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Sem o trabalho o homem não
tem honra e sem a sua honra
se morre e se mata, não dá
para ser feliz
(Gonzaguinha, Um homem também chora)
Não restam dúvidas de que o principal resultado das crises do capitalismo, o seu termômetro político, é o avanço do desemprego. Nos EUA, o alto nível de desocupação favorece os republicanos e ameaça frustrar as esperanças de reeleição de Barack Obama, que pouco ou nada fez em defesa do emprego e da classe trabalhadora do país. Já o baixo índice de desemprego no Brasil é um dos fatores que explicam o alto nível de popularidade do governo Dilma, ao lado da valorização dos salários.
O problema, que provoca profundo mal estar social em todo o mundo, é particularmente sensível entre os membros mais jovens da classe trabalhadora, que ingressam no mercado de trabalho à procura do primeiro emprego. Na União Europeia, transformada em epicentro da crise mundial, pelo menos um quarto da juventude não encontra o emprego que procura. Mas o cenário é desigual. Na Alemanha, o índice de desemprego na faixa etária entre 15 a 24 anos está em torno de 13%, segundo estatísticas da OIT. A realidade é bem mais alarmante nos países abatidos pela dívida, que hoje vivem sob a tutela, direta ou indireta, do FMI.
Nem o diploma protege
Na Espanha, o percentual sobe a 53%. Também na Grécia, que padece cinco anos de recessão e 20% de contração do PIB desde 2009, mais da metade da força de trabalho juvenil vive, a contragosto, na ociosidade involuntária. Em Portugal, de acordo com a OCDE, 36% amargam o desemprego direto, que não leva em conta os que caíram no desalento e desistiram de procurar uma ocupação produtiva. Na Itália, são 30%.
Não é à toa que já se fala por lá em jovens sem futuro. Convém observar que um contingente numeroso deste exército de desocupados é formado por jovens diplomados, pois o cuidado com a educação e o nível médio de escolaridade são maiores no velho continente que no antigo Terceiro Mundo.
Os fatos desmentem a teoria da “empregabilidade” neoliberal, que procura atribuir a culpa pelo desemprego ao próprio desempregado. Supõe-se que este não teria as qualificações demandadas pelo mercado. É óbvio que não se trata disto. A verdade, teórica e prática, é que o fenômeno decorre inevitavelmente das relações sociais que orientam o processo de produção capitalista, onde o trabalhador é um corpo estranho dentro da empresa, despojado de sua posse e controle e alienado dos frutos que ele próprio produz.
De quem é a culpa?
Na empresa privada quem detém o poder de admitir ou demitir é o capitalista. É um privilégio, decorrente do sagrado direito à propriedade privada, que o patronato exerce sem maiores escrúpulos ou piedade diante da desgraça alheia.
A reprodução do capital (e do capitalismo, que nada mais é do que o capital em escala social) ocorre por meio de movimentos cíclicos, dialéticos, que alternam fases de prosperidade com momentos de crise. Tanto o crescimento econômico, que a rigor traduz a acumulação e reprodução ampliada do capital, quanto a recessão são fenômenos intrínsecos à natureza e ao desenvolvimento histórico do sistema.
O nível de emprego oscila ao sabor desses ciclos, subindo nos anos de vacas gordas e descendo a ladeira quando a expansão estanca e dá lugar à estagnação ou queda da produção. Os ciclos do capitalismo têm caráter objetivo, ou seja, acontecem independentemente da vontade e iniciativas dos indivíduos, das classes sociais ou mesmo dos governos.
Impotência dos Estados capitalistas
Em relação à atual crise, uma das mais longas e com certeza a mais global da história, seis anos após o início daquilo que o economista Paul Krugman chama de Grande Recessão nos EUA (em 2007) é notável e até surpreendente a impotência dos governos capitalistas na prevenção e superação das turbulências. Estima-se que mais de 13 trilhões de dólares foram derramados na economia mundial por iniciativa dos países mais ricos desde 2008, basicamente para socorrer o sistema financeiro, mas a produção não reagiu a contento, o comércio exterior está em banho-maria e a taxa de desemprego permanece em níveis intoleráveis num número crescente de países.
As políticas econômicas podem amenizar os efeitos da crise. Mas também podem agravá-las e é este o caso da austeridade fiscal em voga na Europa, requerida pela lógica da valorização do capital na esfera financeira. É também preciso lembrar os efeitos colaterais das emissões realizadas pelos bancos centrais dos EUA (FED) e Europa (BCE), que resultam no que a presidente Dilma designou de “tsunami monetário” e estimulam a guerra cambial em todo o mundo.
Quem de fato está roubando o futuro e esquartejando os sonhos da juventude na Europa é o capitalismo. Mesmo na hipótese, que hoje parece remota, de uma recuperação da economia na região (as crises, afinal, não são eternas) as perspectivas para os jovens trabalhadores não são animadoras.
Fustigada pela crise, o declínio e a concorrência da indústria asiática, a burguesia europeia está determinada a desmantelar o Estado de Bem Estar Social e depreciar por todos os meios o valor da força de trabalho, conduzindo uma agenda neoliberal focada na diminuição dos salários, aumento da jornada de trabalho, precarização dos contratos, aumento da idade mínima para aposentadoria e flexibilização dos direitos. Já está em curso por lá uma dura guerra de classes e um retrocesso social talvez sem paralelo. Aos trabalhadores e trabalhadoras, jovens ou idosos, resta o caminho da unidade e da luta para deter este rumo reacionário e abrir caminho a uma solução progressista da crise, que já não parece possível nos marcos do capitalismo.
Imaginem, se lá no primeiro mundo a situação é essa, como estaríamos aqui, em nossa província, se estivéssemos sob o governo reacionário do PSDB.
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