frias – Folha, Marinho – Organizações Globo), um quadro que precisa ser revertido para dar voz a toda a sociedade.
“Se você analisar bem o papel que a mídia tem cumprido nos últimos anos, é um papel que não contribui para a consolidação da democracia. Temos apenas uma classe que se expressa através dos grandes veículos de comunicação. Nós, que somos a classe trabalhadora, não temos o direito de expressão”, lamenta.
José Lopez Feijóo, vice-presidente da CUT, concorda que discutir a democratização da comunicação é discutir o próprio sistema político do país. Ele defende, além da ampliação do número de veículos, que a sociedade passe a ter direito a voz dentro dos meios. “Estamos assistindo a uma mídia de pensamento único engajada num linguajar e num projeto da elite brasileira onde não há espaço para que as organizações da sociedade civil se expressem. Isso é antidemocrático”, argumenta.
Em conversa recente com a Rede Brasil Atual, o sociólogo Emir Sader ressaltou que os veículos de maior penetração na sociedade estão todos alinhados aos tucanos. “Parecem intermediários viciados no diálogo entre o presidente mais popular que o Brasil já teve e a massa, a cidadania”, pontuou ao falar sobre o fracasso da política de comunicação do atual governo.
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quarta-feira, 2 de junho de 2010
A imundice da grande mídia contra a Conclat
Reproduzo artigo de André Cintra, publicado no sítio Vermelho:
Mal havia começado a Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), um jovem jornalista tomou as dores da grande mídia e foi se queixar com os organizadores. “Não deixaram a Folha e o Estadão subirem no palco”, chiava. “O acesso está restrito a toda a imprensa. O palco está lotado, não comporta mais gente”, rebateu um sindicalista. As explicações não satisfizeram o reclamante, que voltou à sua ladainha: “Mas é a Folha e é o Estadão!”.
O problema foi resolvido da melhor forma. As centrais orientaram suas lideranças a não permanecerem por tanto tempo no palco, e todos os jornalistas presentes puderem circular livremente — incluindo assessores de imprensa das entidades e repórteres da mídia alternativa, como a equipe do próprio Vermelho. Além do quê, será que Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo precisam mesmo de tratamento privilegiado para fazer coberturas tão previsíveis, saturadas e perniciosas do movimento sindical?
Nesta quarta-feira (2), um dia depois da realização da Conclat, no Estádio do Pacaembu, em São Paulo, os jornalões paulistas estamparam manchetes gêmeas. “Centrais gastam R$ 800 mil do imposto sindical para pedir voto contra Serra”, maliciou o Estadão. “Centrais gastam R$ 800 mil em ato para criticar o PSDB”, conspurcou ainda mais a Folha.
Não se trata de má vontade. É manipulação pura e simples. A mais de quatro meses do 1º turno das eleições presidenciais, a grande mídia quer sustentar um despautério: que o movimento sindical teria torrado R$ 800 mil para tão-somente criticar um partido político ou manifestar repúdio a uma pré-candidatura.
Se acaso tais intenções fossem verdadeiras, não seria mais eficaz deixar o protesto para a fase de campanha eleitoral de 2010 — que começa oficialmente em 6 de julho? Se desmascarar o ex-governador José Serra (PSDB-SP) é tudo, por que as centrais, tendo acumulado esses R$ 800 mil, não os usaram numa campanha publicitária mais massiva, que atingisse um público exponencialmente maior do que os 30 mil sindicalistas que foram à Conclat?
O movimento se fortalece
O “x” do problema para a grande mídia — mas também para o empresariado e setores conservadores do meio acadêmico — é que os trabalhadores souberam capitalizar as feições democráticas do governo Lula para acumular forças. Depois da longa treva neoliberal que se abateu sobre os movimentos sociais, estudantil, comunitário e sindical durante o governo FHC, as entidades agora saem com mais firmeza às ruas, proclamam seus direitos, lutam por suas reivindicações históricas e obtêm vitórias.
É no sindicalismo que essa projeção teve mais proeminência — e, por isso, causa arrepio nas elites. Nos últimos anos, a confluência de dois fatores — a imensa sensibilidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a unidade das centrais sindicais — resultou numa série de conquistas para os trabalhadores.
São frutos desse processo avanços como o fortalecimento do viés social de ministérios (especialmente do Trabalho) e dos bancos públicos, o incentivo a audiências e conferências nacionais, a política de valorização do salário mínimo e, claro, a legalização das centrais sindicais. Para usar a expressão mais cara a Lula, “nunca antes na história deste país” os trabalhadores tiveram tamanha relevância na hora de um presidente da República tomar decisões transformadoras.
Uma reação sem credibilidade
O Brasil do século 21, enfim, é convidativo às lutas e às conquistas sociais. Cônscias dessa realidade emergente, as elites — que têm a grande mídia como porta-voz — partem para uma campanha de desqualificação cada vez mais óbvia e vã. Convém não dar credibilidade alguma à cobertura das ações sindicais feitas por emissoras de rádio e TV, jornais, revistas e sites noticiosos. Sobram versões fraudulentas para tudo:
– Há mais sindicalistas ocupando cargos em instâncias e órgãos federais? Mero aparelhamento.
– O número de entidades sindicais cresceu nos últimos anos? É porque o sindicalismo virou um negócio dos mais lucrativos.
– As centrais fazem campanha de sindicalização? Querem só para aumentar a verba do imposto sindical.
– As greves no setor público dispararam? Crime — é preciso proibir essa barbaridade.
– O governo federal cede às pressões e concede reajustes reais elevados a setores do funcionalismo e aos aposentados? Irresponsabilidade fiscal ou forma de aliciar as massas.
– Lula compareceu às manifestações do 1º de Maio? Tudo para fazer propaganda antecipada para a presidenciável Dilma Rousseff (PT).
– A Conclat aprova uma “Agenda da Classe Trabalhadora”, com 249 reivindicações, debatidas ao longo de seis meses? É fachada para disfarçar críticas a José Serra.
Tenha dó, grande mídia! No momento em que diversas correntes do movimento conseguem emplacar a segunda edição da Conclat, 29 anos depois da primeira, levando ao Pacaembu 30 mil lideranças sindicais de mais de 4.500 entidades de todo o Brasil e de cinco das seis centrais sindicais reconhecidas pelo Ministério do Trabalho, nada mais esperável do que esta reação mais imoral. A agenda positiva do sindicalismo incomoda, e as vitórias do lado de cá nos embates entre grande mídia e movimento sindical — ou, vá lá, capital e trabalho — cristalizam as evidências de um novo tempo.
A boa notícia é que as reiteradas tentativas de criminalização dos sindicatos e de seus dirigentes passam em branco. Enquanto a grande mídia não se esfalfa de alardear a formação de um suposto “novo sindicalismo” cooptado pelo Estado, a Conclat prova que a unidade do sindicalismo é capaz de ir além das pautas pontuais — como reajuste do salário mínimo ou redução da jornada de trabalho. Pela primeira vez na história, cerca de 90% do movimento sindical se uniu para elaborar uma ampla plataforma comum aos presidenciáveis.
Só tem a perder quem se fiar nas matérias dos jornalões sobre a atuação do movimento sindical nos dias de hoje. No fundo, não importa se os repórteres a serviço da imundice se posicionem dentro ou fora dos palcos. Antes, já estão todos posicionados contra as lutas dos trabalhadores — mas ao lado de Serra e do capital.
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Diogo Mainardi vai para a cadeia?
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, negou nesta segunda-feira (31) a liminar de habeas corpus pedida pelos advogados de Diogo Mainardi, colunista da revista Veja e do programa Manhattan Connection, da Rede Globo. Ele havia sido condenado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) a três meses de reclusão por “prática de difamação e injuria” contra o jornalista Paulo Henrique Amorim, a partir de uma queixa-crime apresentada em 2006.
Na primeira instância, o pitbul da Veja e da TV Globo foi absolvido, sob a alegação de que a Lei de Imprensa estava suspensa por conta de liminar do STF. Mas o TJ-SP reverteu esta decisão, condenando-o com base nos artigos 139 e 140 do Código Penal. A pena “privativa de liberdade” foi substituída por “restritiva de direito” – pagamento de três salários mínimos a serem revertidos para entidade pública assistencial. Mesmo assim, a defesa do difamador recorreu, mas o ministro Dias Toffoli agora confirmou a legalidade da punição e não cabe mais apelação.
“Sou um conspirador da elite”
É evidente que Diogo Mainardi não será preso – talvez nem pague os três salários mínimos. Mas a decisão do STF de manter sua condenação serve, ao menos, para dar gargalhada. Há muito que este “jornalista”, expressão do que há de mais reacionário e preconceituoso na mídia brasileira, promove baixarias. Desde que deixou de escrever banalidades sobre cultura e passou a tratar de política na sua coluna semanal na Veja, em 1999, este direitista convicto coleciona inimigos.
Seus cinco livros – um deles sugestivamente batizado de “Contra o Brasil” – e dois filmes nunca tiveram repercussão, mas os seus comentários rancorosos difamaram muitas pessoas. Provocador contumaz, ele ocupou espaços midiáticos regiamente pagos para satanizar o governo Lula – “sou um conspirador da elite, quero derrubar Lula”. Prepotente e egocêntrico, ele chegou a se gabar de “quase ter derrubado o presidente Lula” e ficou furioso com seus milhões de votos na reeleição.
O tribunal macartista mainardiano
Jornalista colonizado, que detesta o Brasil e fica de quatro para os EUA, ele apoiou abertamente o genocídio do povo iraquiano. Nunca escondeu a sua adesão às idéias neocons de George Bush, chegando a atacar Barack Obama como “esquerdista”. Também aplaudiu o golpe em Honduras e adora destilar veneno contra os governos Hugo Chávez, Evo Morales e Raul Castro. Na política interna, ele é inimigo doentio de tudo que tenha alguma conotação progressista. Ele não poupa o MST, o sindicalismo e os intelectuais e lideranças de esquerda do país e do mundo.
No meio jornalístico, Diogo Mainardi é visto como um troglodita, em busca de fama e dinheiro. Também é chamado de fascista por ter criado o seu “tribunal macartista mainardiano”, no qual promove uma cruzada leviana contra profissionais da imprensa. “Minha maior diversão é tentar adivinhar a que corrente do lulismo pertence cada jornalista”, explicou ao estrear o seu “tribunal” na Veja em 2005. Seu macartismo, ao gosto dos barões da mídia, já resultou em várias vítimas.
O estrume da direita midiática
No caso mais famoso e execrável, Mainardi precipitou a demissão do jornalista Franklin Martins da TV Globo. Na guerra pública travada entre os dois por causa da lista “macartista”, a poderosa emissora preferiu ficar com o estrume da direita. O episódio revoltou os jornalistas. Um abaixo-assinado enviado à Rede Globo criticou a demissão. “Acusado levianamente por um articulista, cuja missão parece ser unicamente agredir profissionais e intelectuais com relevantes serviços prestados ao aperfeiçoamento democrático do país, Martins não teve direito de resposta”.
Segundo Alberto Dines, do Observatório da Imprensa: “Diogo Mainardi é, na feliz expressão de Luís Nassif, um parajornalista. Um dos muitos revelados nestes meses de crise. Ouviram falar de Carlos Lacerda e imaginaram que basta indignação e nenhum senso de responsabilidade para ganhar o respeito dos leitores. Seus colegas na direção da Veja ofereceram-lhe uma isca e ele, faminto de reconhecimento, a abocanhou com voracidade. Quanto mais se entrega ao delírio mais se enreda na armadilha. Há poucos meses puxava o cordão dos que mais recebia mensagens; agora nem aparece no esfarrapado Oscar semanal. O leitor da Veja já não agüenta tanta fanfarronada”.
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Na primeira instância, o pitbul da Veja e da TV Globo foi absolvido, sob a alegação de que a Lei de Imprensa estava suspensa por conta de liminar do STF. Mas o TJ-SP reverteu esta decisão, condenando-o com base nos artigos 139 e 140 do Código Penal. A pena “privativa de liberdade” foi substituída por “restritiva de direito” – pagamento de três salários mínimos a serem revertidos para entidade pública assistencial. Mesmo assim, a defesa do difamador recorreu, mas o ministro Dias Toffoli agora confirmou a legalidade da punição e não cabe mais apelação.
“Sou um conspirador da elite”
É evidente que Diogo Mainardi não será preso – talvez nem pague os três salários mínimos. Mas a decisão do STF de manter sua condenação serve, ao menos, para dar gargalhada. Há muito que este “jornalista”, expressão do que há de mais reacionário e preconceituoso na mídia brasileira, promove baixarias. Desde que deixou de escrever banalidades sobre cultura e passou a tratar de política na sua coluna semanal na Veja, em 1999, este direitista convicto coleciona inimigos.
Seus cinco livros – um deles sugestivamente batizado de “Contra o Brasil” – e dois filmes nunca tiveram repercussão, mas os seus comentários rancorosos difamaram muitas pessoas. Provocador contumaz, ele ocupou espaços midiáticos regiamente pagos para satanizar o governo Lula – “sou um conspirador da elite, quero derrubar Lula”. Prepotente e egocêntrico, ele chegou a se gabar de “quase ter derrubado o presidente Lula” e ficou furioso com seus milhões de votos na reeleição.
O tribunal macartista mainardiano
Jornalista colonizado, que detesta o Brasil e fica de quatro para os EUA, ele apoiou abertamente o genocídio do povo iraquiano. Nunca escondeu a sua adesão às idéias neocons de George Bush, chegando a atacar Barack Obama como “esquerdista”. Também aplaudiu o golpe em Honduras e adora destilar veneno contra os governos Hugo Chávez, Evo Morales e Raul Castro. Na política interna, ele é inimigo doentio de tudo que tenha alguma conotação progressista. Ele não poupa o MST, o sindicalismo e os intelectuais e lideranças de esquerda do país e do mundo.
No meio jornalístico, Diogo Mainardi é visto como um troglodita, em busca de fama e dinheiro. Também é chamado de fascista por ter criado o seu “tribunal macartista mainardiano”, no qual promove uma cruzada leviana contra profissionais da imprensa. “Minha maior diversão é tentar adivinhar a que corrente do lulismo pertence cada jornalista”, explicou ao estrear o seu “tribunal” na Veja em 2005. Seu macartismo, ao gosto dos barões da mídia, já resultou em várias vítimas.
O estrume da direita midiática
No caso mais famoso e execrável, Mainardi precipitou a demissão do jornalista Franklin Martins da TV Globo. Na guerra pública travada entre os dois por causa da lista “macartista”, a poderosa emissora preferiu ficar com o estrume da direita. O episódio revoltou os jornalistas. Um abaixo-assinado enviado à Rede Globo criticou a demissão. “Acusado levianamente por um articulista, cuja missão parece ser unicamente agredir profissionais e intelectuais com relevantes serviços prestados ao aperfeiçoamento democrático do país, Martins não teve direito de resposta”.
Segundo Alberto Dines, do Observatório da Imprensa: “Diogo Mainardi é, na feliz expressão de Luís Nassif, um parajornalista. Um dos muitos revelados nestes meses de crise. Ouviram falar de Carlos Lacerda e imaginaram que basta indignação e nenhum senso de responsabilidade para ganhar o respeito dos leitores. Seus colegas na direção da Veja ofereceram-lhe uma isca e ele, faminto de reconhecimento, a abocanhou com voracidade. Quanto mais se entrega ao delírio mais se enreda na armadilha. Há poucos meses puxava o cordão dos que mais recebia mensagens; agora nem aparece no esfarrapado Oscar semanal. O leitor da Veja já não agüenta tanta fanfarronada”.
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Poder imperial e supremacia da ignorância
Reproduzo artigo de Luiz Gonzaga Belluzzo, publicado na revista CartaCapital:
Os Estados Unidos invadiram o Iraque a pretexto de extinguir um arsenal de “armas de destruição em massa”. Nada assemelhado foi encontrado nos alegados esconderijos de Saddam Hussein. Agora, Tio Sam ameaça torpedear o acordo com o Irã patrocinado por Brasil e Turquia. Seja qual for o alcance do combinado, o Poder Americano insistirá na imposição de sanções.
Nada de novo sob o sol. Os ideólogos conservadores que inspiravam o governo republicano eram claros quanto aos propósitos da intervenção no Iraque. Eles falavam do que interessa: superioridade militar e controle de áreas sensíveis para a preservação do poder que se pretende absoluto.
Há tempos, o jornalista americano William Pfaff, do International Herald Tribune, afirmou que “o dinheiro desregrado não apenas dirige o resultado das eleições americanas, mas influencia as decisões do Congresso e as atitudes da Casa Branca, em matérias tão improváveis como a luta contra o tráfico de drogas na América Latina”. Pfaff, um ícone do jornalismo mundial e crítico duro das ações de seu país, antecipou com grande precisão como seria o desempenho dos republicanos no governo. Resta saber o que pensa o insigne jornalista dos democratas sob a presidência de Obama.
As transgressões aos direitos dos povos continuam a ser executadas com persistência, mas hoje edulcoradas com a preocupação de invocar – apenas invocar – a chamada comunidade internacional para justificar as tropelias. Agora, sob o acicate da crise, a razão imperial precisa, mais do que nunca, manter o demônio (qualquer demônio) vivo para impor as razões de sua divindade.
Para tanto, os processos de informação e de formação da consciência política e coletiva, ou seja, os espaços da autonomia individual estão permanentemente subjugados à lógica econômica e política de uma ordem imperial que deslocou a hegemonia do imediato pós-guerra para adotar o exercício puro e duro de seu poder. Na ordem americana, o nomos da terra significa a exigência de respeito à vontade imperial, à sua moral particularista, idiossincrática e assimétrica. O direito, dizia Hegel, enquanto existência da liberdade é uma determinação essencial na refrega contra a “boa intenção” moral. “Os protestos contra este desenvolvimento são… reminiscências do ‘estado bruto de natureza’ que revelam um apego doentio à própria particularidade, narcisisticamente desfrutada como moral”.
O narcisismo moral americano não precisa de adjetivos em sua espantosa objetividade. Está sempre preparado para qualificar os recalcitrantes e dessemelhantes como rogue States, o que significa deformar em proveito próprio o papel das instâncias integradoras no âmbito internacional. O avanço do narcisismo intervencionista americano é constitutivo de sua natureza e demonstra porque, a despeito de Woody Allen, os americanos tomam o seu país como a “utopia realizada”.
A supremacia apoiada na superioridade das armas e no despotismo da economia desregulada dispensa mediações da ordem jurídica e não quer ou não precisa compreender nada. O mundo em que tentamos sobreviver é uma prova diária da degeneração da razão ocidental, transformada e objetivada na execução desabrida dos métodos de domínio.
Os Estados Unidos, diz um dos gurus da nova direita, estão tornando o país mais parecido com ele mesmo. Uma reconciliação do fenômeno com o conceito, provavelmente a apoteose do fim da história. No fundo da alma, a nova direita tem certeza de que os processos e as instituições de negociação democrática, fora dos Estados Unidos, como a ONU, por exemplo, são geringonças inúteis. São estorvos para a consecução das políticas “corretas” isto é, aquelas que se submetem aos seus interesses e de suas empresas. Por isso é preciso coartar e controlar as instâncias de discussão pública da informação. A liberdade de opinião não é boa coisa, sobretudo quando começam a naufragar os programas econômicos e sociais recomendados pelos Senhores do Mundo como roteiros infalíveis para o sucesso.
Na família dos vulgarizadores da opinião subalterna não faltará quem pretenda acusar de antiamericanismo” os que hoje dão nome e apelido aos episódios de reafirmação do poder imperial americano. Tratar assim uma questão tão grave e decisiva para o futuro da vida decente neste planeta é uma forma tosca de “misturar estação” com o propósito de interditar o exame crítico de qualquer processo político. Isso desfigura o debate racional sobre os conflitos contemporâneos, transfigurado numa guerra de preconceitos travada nos esgotos da alma humana.
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Os Estados Unidos invadiram o Iraque a pretexto de extinguir um arsenal de “armas de destruição em massa”. Nada assemelhado foi encontrado nos alegados esconderijos de Saddam Hussein. Agora, Tio Sam ameaça torpedear o acordo com o Irã patrocinado por Brasil e Turquia. Seja qual for o alcance do combinado, o Poder Americano insistirá na imposição de sanções.
Nada de novo sob o sol. Os ideólogos conservadores que inspiravam o governo republicano eram claros quanto aos propósitos da intervenção no Iraque. Eles falavam do que interessa: superioridade militar e controle de áreas sensíveis para a preservação do poder que se pretende absoluto.
Há tempos, o jornalista americano William Pfaff, do International Herald Tribune, afirmou que “o dinheiro desregrado não apenas dirige o resultado das eleições americanas, mas influencia as decisões do Congresso e as atitudes da Casa Branca, em matérias tão improváveis como a luta contra o tráfico de drogas na América Latina”. Pfaff, um ícone do jornalismo mundial e crítico duro das ações de seu país, antecipou com grande precisão como seria o desempenho dos republicanos no governo. Resta saber o que pensa o insigne jornalista dos democratas sob a presidência de Obama.
As transgressões aos direitos dos povos continuam a ser executadas com persistência, mas hoje edulcoradas com a preocupação de invocar – apenas invocar – a chamada comunidade internacional para justificar as tropelias. Agora, sob o acicate da crise, a razão imperial precisa, mais do que nunca, manter o demônio (qualquer demônio) vivo para impor as razões de sua divindade.
Para tanto, os processos de informação e de formação da consciência política e coletiva, ou seja, os espaços da autonomia individual estão permanentemente subjugados à lógica econômica e política de uma ordem imperial que deslocou a hegemonia do imediato pós-guerra para adotar o exercício puro e duro de seu poder. Na ordem americana, o nomos da terra significa a exigência de respeito à vontade imperial, à sua moral particularista, idiossincrática e assimétrica. O direito, dizia Hegel, enquanto existência da liberdade é uma determinação essencial na refrega contra a “boa intenção” moral. “Os protestos contra este desenvolvimento são… reminiscências do ‘estado bruto de natureza’ que revelam um apego doentio à própria particularidade, narcisisticamente desfrutada como moral”.
O narcisismo moral americano não precisa de adjetivos em sua espantosa objetividade. Está sempre preparado para qualificar os recalcitrantes e dessemelhantes como rogue States, o que significa deformar em proveito próprio o papel das instâncias integradoras no âmbito internacional. O avanço do narcisismo intervencionista americano é constitutivo de sua natureza e demonstra porque, a despeito de Woody Allen, os americanos tomam o seu país como a “utopia realizada”.
A supremacia apoiada na superioridade das armas e no despotismo da economia desregulada dispensa mediações da ordem jurídica e não quer ou não precisa compreender nada. O mundo em que tentamos sobreviver é uma prova diária da degeneração da razão ocidental, transformada e objetivada na execução desabrida dos métodos de domínio.
Os Estados Unidos, diz um dos gurus da nova direita, estão tornando o país mais parecido com ele mesmo. Uma reconciliação do fenômeno com o conceito, provavelmente a apoteose do fim da história. No fundo da alma, a nova direita tem certeza de que os processos e as instituições de negociação democrática, fora dos Estados Unidos, como a ONU, por exemplo, são geringonças inúteis. São estorvos para a consecução das políticas “corretas” isto é, aquelas que se submetem aos seus interesses e de suas empresas. Por isso é preciso coartar e controlar as instâncias de discussão pública da informação. A liberdade de opinião não é boa coisa, sobretudo quando começam a naufragar os programas econômicos e sociais recomendados pelos Senhores do Mundo como roteiros infalíveis para o sucesso.
Na família dos vulgarizadores da opinião subalterna não faltará quem pretenda acusar de antiamericanismo” os que hoje dão nome e apelido aos episódios de reafirmação do poder imperial americano. Tratar assim uma questão tão grave e decisiva para o futuro da vida decente neste planeta é uma forma tosca de “misturar estação” com o propósito de interditar o exame crítico de qualquer processo político. Isso desfigura o debate racional sobre os conflitos contemporâneos, transfigurado numa guerra de preconceitos travada nos esgotos da alma humana.
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Por que José Serra ataca a Bolívia?
Reproduzo artigo do jornalista Breno Altman, publicado no sítio Opera Mundi:
As declarações do pré-candidato tucano, acusando o governo Evo Morales por suposta conivência com o narcotráfico, provocaram celeuma na última semana de maio. Apesar das reações, o ex-governador paulista reiterou sua opinião em diversas oportunidades. Fez questão, enfim, de desmentir quem havia considerado sua afirmação momento de destempero.
O mais provável é que suas palavras correspondam a um cálculo frio, focado na disputa eleitoral. Diversos estudos indicam que a questão das drogas se apresenta como drama urbano de ampla repercussão. José Serra resolveu abordar o problema através de estímulo ao sentimento xenófobo. O objetivo aparente: associar a política internacional do governo Lula ao aumento da criminalidade.
As dificuldades reveladas por pesquisas recentes, afinal, podem empurrar o PSDB e seus aliados para atitudes belicosas. Estão diante do desafio de dinamitar o governo Lula para evitar que seja ponte desimpedida à transferência de votos entre o presidente e sua candidata. Os principais feitos da administração petista precisariam, nesse caso, ser desconstruídos e embaralhados.
São alvos dessa ofensiva a estratégia de integração latino-americana e o papel mundial que o Brasil passou a jogar. A envergadura das ações diplomáticas, cujo ponto mais alto foi o acordo com o Irã, repercute na auto-estima dos eleitores e reforça a percepção positiva sobre o governo. Serra necessita correr atrás do prejuízo. Os ataques contra a Bolívia são armas que escolheu para essa batalha.
Talvez não tenha sido uma boa tentativa. Não há qualquer fato concreto que dê guarida às acusações. Os relatórios da Polícia Federal sequer confirmam a fronteira boliviana como origem principal do tráfico. Nem mesmo o poderoso DEA, agência norte-americana de combate às drogas, apesar de eventuais escaramuças da Casa Branca com o governo boliviano, corrobora afirmações como as de Serra. Mas o candidato do PSDB não recua.
Sua insistência parece expressar abandono ou abrandamento do chamado discurso pós-lulista. A pasteurização do programa tucano, afinal, não está se demonstrando eficaz como fórmula para diluir o enfrentamento entre projetos e demarcar a sucessão como choque de biografias. O esforço para despolitizar a campanha não tem permitido a Serra conquistar votos indecisos ou de admiradores do governo Lula. Ao contrário: seu próprio campo vai perdendo musculatura.
A inflexão do candidato eventualmente busca resolver esse problema. Aturdido pelo relativo esvaziamento de sua base eleitoral, o tucano trata de radicalizar seus pontos de vista, de sorte a preservar e ampliar o apoio do eleitorado mais conservador. A política internacional foi o terreno escolhido para a nova tática. Serra está sendo levado para um cenário que jamais desejou: o da polarização programática.
Não seria razoável que essa mudança de atitude fosse testada, por exemplo, no debate sobre privatizações ou políticas sociais, no qual o erro poderia se transformar em desastre. O tema definido, além de pautado pela evidência dos fatos internacionais, hipoteticamente é menos sensível à maioria do eleitorado. Por isso Serra se arriscou com a cara e a coragem.
