segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Outro modelo para um outro jornalismo

Reproduzo o instigante artigo de Renato Rovai, publicado na Revista Fórum:

Os veículos tradicionais da mídia comercial brasileira vivem sua maior crise. Não apenas do ponto de vista econômico, mas também no que diz respeito à credibilidade e à própria natureza do negócio que operam.

Por muito tempo detiveram o monopólio da produção e da distribuição da informação – o que lhes garantiu poder político e econômico. Hoje o modelo ruiu por conta das novas tecnologias e por isso alguns veículos radicalizaram seus posicionamentos editoriais, assumindo um discurso mais panfletário e partidarizado.

A verdade é que a política editorial desses veículos não mudou, continua a mesma. Mas agora completamente descarada. Não mudou inclusive porque as famílias que controlam os grupos midiáticos no Brasil são as mesmas há algumas décadas.

Exceção à Rede Record, vinculada à Igreja Universal, as famílias Marinho, Frias, Mesquita, Civita, Saad, Sirotsky e Abravanel estão no ramo há pelo menos três décadas. O último a entrar no grupo foi Silvio Santos, em 1981. Talvez até por esse motivo seja considerado o patinho feio da turma.

O que fez esse grupo perder poder foi principalmente a construção de uma imensa rede de produção colaborativa de informação.

A história começa em março de 1989 quando o britânico Timothy John Berners Lee apresenta ao Conselho Europeu para Pesquisa Nuclear (CERN), instituto localizado em Genebra (Suiça), um projeto denominado “Gerenciamento de informação: uma proposta”. Esse projeto viria a resultar na world wide web (WWW), ou seja, a internet da forma que a conhecemos hoje e que possibilita a troca de pacote de dados via hipertexto. E tem continuidade com a criação, em 17 de dezembro de 1997, por Jorn Barger, do weblog, que depois viria a se tornar o que hoje conhecemos por blogues.

Em 1999, há pouco mais de dez anos, o número de blogues era estimado em menos de 50. No final de 2000, alguns milhares. Atualmente, segundo estudo da Technorati “State of Blogosphere”, existem mais de 130 milhões de blogues.

Essa combinação decretou o fim da era do monopólio da informação. E por mais que os veículos tradicionais de comunicação ainda tenham força para disputar a opinião pública, seu poder relativo é muito menor nesse fim de primeira década do século 21 do que em outros tempos.

A questão que se coloca hoje é como transformar essa nova esfera comunicacional em um espaço mais democrático e democratizante do ponto de vista das relações sociais. Para que isso ocorra, é preciso escapar da lógica do modelo que hoje está em crise.

Atualmente, os veículos dependem fundamentalmente da publicidade para sobreviver. E como diz o velho ditado “manda quem paga a conta”. Ou seja, eles acabam sendo porta-vozes do grande capital.

Há o risco de essa lógica também vir a ser dominante no espaço virtual se o modelo de financiamento da produção e distribuição da informação não for alterado.

Para que isso não aconteça, é fundamental que se entenda que o jornalismo é uma necessidade para que a democracia seja exercida na sociedade contemporânea. E por isso ele não pode ser realizado apenas por veículos que, por conta das suas opções mercadológicas e/ou políticas, consigam atrair grupos privados para financiá-los.

Ao mesmo tempo não se deve supor que, para que haja diversidade informativa, apenas o fomento a iniciativas estatais com vínculos governamentais equilibra as coisas.

O exemplo italiano demonstra o equívoco desta opção. Berlusconi, por exemplo, controla hoje todo o setor privado de comunicação e mais o aparato estatal, transformando a RAI em mais uma de suas empresas. Esse modelo já se mostrou, além de centralizador, viciado e inibidor da ousadia jornalística.

Por isso é preciso diferenciar jornalismo público de estatal. Sua diferença básica é que o primeiro não precisa se relacionar e nem prestar contas ao governo se for realmente público.

Entre as soluções existentes está a de debater quanto a sociedade está disposta a pagar para ter informação de qualidade. Para ter um jornalismo realmente independente.

Na Inglaterra, por exemplo, a principal fonte de recursos da BBC é a licença de 131,50 libras esterlinas ao ano paga por todos os cidadãos que têm um aparelho de TV funcionando.

