Reproduzo editorial do sítio Carta Maior:
As demissões de jornalistas na TV Cultura de São Paulo e o silêncio dos grandes meios de comunicação sobre as causas destas demissões evidenciam mais uma vez um preocupante comportamento cínico, submisso e hipócrita. Mais uma vez, são blogs e sites de jornalistas independentes que cumprem o dever de informar ao público o que é de interesse público. Entidades como a Associação Nacional de Jornais, supostamente comprometidas com a defesa da liberdade de expressão, exibem um silêncio ensurdecedor.
O comportamento cínico e hipócrita da maioria das grandes empresas de comunicação do Brasil ficou mais uma vez evidenciado esta semana, e de um modo extremamente preocupante. Não se trata apenas de valores ou sentimentos, mas sim de fatos objetivos e de silêncios não menos objetivos. O relato sobre demissões na TV Cultura de São Paulo, causadas pelo interesse de jornalistas no tema dos pedágios, justifica plenamente essa preocupação. Um desses relatos, feito nesta sexta-feira pelo jornalista Luis Nassif, chega a ser assustador. Em apenas uma semana, dois jornalistas perderam o emprego, escreve Nassif, em função de uma matéria sobre pedágios. Ele relata:
Há uma semana, Gabriel Priolli foi indicado diretor de jornalismo da TV Cultura. Ontem (7), planejou uma matéria sobre os pedágios paulistas. Foram ouvidos Geraldo Alckmin e Aloizio Mercadante, candidatos ao governo do estado. Tentou-se ouvir a Secretaria dos Transportes, que não quis dar entrevistas. O jornalismo pediu ao menos uma nota oficial. Acabaram não se pronunciando.
Sete horas da noite, o novo vice-presidente de conteúdo da TV Cultura, Fernando Vieira de Mello, chamou Priolli em sua sala. Na volta, Priolli informou que a matéria teria que ser derrubada. Tiveram que improvisar uma matéria anódina sobre as viagens dos candidatos.
Hoje (8) , Priolli foi demitido do cargo. Não durou uma semana.
Semana passada foi Heródoto Barbeiro, demitido do cargo de apresentador do Roda Viva devido às perguntas sobre pedágio feitas ao candidato José Serra (ver vídeo abaixo). Para quem ainda têm dúvidas: a maior ameaça à liberdade de imprensa que esse país jamais enfrentou, nas últimas décadas, seria se, por desgraça, Serra juntasse ao poder de mídia, que já tem, o poder de Estado.
Não é o primeiro relato sobre a truculência do ex-governador de São Paulo com jornalistas. Nos últimos meses, há pelo menos dois outros episódios, um deles envolvendo a jornalista Miriam Leitão, na Globonews, e outros envolvendo jornalistas da RBS TV, em Porto Alegre. A passagem da truculência à ameaça ao trabalho dos jornalistas é algo que deveria receber veemente manifestação da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), sempre prontas a denunciar tais ameaças. No entanto, ao invés disso, o que se houve é um silêncio ensurdecedor.
Mais uma vez, são blogs e sites de jornalistas independentes que cumprem o dever de informar ao público o que é de interesse público. E, mais uma vez também, os chamados jornalões e seus braços no rádio e na TV, calam-se, aliando submissão e cumplicidade com a truculência e o desrespeito ao trabalho de experientes profissionais. O mesmo silêncio, a mesma submissão e a mesma cumplicidade manifestadas nos recentes casos de assassinatos de jornalistas em Honduras, em função de sua posição crítica ao golpe de Estado ocorrido naquele país.
Esse triângulo perverso que une cinismo, hipocrisia e silêncio não é um privilégio da imprensa brasileira. Um outro caso, esta semana, envolveu uma das maiores cadeias de televisão do mundo. A CNN demitiu a jornalista Octavia Nasr, editora de noticiário do Oriente Médio, por causa de uma mensagem publicada por ela em sua página no Twitter onde manifestou “respeito” pelo ex-dirigente do Hezbollah, Sayyed Mohammed, que morreu no final de semana passado.
Octavia tinha 20 anos de trabalho CNN. O que ela escreveu no twitter e causou sua demissão foi: “(Fiquei) triste por saber do falecimento do Sayyed Mohammed Hussein Fadlallah…Um dos gigantes do Hezzbollah que eu respeito muito”. Parisa Khosravi, vice-presidente-sênior da CNN International Newsgathering, afirmou em um memorando interno que “teve uma conversa” com a editora e “decidimos que ela irá deixar a companhia”.
Essa mesma CNN não hesita em denunciar agressões à liberdade de imprensa em outros países quando isso é do interesse de sua linha editorial e dos interesses geopolíticos da empresa. Crime de opinião? Segundo as versões oficiais, isso só existe em países do chamado eixo do mal.
Esse mesmo triângulo perverso ajuda a entender por que essas grandes corporações midiáticas não querem debater com a sociedade a sua própria atuação. Colocam-se acima do bem e do mal como se fossem portadores de legitimidade pública. Não são. Ao cultivarem esse tipo de comportamento e prática, o que estão fazendo, na verdade, é auto-atribuir-se, de modo fraudulento, uma suposta representação pública. Representam, na verdade, os interesses dos donos das empresas e, cada vez menos, o interesse público.
Neste exato momento, o planeta vive aquele que pode vir a se confirmar como o maior desastre ecológico de sua história. O acidente com a plataforma da British Petroleum no Golfo do México e o vazamento diário de milhões de litros de óleo no mar tem proporções ainda incalculáveis. No entanto, a cobertura midiática sobre o caso nem de longe é proporcional, em quantidade e qualidade, à gravidade e importância do caso. Organizações ambientalistas já denunciaram que a BP vem operando pesadamente nos bastidores para bloquear e filtrar informações.
É preciso ter clareza que são os dirigentes e porta-vozes dessas corporações midiáticas e seus braços políticos e empresariais que não hesitam em denunciar qualquer proposta de tornar transparente à sociedade o seu trabalho, supostamente de interesse público. O bloqueio e seleção de informações, a demissão de jornalistas incômodos e a truculência com aqueles que ousam fazer alguma pergunta fora do script são diferentes faces de um mesmo cenário: o cenário da privatização da informação, da deformação da verdade e da destruição do espaço público.
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sexta-feira, 9 de julho de 2010
Josias de Souza e o machismo contra Dilma
O blogueiro predileto da famíglia Frias, Josias de Souza, não vacila em dar suas contribuições às baixarias na campanha eleitoral deste ano. Na internet, várias páginas demotucanas têm atacado a candidata Dilma Rousseff com palavrões e abjetos preconceitos machistas. A Justiça Eleitoral não aplica nenhuma penalidade alegando dificuldades para rastrear os seus endereços. No caso de Josias de Souza, não há desculpas. O seu blog está hospedado na UOL, do Grupo Folha.
Nesta semana, o jornalista postou uma charge de péssimo gosto, insinuando que Dilma Rousseff é “candidata de programa”. Indignado, o comerciante Eduardo Guimarães, do blog Cidadania, chutou o pau da barraca: “O blogueiro da Folha ataca a qualquer um que seu patrão mande, da forma que for determinada. Josias é apenas um pau-mandado. Por dinheiro, se mandarem ele difamar a própria mãe, não hesitará. É um mercenário. Por dinheiro, faz qualquer coisa”.
Tímida reação às baixarias
Numa “dócil” mensagem enviada ao blogueiro, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, também protestou, enquanto seu partido novamente evitou enfrentar mais esta agressão rasteira. Algumas lideranças feministas criticaram o conteúdo da charge, mas o protesto deste movimento ficou bem aquém da gravidade do fato. Alguns falsários da “liberdade de expressão” relativizaram o episódio, bem diferente da postura agressiva que adotaram quando a campanha de Marta Suplicy à prefeitura da capital paulista fez insinuações sobre a opção sexual de Gilberto Kassab.
Não é a primeira vez que Josias de Souza incita preconceitos machistas contra Dilma Rousseff. No ano passado, ao noticiar um jantar oferecido a então ministra, ele não vacilou em dar o título: “Notas vadias de um domingo de notícias vagabundas”. Abaixo, a foto de Dilma e Marta, duas mulheres que ocupam papel de destaque na política brasileira. Caso o título fosse colocado acima da foto de sua mãe, ele protestaria... ou não, já que não “hesitaria em difamar a própria mãe”.
O colunista da direita neoliberal
Nada em Josias de Souza é gratuito. A charge não foi postada por descuido nem foi uma simples brincadeira. O blogueiro da Folha nunca escondeu seu ódio ao governo Lula e sua simpatia pelos tucanos. Até quando crítica o presidenciável José Serra, ele faz com a presunção de “orientar sua campanha”, como se fosse um gênio da estratégia política. Josias é um direitista convicto, que detesta os movimentos sociais, e um udenista “moderno”, que se traveste de paladino da ética.
