segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A "dedetização" na Cracolândia

Por Renata Mielli, no blog Janela sobre a palavra:

Região da Luz, centro de São Paulo. A aglomeração de pessoas perdidas da própria vida, excluídas do mundo, é como uma infestação de baratas a ser combatida. Os olhares dos cidadãos paulistanos e do mundo sobre estes seres que vagam drogados nas ruas e prédios abandonados é de repulsa, nojo. Gente suja, fedendo, maus elementos, delinquentes, loucos. O que se pensa de verdade sobre eles não se diz em voz alta, é politicamente incorreto, se murmura nos ouvidos, se confidencia em conversas sussuradas.



A cidade precisa se livrar deles. Como? Com o Plano de Ação Integrada Centro Legal, nome pomposo dado pela prefeitura de São Paulo e governo do Estado para dedetizar a Cracolândia. O plano, elaborado para ser implementado em 3 etapas, consiste em pela mão da força policial 1 – expulsar traficantes e usuários, 2 – a ação dos policiais incentivará os usuários a procurar tratamento, 3 – a permanância da polícia para manter a ordem. Mas desde quando a Polícia Militar está preparada para desenvolver uma ação social? Aí é que está, no tal Plano não há visão social nenhuma, apenas uma visão higienista.

A PM usa violência para desocupar e ponto final. Mas o que fazer com as pessoas, para onde levá-las? Como resgatar essas vidas perdidas? No fundo poucos estão realmente preocupados com o que vai acontecer com essas pessoas. Contando que elas estejam bem longe dos nossos olhares. O combate ao tráfico e a adoção de políticas públicas voltadas para recuperar os viciados são problemas sociais profundos, que estão diretamente ligados a outros, como a miséria, a falta de moradia, educação, saúde, emprego e renda. Estes não são temas simples de serem solucionados.

Mas quem se importa? Afinal, não são pessoas, são baratas. A reportagem da TVFolha mostra um pouquinho disso tudo. Vale a pena assistir.

4 comentários:

  1. Nem tudo e lixo na Folha. Salvou-se uma mensagem aqui, e bem feita.

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  2. A esquerda entorpecida

    A expulsão dos moradores de rua das áreas centrais de São Paulo e a proposta de internação compulsória de usuários e dependentes de crack são gestos desesperados de um espírito repressivo que tenta espalhar seus tentáculos para não sucumbir junto com o fracasso das políticas proibicionistas antidrogas. Criminalização do tabagismo, leis secas, toques de recolher e outras medidas similares também personificam espasmos dessa reação, que age pelas brechas possíveis para fortalecer o controle estatal da individualidade, tentando compensar ou impedir o inevitável relaxamento das legislações repressivas.

    Deve-se ter algum cuidado ao refletir sobre a legalidade dessas patadas autoritárias. Claro que o encarceramento de miseráveis e doentes é inconstitucional, mas, à luz de uma interpretação doutrinária dos direitos básicos de cidadania, o consumo privado de qualquer substância deveria receber idêntico resguardo. Ao mesmo tempo, entretanto, um legalista radical não veria problema em recolher pessoas que usam drogas nas vias públicas, que ameacem ou constranjam os passantes, que demonstrem sofrer de graves distúrbios físicos.

    A esquerda precisa compreender que a abordagem policial tem respaldo na legislação e amplo apoio popular. Na ocupação das favelas cariocas o embasamento era semelhante, e lá tampouco serviu apelar para o discutível argumento da especulação imobiliária. Se quiserem mesmo transformar as coisas, os progressistas devem abrir caminhos institucionais para a reformulação do paradigma legal que envolve a produção, a posse e o uso das drogas. As bases dos governos Lula/Dilma têm perdido a chance de assumir a vanguarda desse debate, permitindo que a direita preserve suas políticas obsoletas e imponha remendos canhestros quando alguém ameaça questioná-las.

    http://www.guilhermescalzilli.blogspot.com

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  3. Complementando o que o Anônimo comentou acima: nem tudo é lixo na Folha, mas, para a prefeitura de SP muitas pessoas são lixo.

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  4. No filme Traffic, o general mexicano que comanda o combate ao narcotráfico, ao ser interrogado sobre como o governo mexicano lida com os dependentes químicos foi bem claro: "Cada um que morre é um a menos para dar trabalho". E não é essa mantalidade da classe média brasileira?

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