Isso não quer dizer que é necessária a criação de uma nova taxa no Brasil para financiar a comunicação. Mas ao mesmo tempo seria imprescindível definir uma receita a ser utilizada para o financiamento desse jornalismo.

Que também não precisaria ser como no modelo inglês, em que se construiu uma rede com o gigantismo da BBC. Poderia ser o reconhecimento de que esse jornalismo público já vem acontecendo em diferentes veículos que estão fora da lógica tradicional de mercado. E que precisariam ser estimulados.

Ou seja, reconhecer que tanto na blogosfera quanto na produção impressa e eletromagnética o Brasil já tem uma quantidade grande de veículos que, se incentivados, poderiam gerar uma diversidade informativa que melhoraria em muito a qualidade da nossa democracia.

Um modelo que poderia servir como exemplo é o do financiamento das universidades públicas. Nelas, apesar de os recursos serem públicos, a autonomia e a independência são respeitadas. O que permite nesses espaços uma ampla pluralidade de opiniões.

Para construir um outro jornalismo é fundamental discutir também o seu financiamento. E ao mesmo tempo debater quais deveriam ser os compromissos que este jornalismo radicalmente público deveria assumir com a sociedade.

Entre eles deveriam se destacar o respeito a um código de ética da comunicação pública a ser construído a partir de um amplo debate, tanto entre especialistas da área como em consultas públicas. Um código que se tornaria uma legislação específica.

Também seria compromisso fundamental que a informação produzida por esses veículos fosse de livre circulação. Que não tivesse sua circulação impedida por contratos de direitos autorais restritivos.

A criação deste novo modelo não impediria e nem limitaria a continuidade do modelo comercial tradicional. Ou seja, a informação produzida e distribuída na lógica da mercadoria continuaria existindo, mas não teria exclusividade de mercado. Concorreria com uma outra produção sustentada por todos que necessitam de informação para exercer a cidadania.

Esse debate permite uma série de outras considerações. O que é certo é que o atual momento é o mais rico em possibilidades para que a correlação de forças no espaço da comunicação se altere de forma definitiva. A correlação de forças, neste caso, se dá entre o que é público e o que é privado, e entre o direito à comunicação e ela apenas como mercadoria.

Mas para que essa mudança aconteça é preciso criar mecanismos para que, por um lado, as novas tecnologias de comunicação não sejam completamente controladas pelos grandes grupos. E, por outro, para que essa enorme rede de produtores de informação tenha condições de sobrevivência econômica.

Ambos os desafios são difíceis de enfrentar, mas o segundo é ainda mais complexo porque não se resolve apenas na base da resistência. É preciso se desafiar a construir o novo. Ou seja, um novo modelo. E para que isso aconteça é preciso estar livre para a reinvenção das nossas expectativas.

Não podemos mais pensar em veículos de comunicação como aparelhos ideológicos. Eles devem ser espaços da garantia da multiplicidade.

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Aloysio Biondi e as privatizações tucanas

Reproduzo artigo de Flamarion Maués, publicado no blog Escrevinhador:

Em julho passado completaram-se dez anos da morte de Aloysio Biondi, certamente um dos mais importantes jornalistas que o Brasil teve, atuante dos anos 1960 até 2000, quase sempre na área de economia.

Conheci o Aloysio por conta do livro o "Brasil privatizado: um balanço do desmonte do Estado" – o único que ele publicou em vida. Fui o editor do livro, e vou, nesta coluna, contar um pouco do que lembro dessa experiência e, sem maiores pretensões, prestar minha homenagem ao Aloysio.

Em 1998 estávamos no auge das privatizações no Brasil, com o risco iminente de que a Petrobrás, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal também tivessem este destino. Eu era o coordenador editorial da Editora Fundação Perseu Abramo – ligada ao PT – e nas conversas no conselho editorial e no conselho curador da Fundação havia a convicção de que era importante produzir um livro sobre as privatizações, para denunciar o que estava acontecendo e, ao mesmo tempo, servir como uma fonte de informações para o debate sobre o tema, pois não havia uma sistematização dessas informações para o grande público.