A política internacional do governo Lula possivelmente seja a principal ruptura de fundo com a administração anterior. A geopolítica do período tucano tinha como coluna vertebral o aprofundamento da associação com os países capitalistas centrais. O Brasil deveria buscar seu espaço, nessa doutrina, como sócio menor das potências ocidentais, particularmente dos Estados Unidos.
O norte da política econômica alinhada pelo PSDB era a atração dos fluxos financeiros mundiais, pela qual avidamente trabalharam através de privatizações, desregulamentação do comércio exterior, elevação da taxa de juros e redução da intervenção estatal. A diplomacia tinha função estratégica nessa dinâmica, como vanguarda na aproximação dos círculos decisórios do capital.
Recordemo-nos que o governo Fernando Henrique Cardoso, sob aplausos do então ministro José Serra, foi defensor entusiasta da Alca, a Área de Livre Comércio das Américas. Aceitou participar de negociações secretas, ao redor de um projeto que praticamente eliminaria as salvaguardas das economias nacionais latino-americanas, além de tornar supérfluos blocos regionais como o Mercosul.
A eleição do presidente Lula significou o enterro dessa concepção. A política internacional do novo governo passou a ter como agenda a integração da América Latina, a formação de alianças contrapostas ao unilateralismo e a diversificação dos mercados brasileiros. Passou paulatinamente a deslocar o centro de gravidade das relações diplomáticas e de comércio exterior para fora da órbita de hegemonia dos Estados Unidos.
O núcleo duro dessa política se situa no hemisfério sul do continente. Nessa região concentra-se a estratégia para formar um bloco integrado, com instrumentos independentes de desenvolvimento econômico, soberania política e defesa. Ao menos é essa a aposta do governo brasileiro: um mercado comum com 400 milhões de habitantes, produto interno de USD 4 trilhões, poderosas reservas energéticas e importante nível de industrialização.
Contra essa política se insurge o ex-governador José Serra, ao golpear o Mercosul e, agora, a Bolívia. Parece desejar um retorno à velha doutrina segundo a qual é melhor ser rabo de elefante que cabeça de formiga. Não esconde sua apatia e indisposição contra qualquer projeto nacional que seja concebido como autônomo em relação aos países imperialistas.
Aproveita para flertar com o peculiar nacionalismo das elites, que costuma mesclar o preconceito contra os povos mais pobres e o encantamento pelas nações mais ricas. De alguma maneira vê nesse recurso combustível para inflamar parte do eleitorado contra o governo Lula e sua candidata. Não é propriamente novidade na cultura política de direita.
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As declarações do pré-candidato tucano, acusando o governo Evo Morales por suposta conivência com o narcotráfico, provocaram celeuma na última semana de maio. Apesar das reações, o ex-governador paulista reiterou sua opinião em diversas oportunidades. Fez questão, enfim, de desmentir quem havia considerado sua afirmação momento de destempero.
O mais provável é que suas palavras correspondam a um cálculo frio, focado na disputa eleitoral. Diversos estudos indicam que a questão das drogas se apresenta como drama urbano de ampla repercussão. José Serra resolveu abordar o problema através de estímulo ao sentimento xenófobo. O objetivo aparente: associar a política internacional do governo Lula ao aumento da criminalidade.
As dificuldades reveladas por pesquisas recentes, afinal, podem empurrar o PSDB e seus aliados para atitudes belicosas. Estão diante do desafio de dinamitar o governo Lula para evitar que seja ponte desimpedida à transferência de votos entre o presidente e sua candidata. Os principais feitos da administração petista precisariam, nesse caso, ser desconstruídos e embaralhados.
São alvos dessa ofensiva a estratégia de integração latino-americana e o papel mundial que o Brasil passou a jogar. A envergadura das ações diplomáticas, cujo ponto mais alto foi o acordo com o Irã, repercute na auto-estima dos eleitores e reforça a percepção positiva sobre o governo. Serra necessita correr atrás do prejuízo. Os ataques contra a Bolívia são armas que escolheu para essa batalha.
Talvez não tenha sido uma boa tentativa. Não há qualquer fato concreto que dê guarida às acusações. Os relatórios da Polícia Federal sequer confirmam a fronteira boliviana como origem principal do tráfico. Nem mesmo o poderoso DEA, agência norte-americana de combate às drogas, apesar de eventuais escaramuças da Casa Branca com o governo boliviano, corrobora afirmações como as de Serra. Mas o candidato do PSDB não recua.
Sua insistência parece expressar abandono ou abrandamento do chamado discurso pós-lulista. A pasteurização do programa tucano, afinal, não está se demonstrando eficaz como fórmula para diluir o enfrentamento entre projetos e demarcar a sucessão como choque de biografias. O esforço para despolitizar a campanha não tem permitido a Serra conquistar votos indecisos ou de admiradores do governo Lula. Ao contrário: seu próprio campo vai perdendo musculatura.
A inflexão do candidato eventualmente busca resolver esse problema. Aturdido pelo relativo esvaziamento de sua base eleitoral, o tucano trata de radicalizar seus pontos de vista, de sorte a preservar e ampliar o apoio do eleitorado mais conservador. A política internacional foi o terreno escolhido para a nova tática. Serra está sendo levado para um cenário que jamais desejou: o da polarização programática.
Não seria razoável que essa mudança de atitude fosse testada, por exemplo, no debate sobre privatizações ou políticas sociais, no qual o erro poderia se transformar em desastre. O tema definido, além de pautado pela evidência dos fatos internacionais, hipoteticamente é menos sensível à maioria do eleitorado. Por isso Serra se arriscou com a cara e a coragem.
A política internacional do governo Lula possivelmente seja a principal ruptura de fundo com a administração anterior. A geopolítica do período tucano tinha como coluna vertebral o aprofundamento da associação com os países capitalistas centrais. O Brasil deveria buscar seu espaço, nessa doutrina, como sócio menor das potências ocidentais, particularmente dos Estados Unidos.