Reproduzo abaixo artigo escrito em maio de 2007 sobre o badalado blogueiro da Folha:
No seu blog na Folha de S.Paulo desta terça-feira, 1.º de Maio, o colunista Josias de Souza revela todo seu reacionarismo a serviço do capital. No artigo "peleguismo sindical sepulta a reforma trabalhista", ele esbanja arrogância ao atacar a CUT e a Força Sindical. "Nunca na história desse país a máquina dos sindicatos esteve tão atrelada ao Estado... Os interesses reais dos trabalhadores não compareceram às duas festividades. As centrais parecem, no momento, mais interessadas em obter vantagen$ [ironicamente com cifrão] para elas próprias", esbraveja.
O jornalista, que nunca criticou o atrelamento da Folha de S.Paulo à ditadura militar e nem as vantagen$ das privatizações no reinado de FHC, resolveu destilar novamente o seu veneno contra os organismos dos trabalhadores. Para o porta-voz do capital, as manifestações do 1.º de Maio só seriam positivas se tivessem defendido a urgência da reforma trabalhista. "Todos desejam vê-la bem longe da cena política brasileira", lamenta. No mesmo rumo, critica o presidente Lula por ter abandonado, segundo garante, esta proposta. "Ele não moveu uma mísera palha nessa direção", choraminga o assessor de imprensa do patronato.
Seguidor das cartilhas do FMI
Bem ao feitio das cartilhas do Fundo Monetário Internacional (FMI), Josias de Souza garante que, "sob o discurso da pretensa defesa dos direitos trabalhistas, move-se uma legião de brasileiros que, empurrados para a informalidade, não dispõem de nenhum tipo de direito". Como se a culpa pelo desemprego e pela informalidade fosse dos trabalhadores com registro e direitos básicos assegurados pela Constituição. Para ser coerente, ele deveria abdicar do seu régio salário e de seu registro profissional; ou, ao menos, citar os relatórios da OIT que revelam que a flexibilização não gera emprego nem equaciona o mercado informal.
No mesmo final da noite de domingo, o inspirado colunista da Folha também escreveu um pequeno artigo no seu blog afirmando que "neste 1.º de Maio, os companheiros Hugo Chávez e Evo Morales apertaram o passo da marcha que empreendem na direção da consolidação do atraso". O motivo de sua bronca noturna é que estes presidentes, eleitos democraticamente por seus povos (ao contragosto do baba-ovo da direita), anunciaram novas medidas no rumo da estatização das reservas de petróleo. Para o colunista do capital, a estatização é atraso; já a privataria de FHC é avanço – inclusive para os que receberam alguns jabaculês!
Inimigo dos trabalhadores
Não é de hoje que Josias de Souza, o badalado colunista da golpista Folha de S.Paulo, investe contra as organizações de trabalhadores. No final de 2000, ele acusou o MST de realizar "cobrança ilegal de taxas" dos assentados da reforma agrária. Pouco depois, veio a público que a sua reportagem num assentamento no Paraná tinha sido financiada pelo governo FHC, que chegou a ceder automóveis e orientação técnica para a produção deste exemplo de "independência e neutralidade" do jornalismo nacional. O próprio Josias de Souza foi obrigado a confessar o crime, mas tentou repassar a responsabilidade para a direção do jornal.
Na ocasião, o Fórum Nacional pela Reforma Agrária protocolou representação no Ministério Público Federal para "apurar os subsídios do Incra ao jornalista Josias de Souza, diretor da sucursal da Folha de S.Paulo em Brasília". Documentos expedidos pelo Incra do Paraná revelaram que o órgão cedeu um carro oficial e pagou diárias e combustível para levar o "repórter" a um assentamento no interior do Estado, que resultou num texto intitulado "MST desvia dinheiro da reforma agrária". Segundo o MST, a reportagem "foi o mote para o desencadeamento de uma série de medidas repressivas por parte do governo FHC".
A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) também exigiu explicações do pretenso "jornalista". Numa nota oficial, emitida em 10 de novembro de 2000, protestou contra este processo de satanização do MST. "O último lance dessa campanha é a denúncia feita pelo jornal Folha de S.Paulo, na pessoa do colunista Josias de Souza. O referido jornalista, para fazer a matéria, utilizou carro e motorista do Incra do Paraná e percorreu vários assentamentos no interior do Estado... É lamentável que a direção da FSP e o jornalista Josias de Souza descumpram o próprio código de conduta da empresa, que prega a sua ‘independência’".