Essa preocupação se ligava à ideia de iniciar uma coleção de livros populares, curtos, com liguagem direta, informativos, de preço baixo. Livros voltados para a militância política do PT e dos demais partidos de esquerda que se opunham às privatizações e ao governo FHC. O livro sobre este tema com certeza faria parte dessa coleção. Um dos diferenciais da coleção, imaginávamos, é que queríamos fazer vendas diretas de livros para sindicatos, pois acreditávamos que os livros poderiam ser úteis a eles no debate político com os trabalhadores que representavam e com a sociedade. E também seria uma forma de a nossa editora conseguir chegar a mais gente, ter tiragens e vendas maiores.

Acho que fui eu que sugeri o nome do Aloysio para fazer o livro – mas, como a memória é enganadora, não dou 100% de certeza sobre isso. Eu lia os artigos que ele escrevia então na Folha de S. Paulo, muitos dos quais tratavam das privatizações, e ficava muito impressionado com as informações e as análises que ele fazia, e também com a clareza do seu texto, simples e didático sem ser simplista nem chato. Ele era dos poucos jornalistas que questionavam de modo consistente os pressupostos e os métodos da privatização.

Nunca tinha falado com o Aloysio antes. Consegui o telefone dele e liguei, isso no final de 1998 ou comecinho de 1999. Apresentei-me, falei da ideia do livro e perguntei se ele topava, se tinha interesse em fazer o livro. Ele foi muito simpático e receptivo, estava disposto a encarar o desafio, disse mesmo que já tinha pensado na ideia de fazer um livro sobre o tema, mas, sabe como é, na correria da vida de jornalista, sempre faltava tempo para pôr o plano em andamento.

Marcamos de conversar pessoalmente. Ele veio à editora, que nessa época já estava instalada numa casa na Vila Mariana. Com o seu ar bonachão e simpático, sempre atencioso, eu fui logo conquistado pelo Aloysio. Era difícil dizer não para ele. O Aloysio gostava de conversar, de bater papo, de contar histórias. Cada reunião se transformava em uma agradável conversa, em que eu podia desfrutar um pouco de toda a sua experiência e de seus conhecimentos.

Ele gostou muito da ideia da coleção – que veio a ser batizada de Brasil Urgente –, pois achava importante que o livro tivesse aquelas características que propúnhamos para a coleção: texto sucinto, linguagem direta, muita informação, preço acessível. Propus que ele fizesse um roteiro inicial do livro para podermos discutir melhor como seria o texto, o que seria destacado, coisas que não podiam faltar, etc. Em pouco tempo, talvez uns dez dias, ele mandou o roteiro, que pouco foi modificado. E logo começou o trabalho de ampliar as pesquisas para o livro e iniciar a redação.

Teria que consultar documentos da editora para poder dizer com exatidão quanto tempo ele levou para concluir o livro, mas não foi muito tempo. Na verdade, as ideias básicas do livro já estavam nos artigos que ele escrevia nos jornais. Mas o Aloysio, junto com o Antonio, seu filho, fez uma extensa e exaustiva pesquisa para levantar novas informações e complementar as já existentes. “Levantamos materiais no BNDES, na Petrobras, nos arquivos dos principais jornais, em várias frentes, enfim, para poder aprofundar os temas”, lembra o Antonio. Com esta massa de informações nas mãos, faltava depurá-las e amarrar os diversos aspectos levantados, o que ele fez com entusiasmo e com a sua grande capacidade de trabalho e análise.

Assim, em dois ou três meses, se não estiver enganado, o livro estava escrito. Claro que a etapa final foi um pouco sofrida, eu cobrando a entrega dos originais e ele sempre pedindo uns dias a mais para ver alguns detalhes – ou seja, algo comum na relação editor–autor. Até que ele começou a enviar os originais, mais ou menos um capítulo a cada dia. E o seu método era todo especial, característico de alguém que já tinha passado dos 60 e ainda não se adaptara bem à novidades do email e da internet (em 1999 isso ainda não era tão disseminado como é hoje).

Ele mandava os capítulos por fax. Só que o Aloysio não tinha fax em casa. Ele ia numa papelaria perto do prédio em que morava e de lá passava o fax. E os capítulos iam chegando, eu mandava digitar e em poucos dias tínhamos o livro completo.