O norte da política econômica alinhada pelo PSDB era a atração dos fluxos financeiros mundiais, pela qual avidamente trabalharam através de privatizações, desregulamentação do comércio exterior, elevação da taxa de juros e redução da intervenção estatal. A diplomacia tinha função estratégica nessa dinâmica, como vanguarda na aproximação dos círculos decisórios do capital.
Recordemo-nos que o governo Fernando Henrique Cardoso, sob aplausos do então ministro José Serra, foi defensor entusiasta da Alca, a Área de Livre Comércio das Américas. Aceitou participar de negociações secretas, ao redor de um projeto que praticamente eliminaria as salvaguardas das economias nacionais latino-americanas, além de tornar supérfluos blocos regionais como o Mercosul.
A eleição do presidente Lula significou o enterro dessa concepção. A política internacional do novo governo passou a ter como agenda a integração da América Latina, a formação de alianças contrapostas ao unilateralismo e a diversificação dos mercados brasileiros. Passou paulatinamente a deslocar o centro de gravidade das relações diplomáticas e de comércio exterior para fora da órbita de hegemonia dos Estados Unidos.
O núcleo duro dessa política se situa no hemisfério sul do continente. Nessa região concentra-se a estratégia para formar um bloco integrado, com instrumentos independentes de desenvolvimento econômico, soberania política e defesa. Ao menos é essa a aposta do governo brasileiro: um mercado comum com 400 milhões de habitantes, produto interno de USD 4 trilhões, poderosas reservas energéticas e importante nível de industrialização.
Contra essa política se insurge o ex-governador José Serra, ao golpear o Mercosul e, agora, a Bolívia. Parece desejar um retorno à velha doutrina segundo a qual é melhor ser rabo de elefante que cabeça de formiga. Não esconde sua apatia e indisposição contra qualquer projeto nacional que seja concebido como autônomo em relação aos países imperialistas.
Aproveita para flertar com o peculiar nacionalismo das elites, que costuma mesclar o preconceito contra os povos mais pobres e o encantamento pelas nações mais ricas. De alguma maneira vê nesse recurso combustível para inflamar parte do eleitorado contra o governo Lula e sua candidata. Não é propriamente novidade na cultura política de direita.
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Leonardo Boff e a mídia colonizada
Reproduzo belíssimo artigo do teólogo Leonardo Boff, intitulado “A saudade do servo na velha diplomacia brasileira”:
O filósofo F. Hegel em sua “Fenomenologia do espírito” analisou detalhadamente a dialética do senhor e do servo. O senhor se torna tanto mais senhor quanto mais o servo internaliza em si o senhor, o que aprofunda ainda mais seu estado de servo. A mesma dialética identificou Paulo Freire na relação oprimido-opressor em sua clássica obra “Pedagogia do oprimido”. Com humor comentou Frei Betto: “Em cada cabeça de oprimido há uma placa virtual que diz: hospedaria de opressor”. Quer dizer, o opressor hospeda em si oprimido e é exatamente isso que o faz oprimido. A libertação se realiza quando o oprimido extrojeta o opressor e ai começa então uma nova história na qual não haverá mais oprimido e opressor, mas o cidadão livre.
Escrevo isso a propósito de nossa imprensa comercial, os grandes jornais do Rio, de São Paulo e de Porto Alegre, com referência à política externa do governo Lula no seu afã de mediar junto com o governo turco um acordo pacífico com o Irã a respeito do enriquecimento de urânio para fins não militares. Ler as opiniões emitidas por estes jornais, seja em editoriais seja por seus articulistas, alguns deles, embaixadores da velha guarda, reféns do tempo da guerra-fria, na lógica de amigo-inimigo é simplesmente estarrecedor.
O Globo fala em “suicídio diplomático” (24/05) para referir apenas um título até suave. Bem que poderiam colocar como sub-cabeçalho de seus jornais:”Sucursal do Império”, pois sua voz é mais eco da voz do senhor imperial do que a voz do jornalismo que objetivamente informa e honestamente opina. Outros, como o Jornal do Brasil, tem seguido uma linha de objetividade, fornecendo os dados principais para os leitores fazerem sua apreciação.
As opiniões revelam pessoas que têm saudades deste senhor imperial internalizado, de quem se comportam como súcubos. Não admitem que o Brasil de Lula ganhe relevância mundial e se transforme num ator político importante como o repetiu, há pouco, no Brasil, o Secretário Geral da ONU, Ban-Ki-moon. Querem vê-lo no lugar que lhe cabe: na periferia colonial, alinhado ao patrão imperial, qual cão amestrado e vira-lata.
Posso imaginar o quanto os donos desses jornais sofrem ao ter que aceitar que o Brasil nunca poderá ser o que gostariam que fosse: um Estado-agregado como é Hawai e Porto-Rico. Como não há jeito, a maneira então de atender à voz do senhor internalizado, é difamar, ridicularizar e desqualificar, de forma até antipatriótica, a iniciativa e a pessoa do presidente. Este notoriamente é reconhecido, mundo afora, como excepcional interlocutor, com grande habilidade nas negociações e dotado de singular força de convencimento.
O povo brasileiro abomina a subserviência aos poderosos e aprecia, às vezes ingenuamente, os estrangeiros e os outros povos. Sente-se orgulhoso de seu presidente. Ele é um deles, um sobrevivente da grande tribulação, que as elites, tidas por Darcy Ribeiro como das mais reacionárias do mundo, nunca o aceitaram porque pensam que seu lugar não é na Presidência, mas na fábrica produzindo para elas. Mas a história quis que fosse presidente e que comparecesse como um personagem de grande carisma, unindo em sua pessoa ternura para com os humildes e vigor com o qual sustenta suas posições .
