segunda-feira, 2 de junho de 2014

Brasil, EUA e as omissões da mídia

Por Emílio Carlos Rodriguez Lopez, no blog Viomundo:

Estamos no sexto ano da maior crise do capitalismo mundial, só comparável à de 1929.

Nesse período, o mundo perdeu - e ainda não recuperou! - 65 milhões de postos de trabalho, segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), até o final de 2013.

Enquanto isso o Brasil conseguiu criar mais de 11 milhões de empregos na economia formal.

Aqui, vale relembrar que a economia informal é quase do mesmo tamanho que a formal. Esse indicador pode ajudar a explicar por que, mesmo com crescimento menor do que a média dos últimos anos, ainda há um sentimento de razoável conforto econômico por parte da população.

No final de abril, o jornal Estado de S. Paulo publicou uma longa matéria sobre a crise nos Estados Unidos, apontando que, pós-crise, em média, eles cresceram 1,8%, por ano e ainda não conseguiram voltar o nível de emprego anterior a 2008.

Já o Brasil, desde a crise, cresceu 3,1%, em média, ao ano.

Essa matéria do Estadão, diga-se de passagem, é raridade na grande imprensa brasileira.

Explico. No Brasil, a crise mundial quase sumiu do noticiário, que, atualmente, só se dedica a divulgar os problemas internos, aquilo que foi definido como guerra de expectativas ou terrorismo econômico.

Lembro um dado conjuntural: a economia americana neste trimestre se retraiu em 1% e a brasileira cresceu 0,2%.



Em meados de abril, na apresentação da Lei de Diretrizes Orçamentárias- LDO de 2015, do governo federal, a ministra do planejamento, Miriam Belchior, apontou que o Brasil teve boa recuperação econômica comparada a outros países. Ficamos mais de 10% à frente dos Estados Unidos e a Europa ainda não se recuperou da crise de 2008.

Detalhe: a revisão do PIB de 2013 mostrou que crescimento foi maior ao anunciado anteriormente; foi de 2,3% para 2,5%



Um dos fatores que alimentaram a crise de 2008 é que mais de um trilhão de dólares de dinheiro fictício, operado pelo mercado financeiro, “evaporaram”. E isso tem impactado o crescimento da economia mundial e brasileira.

Para enfrentar a crise de 2008, o governo federal optou por aumentar recursos para o BNDES e outros bancos públicos com o objetivo de o crédito ajudar a produção, o consumo e segurar os postos de trabalho.

Este talvez seja o grande nó do embate hoje.

O grupo de economistas neoliberais, que estava no governo FHC e agora comanda as propostas de campanha de Aécio Neves, defende a implantação da política de “austeridade” no Brasil.

O objetivo é provocar uma recessão, como ocorre na Europa, que gera desemprego e reduz salário dos trabalhadores. Em consequência, poderá reduzir ao máximo políticas como o PAC, Minha Casa, Minha Vida.

Ou seja, risco de retorno das políticas de redução do tamanho do Estado que costumam proteger os ricos e jogar nas costas do trabalhador os custos da crise econômica.

Essa política provoca graves efeitos colaterais, já que promove a corrosão das bases da democracia e gera o crescimento de movimentos de cunho fascista ou neonazista, como os que assistimos na Europa.

Recentemente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, num debate a respeito da propaganda política do PT sobre o perigo de uma voltada ao passado, afirmou que o PT também é o passado.

O debate não é sobre o passado, pois todos sabem que a crise de 2008 representou um grande questionamento do pensamento único neoliberal.

Fernando Henrique deveria lembrar que olhar para trás e entender o passado é fundamental para pensar o presente e projetar o futuro.

Nesse sentido, o debate político começa com as declarações do presidencial Aécio Neves (PSDB), que deseja implantar “medidas impopulares” em seu hipotético governo.

Desse modo, o que estará em jogo nas eleições de 2014 é quem deve pagar as contas da crise mundial.

Faremos como dirigentes europeus, que preferiram a recessão e o alto desemprego e agora colhem o crescimento da extrema direita, do racismo e da xenofobia?

A resposta a esta questão virá em outubro, quando o povo escolher o(a) novo(a) presidente(a).

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