O livro era impactante. São menos de cem laudas de texto, mas é um material riquíssimo em informações e em análises que mostravam o alcance e a gravidade do que estava acontecendo no país, com a entrega de mão beijada de um patrimônio construído pela sociedade brasileira durante décadas. O grande mérito do livro – além da liguagem clara e direta – talvez tenha sido o fato de ter sintetizado e reunido as informações que nos permitiram ter uma visão geral do desmonte a que o Estado brasileiro estava sendo submetido, nas comunicações, no setor bancário, no petróleo, na mineração, etc.

Lembro que a Zilah Abramo, na época vice-presidente da Fundação Perseu Abramo, levou o texto para ler em casa e no dia seguinte estava estupefata: “Li o texto à noite e nem dormi direito. Fiquei chocada! O que está acontecendo é muito grave e a gente não tem noção”, foi mais ou menos o que ela me disse. E assim era com a maior parte das pessoas que liam o texto – a mesma reação que os leitores teriam quando o livro foi lançado.

O Brasil privatizado foi o primeiro volume da coleção Brasil Urgente, lançado em abril de 1999 (o livro está disponível gratuitamente neste link. O projeto gráfico da coleção foi feito pelo Gilberto Maringoni – excelente artista gráfico, ilustrador e quadrinhista, além de historiador e jornalista. Para atender aos objetivos propostos, o livro tinha apenas 48 páginas, em um formato que era um híbrido de livro e revista. E o preço de capa era R$ 5, o que hoje deve equivaler a algo como R$ 10.

O livro foi um grande sucesso, tanto na venda para as livrarias e o público em geral, como na venda para os sindicatos – pois aquela ideia de que os sindicatos comprassem livros e os distribuíssem para seus associados de fato deu certo. Houve sindicatos e federações de trabalhadores que encomendaram 10 mil, até 20 mil exemplares. No total, foram mais de 140 mil exemplares vendidos em menos de um ano – dos quais cerca de 80 mil foram vendas diretas para sindicatos. Nessa parte comercial, a pessoa que carregou o piano a ajudou a que se chegasse a esses números foi a Gizele Santos, na época a gerente comercial da editora.

E posso dizer com tranquilidade que o Aloysio recebeu religiosamente os direitos autorais de todos os exemplares vendidos – durante este período ele teve uma fonte de renda extra. Mas vale lembrar também que no caso das vendas para os sindicatos o percentual de direitos autorais era menor, pois a ideia era vender aos sindicatos ao menor preço possível, para viabilizar grandes tiragens. E o Aloysio concordou inteiramente com isso, pois o interesse principal dele não era lucrar com o livro, mas sim fazer com que a obra chegasse ao maior número de pessoas.

E de fato o livro teve um papel político importante, pois serviu de instrumento de denúncia e de mobilização contra as privatizações. Tornou-se uma espécie de cartilha da luta contra as privatizações do governo FHC. Até hoje é usado para estudar esse processo. Além disso, como me lembrou o Antonio, o livro teve uma edição em espanhol, feita no Paraguai pela Frente Sindical y Social e pela editora Generación.

Durante os meses seguintes à publicação do livro, o Aloysio viajou por todo o país fazendo lançamentos e palestras, sempre a convite de sindicatos, federações, associações de trabalhadores, etc. Foi algo que lhe deu muita satisfação, dava para perceber, ele gostava dessas viagens, dos eventos, de falar para grandes plateias sobre o tema, isso lhe dava ânimo e vigor, apesar de ser cansativo.

E quando já estávamos encaminhando a continuação do livro, um segundo volume, veio a morte do Aloysio, repentina, nos pegando de surpresa. Mesmo assim, e também como uma homenagem ao Aloysio, O Brasil privatizado II saiu um pouco depois, feito com base nos seus artigos para os jornais e organizado pelo Antonio Biondi. Mas essa já é outra história.

Enfim, acho que o lançamento do livro foi um momento importante para o Aloysio, ele que já era um jornalista consagrado, com passagens marcantes pelas revistas Visão, Veja, Bundas, Caros Amigos e Revista dos Bancários, e pelos jornais Gazeta Mercantil, DCI, Folha de S. Paulo e Diário Popular. O livro parecia oferecer a possibilidade de uma nova etapa em sua vida profissional, mas que infelizmente durou muito pouco tempo.