O que estamos assistindo é a contraposição de dois paradigmas de fazer diplomacia: uma velha, imperial, intimidatória, do uso da truculência ideológica, econômica e eventualmente militar, diplomacia inimiga da paz e da vida, que nunca trouxe resultados duradouros. E outra, do século XXI, que se dá conta de que vivemos numa fase nova da história, a história coletiva dos povos que se obrigam a conviver harmoniosamente num pequeno planeta, escasso de recursos e semi-devastado.
Para esta nova situação impõe-se a diplomacia do diálogo incansável, da negociação do ganha-ganha, dos acertos para além das diferenças. Lula entendeu esta fase planetária. Fez-se protagonista do novo, daquela estratégia que pode efetivamente evitar a maior praga que jamais existiu: a guerra que só destrói e mata. Agora, ou seguiremos esta nova diplomacia, ou nos entredevoraremos. Ou Hillary ou Lula.
A nossa imprensa comercial é obtusa face a essa nova emergência da história. Por isso abomina a diplomacia de Lula
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O filósofo F. Hegel em sua “Fenomenologia do espírito” analisou detalhadamente a dialética do senhor e do servo. O senhor se torna tanto mais senhor quanto mais o servo internaliza em si o senhor, o que aprofunda ainda mais seu estado de servo. A mesma dialética identificou Paulo Freire na relação oprimido-opressor em sua clássica obra “Pedagogia do oprimido”. Com humor comentou Frei Betto: “Em cada cabeça de oprimido há uma placa virtual que diz: hospedaria de opressor”. Quer dizer, o opressor hospeda em si oprimido e é exatamente isso que o faz oprimido. A libertação se realiza quando o oprimido extrojeta o opressor e ai começa então uma nova história na qual não haverá mais oprimido e opressor, mas o cidadão livre.
Escrevo isso a propósito de nossa imprensa comercial, os grandes jornais do Rio, de São Paulo e de Porto Alegre, com referência à política externa do governo Lula no seu afã de mediar junto com o governo turco um acordo pacífico com o Irã a respeito do enriquecimento de urânio para fins não militares. Ler as opiniões emitidas por estes jornais, seja em editoriais seja por seus articulistas, alguns deles, embaixadores da velha guarda, reféns do tempo da guerra-fria, na lógica de amigo-inimigo é simplesmente estarrecedor.
O Globo fala em “suicídio diplomático” (24/05) para referir apenas um título até suave. Bem que poderiam colocar como sub-cabeçalho de seus jornais:”Sucursal do Império”, pois sua voz é mais eco da voz do senhor imperial do que a voz do jornalismo que objetivamente informa e honestamente opina. Outros, como o Jornal do Brasil, tem seguido uma linha de objetividade, fornecendo os dados principais para os leitores fazerem sua apreciação.
As opiniões revelam pessoas que têm saudades deste senhor imperial internalizado, de quem se comportam como súcubos. Não admitem que o Brasil de Lula ganhe relevância mundial e se transforme num ator político importante como o repetiu, há pouco, no Brasil, o Secretário Geral da ONU, Ban-Ki-moon. Querem vê-lo no lugar que lhe cabe: na periferia colonial, alinhado ao patrão imperial, qual cão amestrado e vira-lata.
Posso imaginar o quanto os donos desses jornais sofrem ao ter que aceitar que o Brasil nunca poderá ser o que gostariam que fosse: um Estado-agregado como é Hawai e Porto-Rico. Como não há jeito, a maneira então de atender à voz do senhor internalizado, é difamar, ridicularizar e desqualificar, de forma até antipatriótica, a iniciativa e a pessoa do presidente. Este notoriamente é reconhecido, mundo afora, como excepcional interlocutor, com grande habilidade nas negociações e dotado de singular força de convencimento.
O povo brasileiro abomina a subserviência aos poderosos e aprecia, às vezes ingenuamente, os estrangeiros e os outros povos. Sente-se orgulhoso de seu presidente. Ele é um deles, um sobrevivente da grande tribulação, que as elites, tidas por Darcy Ribeiro como das mais reacionárias do mundo, nunca o aceitaram porque pensam que seu lugar não é na Presidência, mas na fábrica produzindo para elas. Mas a história quis que fosse presidente e que comparecesse como um personagem de grande carisma, unindo em sua pessoa ternura para com os humildes e vigor com o qual sustenta suas posições .
O que estamos assistindo é a contraposição de dois paradigmas de fazer diplomacia: uma velha, imperial, intimidatória, do uso da truculência ideológica, econômica e eventualmente militar, diplomacia inimiga da paz e da vida, que nunca trouxe resultados duradouros. E outra, do século XXI, que se dá conta de que vivemos numa fase nova da história, a história coletiva dos povos que se obrigam a conviver harmoniosamente num pequeno planeta, escasso de recursos e semi-devastado.
Para esta nova situação impõe-se a diplomacia do diálogo incansável, da negociação do ganha-ganha, dos acertos para além das diferenças. Lula entendeu esta fase planetária. Fez-se protagonista do novo, daquela estratégia que pode efetivamente evitar a maior praga que jamais existiu: a guerra que só destrói e mata. Agora, ou seguiremos esta nova diplomacia, ou nos entredevoraremos. Ou Hillary ou Lula.
A nossa imprensa comercial é obtusa face a essa nova emergência da história. Por isso abomina a diplomacia de Lula
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