Cão-de-guarda da direita
Tão servil diante do governo FHC, Josias de Souza virou um raivoso crítico do presidente Lula. Ele nunca perdoou o fato do atual governante vestir o boné do MST, dialogar com o sindicalismo e não criminalizar as lutas sociais. Nos últimos quatro anos, postou-se como um "fiscalizador" das contas das organizações sociais – do MST, da CUT, da UNE, das ONGs progressistas e de tudo que não reze do dogma neoliberal. Para ele, os recursos públicos devem servir para bancar a publicidade da mídia privada e para financiar as entidades filantrópicas das elites; não podem, nunca, servir para fortalecer os movimentos sociais.
Como argumenta o jornalista José Arbex, colunistas da direita, como Josias de Souza, "acham estranho o governo ceder verbas a um movimento social que agrega 300 mil famílias de trabalhadores rurais em todo o país e que mantém escolas, atendimento de saúde, treinamento profissional, assistência técnica e outros serviços públicos. Só para mero efeito de comparação: em 2003, a Associação Nacional de Cooperação Agrícola obteve do Ministério da Educação R$ 3.424.608,00 para promover seu plano de alfabetização de 35 mil sem terras... No mesmo período, a entidade dirigida pela ex-primeira ministra Ruth Cardoso recebeu R$ 33.966.900,00... Mas nada disso merece atenção destes honestos editores [e colunistas]".
Nesta postura de cão-de-guarda da direita, Josias de Souza passou a desqualificar qualquer recurso oficial às mobilizações de trabalhadores – como as efetuadas neste 1.º de Maio. Todo apoio ao movimento social aparece com o símbolo do cifrão. O MST é tratado de M$T. Como afirma Luiz Antonio Magalhães, do Observatório da Imprensa, "ao utilizar esse recurso gráfico irônico, o jornalista passa dos limites. O cifrão no lugar do S induz um pré-julgamento e é, em si, um desrespeito não só ao movimento, mas aos leitores da Folha... O cifrão não acrescenta coisa alguma ao texto, mas subtrai o que os jornalistas mais deveriam prezar: a credibilidade". Mas não se trata de ironia ou recurso gráfico, mas sim de reacionarismo tacanho!
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Serra ordena demissões na TV Cultura?
Dois renomados jornalistas da TV Cultura, tutelada pelo governo paulista, foram demitidos nos últimos dias: Heródoto Barbeiro e Gabriel Priolli. Por mera coincidência, ambos questionaram os abusivos pedágios cobrados nas rodovias privatizadas do estado. A mídia demotucana, que tanto bravateia sobre a “liberdade de expressão”, evita tratar do assunto, que relembra a perseguição e a censura nos piores tempos da ditadura. Ela não vacila em blindar o presidenciável José Serra.
Heródoto Barbeiro, apresentador do programa Roda Viva, foi demitido após perguntar, ao vivo, sobre os altos pedágios. O ex-governador Serra, autoritário e despreparado, atacou o jornalista, acusando-o de repetir o “trololó petista”. Heródoto será substituído por Marília Gabriela, uma das estrelas da Rede Globo. Já Gabriel Priolli, que assumira a função de diretor de jornalismo da TV Cultura apenas uma semana antes, foi sumariamente dispensado ao pautar uma reportagem sobre o “delicado” assunto, que tanto incomoda e irrita os tucanos.
Risco à liberdade de expressão
Sua equipe chegou a entrevistar Geraldo Alckmin e Aloizio Mercadante, candidatos ao governo paulista. Mas pouco antes de ser exibida, a reportagem foi suspensa por ordens do novo vice-presidente de conteúdo da emissora, Fernando Vieira de Mello. “Tiveram que improvisar uma matéria anódina sobre viagens dos candidatos” e “Priolli foi demitido do cargo”, relata o sempre bem informado Luis Nassif, que também foi alvo de perseguições na TV Cultura.
Entre os jornalistas, não há dúvida de que mais estas demissões foram ordenadas diretamente por José Serra. Nas redes privadas de rádio e TV e nos jornalões e revistonas, o grão-tucano goza de forte influência. Ele costuma freqüentar as confortáveis salas dos barões da mídia. Ele também é conhecido por ligar para as redações exigindo a cabeça de repórteres inconvenientes. Depois os tucanos e a sua mídia ainda falam nos ataques à liberdade de expressão no governo Lula.
“Para quem ainda têm dúvidas, a maior ameaça à liberdade de imprensa que esse país jamais enfrentou, nas últimas décadas, seria se, por desgraça, Serra juntasse ao poder da mídia, que já tem, o poder de Estado”, alerta Nassif. Aguarda-se, agora, algum pronunciamento de Heródoto Barbeiro e Gabriel Priolli sobre o ditador José Serra, para o bem da dignidade dos jornalistas e do jornalismo.
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