A sua morte foi uma perda enorme. O Aloysio podia estar ainda aqui hoje produzindo plenamente, descobrindo informações que só ele conseguia, analisando criticamente o Brasil, e com certeza teria um olhar crítico para diversas questões do governo Lula – apesar de que ele certamente vibraria com o fato de milhões de pessoas terem tido a possibilidade de uma vida mais digna nestes últimos anos.

E para mim, a edição do livro foi uma grande experiência como editor – além de ter me permitido, ainda que por um período curto, desfrutar da amizade de uma grande figura humana. Os filhos e amigos do Aloysio montaram um site muito bom sobre sua vida e obra. Vale a pena visitar.

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Carta das Mães de Maio aos blogueiros

Reproduzo a carta enviada pelo blog "Mães de Maio", que teve destacada participação no encontro dos blogueiros, nos dias 20, 21 e 22 de agosto:

Nós, Mães de Maio, escrevemos esta mensagem de agradecimento e reflexão sobre o I Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas.

Em primeiro lugar, com muito respeito e humildade que é o nosso proceder, agradecemos a confiança pelo convite e a calorosa recepção que tivemos de todas e todos os participantes do encontro. Estamos ainda engatinhando nessa ferramenta que é a blogosfera, a qual acreditamos ser bastante importante para os movimentos sociais e para as comunidades pobres de todo o país. Com ela, já conseguimos romper uma série de barreiras que sempre nos foram colocadas pelos poderosos e pelos detentores do monopólio da comunicação, esta minoria rica e geralmente branca que sempre bloqueou as nossas falas e as nossas idéias de circularem na esfera pública. Porém, há muito o quê avançar...

Nosso cotidiano, que é o cotidiano da maioria da população, é marcado pelo massacre que o capitalismo sempre fez contra nós: desde as senzalas onde nossos irmãos negros, negras e indígenas eram explorados até a morte; até os tempos modernos, quando a chibata se transformou na ditadura do dinheiro e na farda da polícia. Sempre nos foram renegados todos os direitos fundamentais que qualquer ser humano deveria ter assegurado: a começar pelo direito à vida, o direito de ir e vir, o direito à saúde, à moradia, à educação, à cultura e à comunicação livre.

Nós lutamos por igualdade de oportunidades, por justiça e, sobretudo, pelo direito de pensar e viver em liberdade. Sabemos que a democracia que nós vivemos é uma verdadeira farsa, e nós apenas exigimos que ela seja ralizada plenamente.

Sabemos que temos um longo caminho para construir todas as transformações que o povo pobre e negro das periferias tanto precisam. Mesmo na blogosfera, há muito o quê se avançar no sentido de garantir o pleno acesso à internet e a todas as ferramentas que ela possibilita, visando fortalecer verdadeiros canais de comunicação da periferia com a sociedade como um todo, no país e no mundo. Sem o poder de voz, de ação e de decisão da maioria, não haverá nunca uma transformação igualitária e justa, inspirada pela liberdade.

Como propostas imediatas, três das nossas principais bandeiras em relação à blogosfera são:

- Acesso: A garantia do acesso gratuito à internet e à banda larga para toda a população brasileira, principalmente a população pobre.

- Formação: A estruturação de uma rede de oficinas e de formação, crítica e gratuita, que possa efetivamente democratizar a utilização dessas ferramentas (como blogs, sites etc). Orientando também sobre todos os perigos que a mesma blogosfera pode significar.

- Solidariedade: Por fim, apoiamos a criação de uma verdadeira rede de blogs, sites, de apoio jurídico gratuito e de apoio material solidário para os efetivos defensores da democracia e da liberdade, visando nos proteger a todos – principalmente quem se encontra mais ameaçado - frente a criminalização dos trabalhadores pobres e dos movimentos sociais. Se a classe trabalhadora não formos solidários entre nós mesmos, ninguém será por nós!

Apesar de todo o significado do encontro de blogueiros e de várias de seuas propostas, sabemos que todas estas medidas necessárias e urgentes não podem criar a impressão e a euforia de que a blogosfera vá substituir a organização popular e a presença cotidiana nas ruas. Sabemos que uma das principais táticas dos poderosos é incentivar que as pessoas fiquem cada vez mais isoladas entre si, dentro de suas casas, reféns do medo do contato direto nas ruas, onde a vida realmente acontece.

Este esvaziamento de algumas pessoas das ruas (enquanto elas seguem sendo tomadas por pessoas pobre como nós, descartadas pelo capitalismo, e sem qualquer perspectiva de vida digna), por maiores que sejam as ações virtuais, gera a reprodução das desigualdades, das injustiças e da falta de liberdade efetiva no cotidano. Para nós da periferia, isso significa a ampliação da estigmatização, do terror e da impunidade perpetuada contra nós ao longo de todo a história. As ruas passam a ser apenas espaços de passagem, de compras e da violência contra nós que as ocupamos.

Por fim, continuamos repudiando as políticas e práticas de segurança pública no Estado de São Paulo. O troféu “O Corvo”, que foi dado à Judith Brito como uma das principais representantes da “ditadura da mídia” em nosso país, deveria ser dado também a todos Os Corvos que foram e são os responsáveis diretos pelos crimes de maio de 2006 e pelos massacres cotidianos nas periferias de todo o país.

De nossa parte, convocamos a todas e todos os blogueiros que participaram do encontro, que se somem na blogosfera e nas ruas, na luta pela verdade e por justiça referente aos crimes de maio de 2006 e a todos os crimes similares que representam uma verdadeira “ditadura continuada” em plena era da democracia brasileira. Sem pressão popular não haverá os desarquivamentos, os julgamentos e as devidas punições de todos os agentes de estado responsáveis pelas matanças de ontem e de hoje!

Seguiremos lutando cotidianamente, nas ruas, na internet e aonde for, para que o amanhã seja livre! Muito obrigada a todas e todos pelo respeito, pelo carinho e pelo fortalecimento de nossa Luta! Esperamos que, cada vez mais, ela seja uma Luta de todos nós! Seguiremos atentas, conectadas e prontas para lutar. Viva a pressão popular!

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José Serra precisa dormir

Por Altamiro Borges

É conhecida a fama de notívago do grão-tucano José Serra. No twitter, suas notinhas de até 140 toques são postadas na madrugada. Num exagero de servilismo, Gilberto Kassab, o prefeito da capital paulista, chegou a dizer que “durmo de paletó para atender às ligações do governador”. Muitos aspones já reclamaram, em tom de brincadeira (será?), que eram acionados as altas horas pelo mandatário centralizador. É desta fama e de suas olheiras que surgiu o apelido de vampiro.

Talvez isto explique porque o presidenciável anda tão atordoado, confuso, errático. Num dia, ele afirma que “não sou oposição nem situação” e que pretende ser o “continuador de Lula”. Noutro dia, ele assume o figurino fascistóide de George Bush ou Álvaro Uribe e faz discursos irritadiços contra o atual governo. Prova desta crise existencial foi quando ele tentou associar a sua imagem à de Lula em plena propaganda eleitoral na televisão. Muitos pensaram: Serra enlouqueceu de vez!

O atestado de óbito da Folha

Até a Folha, que nunca escondeu a torcida pelo candidato, desistiu de entender sua esquizofrenia. Em editorial de 21 de agosto, o jornal jogou a toalha e decretou que “a campanha de Serra parece ter recebido o seu atestado de óbito”. A famíglia Frias, que preferia um candidato direitista sem máscara, não engoliu o “parasitismo político” do jingle da campanha serrista que diz “tira a mão do trabalho do Lula/ tá pegando mal/... Tudo que é coisa do Lula/ a Dilma diz/ é meu, é meu”.

Indignada com a “sem-cerimônia dessa apropriação que extravasa os limites da mistificação marqueteira”, a Folha já anunciou que pulou fora do barco do candidato, que “agora se apresenta como ‘Zé’, no improvável intento de redefinir sua imagem pública... Não é do feitio deste jornal tripudiar sobre quem vê, agora, o peso dos próprios erros, e colhe o que merece. Intolerável, entretanto, é o significado mais profundo desse desesperado espasmo da campanha serrista”.

“A desconstrução já começou”

Pouco a pouco, José Serra vai definhando. O valentão Arthur Virgílio, o jagunço Sérgio Guerra, o riquinho Tasso Jereissati e vários outros “aliados” o abandonam para evitar a contaminação nas suas bases. A própria mídia, seu último bastião, já dá sinais de fadiga diante de uma “candidatura nati-morta”, como aponta o blogueiro Luis Nassif. “Muitas vezes previ que a velha mídia procederia à desconstrução da própria imagem que criou de Serra. E o faria com gana, sentindo-se ludibriada por ter apostado em um cavalo manco. Errei o prazo. A desconstrução já começou”.

Pouco a pouco, o bloco neoliberal-conservador desloca sua atenção para as disputas de governos estaduais e de mandatos legislativos. Serra pode virar mais um caso grotesco de “cristianização”. Caso não ocorra erro grave de campanha, Dilma Rousseff caminha para ser a primeira mulher presidenta do Brasil, dando continuidade ao ciclo progressista aberto por Lula. Ela precisará de sólida base de sustentação nos estados, no Senado e na Câmara Federal. A direita parece que já rifou Serra, que “precisa dormir”, mas já cava suas trincheiras para infernizar o futuro governo.

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José Serra: “Que repouse em paz”

Por Altamiro Borges

As últimas pesquisas confirmam que Dilma Rousseff pode vencer a eleição presidencial já no primeiro turno, em 3 de outubro. Até os dois institutos mais alinhados ao tucanato, o Ibope e o Datafolha – que o blogueiro Paulo Henrique Amorim apelidou de Globope e Datafraude – já jogaram a toalha e confessaram a difícil situação de José Serra. O horário eleitoral na rádio e TV, apontado como tábua de salvação do demotucano, acabou afundando ainda mais o candidato.

O ridículo do Globope e do Datafraude

No caso do Ibope, a pesquisa aponta que Dilma Rousseff abriu 24 pontos de vantagem e obrigou o presidente do instituto, Carlos Augusto Montenegro, a fazer autocrítica das suas bravatas. Em entrevista à revista Veja, em agosto de 2009, ele garantiu que “Lula não fará seu sucessor” e que sua candidata não ultrapassaria os 20% dos votos. Agora, na entrevista desta semana da revista IstoÉ, ele admite o “erro” e decreta: “O Brasil já tem um presidente. É Dilma Rousseff”.

Já o Datafolha, numa inusitada virada que mereceria estudo acadêmico e rigorosa averiguação da Justiça Eleitoral, informa que Dilma Rousseff abriu 20 pontos de vantagem sobre seu adversário. O instituto tucano também confirma que ela passou a liderar as sondagens em todas as regiões, inclusive no Sul e Sudeste, e que o José Serra só está crescendo em rejeição. A única capital em que o tucano surge na frente, Curitiba, é motivo de questionamentos sobre o método da pesquisa.

Mídia é o último bastião de Serra

Muita água ainda vai rolar até o dia da eleição. Estrategistas tucanos da mídia venal orientam o candidato a baixar de vez o nível da campanha, assumindo o discurso raivoso da ultradireita. Já o comando demotucano confessa que a mídia é o último bastião de José Serra. A batalha não está decidida e qualquer salto alto pode ser fatal. Apesar da cautela, as pesquisas indicam que o povo não aceita o retrocesso e aposta na continuidade do ciclo progressista aberto pelo governo Lula.

Elas não são um simples atestado de “incompetência” do ex-governador paulista – que está sem discurso, não conseguiu montar palanques estaduais fortes, escolheu um vice “indiota”, e que é arrogante e autoritário. O que as pesquisas revelam é que os brasileiros rejeitam a experiência neoliberal, imposta por FHC e por seu pupilo, Serra, que resultou na explosão de desemprego, na precarizaçao do trabalho, no desmonte do Estado e na humilhação da nação brasileira.

O colapso da “terceira via” neoliberal

A dimensão histórica do desastre demotucano foi bem sintetizada pelo professor José Luis Fiori, no artigo “Requiescat in pace”, publicado no sítio Carta Maior. Para ele, “o que mais chama a atenção não é a derrota em si mesma, é a anorexia ideológica dos últimos herdeiros da ‘terceira via’. Não se trata de incompetência pessoal, nem de um problema de imagem, se trata do colapso final de um projeto político-ideológico eclético e anódino que acabou de maneira inglória: o projeto do neoliberalismo social-democrata. Que repouse em paz!”.

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