O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, decidiu restringir a presença de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas na portaria do ministério durante sua chegada. A novidade, criticada por jornalistas e publicada em nota pela Folha de S. Paulo na sexta-feira (16/1), tem provavelmente sua origem na sucessão de especulações que vêm sendo publicadas pela imprensa sobre possíveis mudanças nas regras da economia.
Já se disse aqui, a respeito do episódio em que o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, foi obrigado a desmentir que o governo pretende mudar o sistema de reajuste do salário mínimo, que as autoridades devem evitar declarações de improviso (ver aqui), dadas naquela confusão de jornalistas e curiosos durante a passagem de autoridades.
Comentaristas consideram que tal opinião representaria uma restrição ao trabalho jornalístico; portanto, ao direito à informação. Trata-se do contrário: declarações apressadas, feitas afoitamente diante de um amontoado de microfones, gravadores e câmeras, tendem a produzir mais confusão do que informação.
Em assuntos complexos como economia, ou outras questões importantes que produzem controvérsia, a autoridade tem uma obrigação ainda maior com a correção das informações que irá fornecer e com a transparência que o cargo exige. Portanto, suas manifestações devem ser claras e inequívocas. Quanto aos jornalistas, sua obrigação é desenvolver relações de confiança com as fontes, para obter a notícia, e criar as condições necessárias para esclarecer os pontos onde houver ambiguidades.
A abordagem atabalhoada de um ministro na calçada ou na portaria de um prédio público pode gerar boas imagens para a televisão, mas sempre tem potencial para produzir mal-entendidos. Frases entrecortadas são usadas para alimentar manchetes forçadas, como se vê quase diariamente nos jornais brasileiros.
No caso do noticiário político, esses episódios servem para alimentar o viés homogêneo da mídia tradicional no Brasil. No noticiário econômico, frases pinçadas de declarações feitas de passagem por autoridades são trabalhadas por colunistas para pintar um quadro que pode afetar diretamente a disposição de investidores e o estado de ânimo de grandes parcelas da sociedade.
Uma relação de dependência
O jornalismo brasileiro vem perdendo a capacidade de invadir a intimidade do poder por meio da investigação. Quase tudo que se publica, inclusive e principalmente notícias sobre corrupção, é obtido de vazamentos seletivos e declarações. São poucos os repórteres que ainda atuam em condições adequadas para fazer a apuração dos fatos, e muitas vezes são apresentadas como exclusivas informações que estão disponíveis nos sites de órgãos públicos.
O fenômeno é bastante claro no Brasil, mas também ocorre em países com longa tradição de imprensa sem restrições. No caso específico que tratamos aqui, a forma como a informação originada no ambiente do Estado chega ao conhecimento público, observa-se que o crescimento das mídias digitais altera a relação histórica entre a imprensa e autoridades, reduzindo a dependência dos assessores de comunicação em relação aos jornalistas que atuam nas redações. Por outro lado, a mídia tradicional se torna cada vez mais carente de fontes oficiais para preservar sua credibilidade.
Pesquisa divulgada nesta semana pelo Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, da Universidade de Oxford (ver aqui um extrato, em inglês), mostra como as mídias digitais, principalmente as redes sociais, tornaram mais vulnerável a reputação de empresas, governos e figuras públicas, mas também oferecem a esses protagonistas e seus agentes, os profissionais de comunicação corporativa ou relações públicas, instrumentos mais efetivos para dialogar com a sociedade. Assim, a imprensa tradicional fica em segundo plano, porque em muitas ocasiões é mais proveitoso falar diretamente ao público-alvo do que se submeter ao critério subjetivo dos jornalistas.
O problema não é causado pelo advento da tecnologia digital, como dizem muitos analistas, mas pelo abandono, por parte da imprensa, do propósito da objetividade no exercício do jornalismo.
Quando a briga é por versões, e não pela informação objetiva, a imprensa fica mais dependente do sistema de relações públicas, enquanto a comunicação corporativa tem todo um universo hipermediado para vender seu peixe.
Uma imprensa que se apequena fica inevitavelmente menor.
Já se disse aqui, a respeito do episódio em que o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, foi obrigado a desmentir que o governo pretende mudar o sistema de reajuste do salário mínimo, que as autoridades devem evitar declarações de improviso (ver aqui), dadas naquela confusão de jornalistas e curiosos durante a passagem de autoridades.
Comentaristas consideram que tal opinião representaria uma restrição ao trabalho jornalístico; portanto, ao direito à informação. Trata-se do contrário: declarações apressadas, feitas afoitamente diante de um amontoado de microfones, gravadores e câmeras, tendem a produzir mais confusão do que informação.
Em assuntos complexos como economia, ou outras questões importantes que produzem controvérsia, a autoridade tem uma obrigação ainda maior com a correção das informações que irá fornecer e com a transparência que o cargo exige. Portanto, suas manifestações devem ser claras e inequívocas. Quanto aos jornalistas, sua obrigação é desenvolver relações de confiança com as fontes, para obter a notícia, e criar as condições necessárias para esclarecer os pontos onde houver ambiguidades.
A abordagem atabalhoada de um ministro na calçada ou na portaria de um prédio público pode gerar boas imagens para a televisão, mas sempre tem potencial para produzir mal-entendidos. Frases entrecortadas são usadas para alimentar manchetes forçadas, como se vê quase diariamente nos jornais brasileiros.
No caso do noticiário político, esses episódios servem para alimentar o viés homogêneo da mídia tradicional no Brasil. No noticiário econômico, frases pinçadas de declarações feitas de passagem por autoridades são trabalhadas por colunistas para pintar um quadro que pode afetar diretamente a disposição de investidores e o estado de ânimo de grandes parcelas da sociedade.
Uma relação de dependência
O jornalismo brasileiro vem perdendo a capacidade de invadir a intimidade do poder por meio da investigação. Quase tudo que se publica, inclusive e principalmente notícias sobre corrupção, é obtido de vazamentos seletivos e declarações. São poucos os repórteres que ainda atuam em condições adequadas para fazer a apuração dos fatos, e muitas vezes são apresentadas como exclusivas informações que estão disponíveis nos sites de órgãos públicos.
O fenômeno é bastante claro no Brasil, mas também ocorre em países com longa tradição de imprensa sem restrições. No caso específico que tratamos aqui, a forma como a informação originada no ambiente do Estado chega ao conhecimento público, observa-se que o crescimento das mídias digitais altera a relação histórica entre a imprensa e autoridades, reduzindo a dependência dos assessores de comunicação em relação aos jornalistas que atuam nas redações. Por outro lado, a mídia tradicional se torna cada vez mais carente de fontes oficiais para preservar sua credibilidade.
Pesquisa divulgada nesta semana pelo Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, da Universidade de Oxford (ver aqui um extrato, em inglês), mostra como as mídias digitais, principalmente as redes sociais, tornaram mais vulnerável a reputação de empresas, governos e figuras públicas, mas também oferecem a esses protagonistas e seus agentes, os profissionais de comunicação corporativa ou relações públicas, instrumentos mais efetivos para dialogar com a sociedade. Assim, a imprensa tradicional fica em segundo plano, porque em muitas ocasiões é mais proveitoso falar diretamente ao público-alvo do que se submeter ao critério subjetivo dos jornalistas.
O problema não é causado pelo advento da tecnologia digital, como dizem muitos analistas, mas pelo abandono, por parte da imprensa, do propósito da objetividade no exercício do jornalismo.
Quando a briga é por versões, e não pela informação objetiva, a imprensa fica mais dependente do sistema de relações públicas, enquanto a comunicação corporativa tem todo um universo hipermediado para vender seu peixe.
Uma imprensa que se apequena fica inevitavelmente menor.
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