terça-feira, 9 de outubro de 2012

Serra quer tratar de valores

http://ajusticeiradeesquerda.blogspot.com.br
Por Saul Leblon, no sítio Carta Maior:

Serra estreou a sua falta de jeito e carência programática no segundo turno da disputa municipal em SP, revelando certa afoiteza diante do vazio. Entrou no salão, cuspiu no assoalho e engatilhou a única arma de que parece dispor para superar a pior votação recebida em casa nos últimos anos.


O tucano avisou que vai usar o STF como cabo eleitoral para atacar Haddad 'na questão dos valores'. Atente-se: quem está dizendo isso chama-se José Serra. A palavra valores não lhe cai bem. Exceto, talvez, quando a quantia é mencionada, mas neste caso, Paulo Preto seria o interlocutor mais adequado, não Haddad.

Afoitezas e cifras à parte, não seria descabido indagar: ademais de obras e ações urgentes, quais valores éticos ostentados por um prefeito poderiam fazer a diferença em uma cidade como São Paulo?

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman cunhou a palavra ' mixofobia' para descrever aquele que seria, em sua opinião, o medo típico das grandes cidades contemporâneas: a fobia de se misturar com outras pessoas. Em que medida um caráter como o de Serra contribuiria para romper essa galvanização individualista, matriz de desdobramentos políticos, sociais e culturais de gravidade presumível?

Um exemplo aleatório: na manhã do último domingo, enquanto o Brasil comparecia às urnas, um travesti era arrastado pelo carro de um provável cliente na zona Sul de São Paulo. Morreria em seguida, em consequência dos ferimentos.

Segundo a ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) foi a 86ª vítima de uma série de assassinatos de travestis registrados em todo o Brasil este ano. Em 2011, a violação de direitos humanos contra LGBTs somou 6.806 casos.

Entre as origens do fenômeno encontra-se a sensação de impunidade desfrutada em ambiente contaminado pelo ódio à diferença, irradiado ou sancionado por lideranças e figuras públicas.

A guerra é o exemplo clássico dessa dinâmica deformadora: contra inimigo, tudo. A permissividade bélica transfigura indivíduos aparentemente normais em máquinas mortíferas. Se é legítimo bombardear uma cidade inteira, por que não o seria torturar e degradar peças individuais do estoque? Abu Ghraib: o ponto dentro da curva.

Um barão do século XVIII, Montesquieu, já sinalizara que a virtude não está nos indivíduos, mas nas instituições (o que torna especialmente hipócrita, diga-se, um tribunal encenar rigor no varejo, e omitir-se diante da usina indutora de caixa 2 que é a legislação eleitoral vigente).Caçadores de pecados, auto-ungidos em guardiães dessa moral das conveniências, abundam. Do alto de seus púlpitos --ou debaixo das togas-- comandam milhões de almas desprovidas de outro abrigo de identidade, num meio social evanescente.

O pastor Silas Malafaia é um dos centuriões armados de borduna e tacape espiritual. Sua especialidade é impedir a educação para a tolerância, talvez um dos valores mais importantes para reverter a mixofobia de Baumann, da qual a matança denunciada pela ABGLT pode ser uma expressão clínica.

Malafaia, que usa gravatas de um dourado ofuscante, e lenço combinando, nem pisca. No 1º turno, twitou ordens sagradas de voto em Serra; 'contra o kit gay', comandava. O tucano não desautorizou a associação do seu nome à figura do 'caçador de kit gay'.

Não se pode responsabilizar ninguém pela loucura no seu entorno. Mas o intercurso de Serra com a intolerância extrapola a ordem unida disparada por Malafaia.

A esposa do tucano fez da caça ao aborto seu bordão de campanha na disputa presidencial de 2010 . Disse Monica Serra a um transeunte na Baixada fluminense, em 14-09-2010: "Ela (Dilma) é a favor de matar criancinhas" (Estadão). Não só. O braço direito de de Serra , Andrea Matarazzo, transformou as impiedosas rampas anti-mendigo em um dos símbolos do higienismo social adotado na fugaz passagem do tucano pela prefeitura de São Paulo, que abandonou com um ano e meio de mandato para concorrer ao governo do Estado, em 2006.

Kassab, saído da mesma cepa, vice campeão nacional em rejeição, proibiu há pouco a distribuição de comida aos moradores de rua - 'por questões de higiene'.

O conforto de Serra nessa curva reveladora não se resume à esfera dos costumes. Dentro do próprio PSDB o candidato é conhecido como uma pessoa que tem na intolerância um traço de caráter e um método político.

É esse personagem que pretende levar a discussão de 'valores' ao 2º turno em SP. Não se subestime a octnagem da mixofobia entranhada num ajuntamento de 11 milhões de pessoas que compartilham (majestático) o mesmo espaço urbano em São Paulo. Menos ainda se subestime o efeito conflitivo que uma prefeitura pautada pelos 'valores' de José Serra pode acarretar nesse ambiente.

2 comentários:

  1. será que os documentos são verdadeiros? segundo o Blog Mega Cidadania.

    Mensalão é Farsa Montada.

    Aqui o link:

    http://megacidadania.com/2012/09/09/imagem-primeira/

    ResponderExcluir
  2. Cara! Eu sempre acreditei na recuperação das pessoas. Viu só? O sr.José Serra finalmente vai tratar de valores: os valores desviados das privatizações para paraisos fiscais, os valores acumulados durante anos de vida pública, os valores pagos na compra da reeleição do "mestre" fhc,os valores do mensalão do psdb, os valores dos inumeros casos de corrupção engavetados ou abafados quando seu partido era governo....Bah!Vai ocupar todo o tempo do seu horário eleitoral no segundo turno.Acho que vai ter que pedir espaço no horário do Haddad ou para seus amigos do pig.Mas merece aplausos por essa iniciativa.

    ResponderExcluir

Comente: