quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Movimentos sociais apostam na unidade

Por Mariana Serafini, no site da UJS:

Na noite desta quarta-feira (11) a sede nacional do Barão de Itararé foi palco para um debate sobre os desafios dos movimentos sociais na atual conjuntura política do Brasil. Participaram da mesa a presidenta da UNE, Virgínia Barros; o dirigente do MST, João Paulo; e o dirigente nacional do MTST, Guilherme Boulos. A mediação ficou por conta da militante do núcleo de São Paulo do Barão, Ana Flávia Marques.

Diante de um cenário político complexo, onde a direita perdeu as eleições presidenciais, mas insiste em tentar ditar as regras, os movimentos sociais precisam articular estratégias de enfrentamento para garantir direitos e avanços. Os três dirigentes foram unânimes em apontar que o caminho para fortalecer a luta é a unidade dos movimentos sociais, entidades e partidos de esquerda.

UNE

A presidenta da UNE defende que a questão nacional não pode ser tratada de forma isolada, sem considerar a conjuntura mundial, que também passa por uma profunda crise estrutural do sistema capitalista e afeta diretamente o cenário brasileiro. Mas vê com bons olhos o posicionamento estratégico do Brasil no mundo: “Os Brics são uma novidade no cenário internacional com muito peso porque tem um exército, graças à Russia, uma economia forte, graças à China e agora criou um banco, então o Brasil se posiciona no cenário mundial de forma a defender sua soberania”, pontuou.

Para Vic, a direita está fazendo, mais uma vez, o que fez nos últimos doze anos: tentar enfraquecer e derrubar o governo progressista eleito pelo povo. Neste sentido, ela aponta a mídia hegemônica como uma grande aliada que age como um partido político ao tentar influenciar as decisões do governo. “Como o Eduardo Cunha entrou e saiu tão rápido do esquema de corrupção? Ele representa interesses da elite clássica brasileira, o que há de pior na política!”, disse.

Vic acredita que a eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara Federal agrava ainda mais a conjuntura nacional, no sentido de que ele representa setores reacionários, conservadores e “profundamente colonizados pelo imperialismo”.

O ministro da fazenda, Joaquim Levy, é uma figura dentro do governo que também representa essa “elite colonizada” citada pela dirigente da UNE, no entanto, ela pondera “há um outro lado, com ministros bastantes progressistas”, e neste campo aponta Patrus Ananias, do Desenvolvimento Agrário; Juca Ferreira da Cultura e Cid Gomes da Educação. Ministros que, segundo ela, estão dispostos a dialogar e levar o governo mais à esquerda.

Com este cenário complexo e bastante polarizado ela acredita que o principal papel dos movimentos sociais seja unificar as pautas e fazer grandes mobilizações de rua para defender as reformas estruturantes. “Precisamos defender um programa para retomar o crescimento e avançar nas reformas de maneira a construir um projeto democrático para garantir a soberania do nosso país”.

MST

O dirigente do MST, João Paulo, está otimista com a próxima gestão da presidenta Dilma Rousseff, apesar da ofensiva da direita. “A unidade da esquerda é o grande desafio deste período”, aponta. Ele acredita que nos últimos 20 anos não houve luta expressiva que tenha levado todos os movimentos sociais para a rua com uma bandeira comum e isso enfraquece a mobilização das bases. Ele defende que neste momento a prioridade das entidades deve ser superar uma “dificuldade organizativa” instalada nas duas últimas décadas para conseguir acumular forças e ganhar as ruas com bandeiras sólidas e unificadas.

Para ocupar as ruas em defesa das reformas estruturantes, entre elas a reforma política, agrária, urbana, universitária e da mídia, João acredita que as manifestações precisam ser bem direcionadas com dirigentes firmes e coerentes. “Os partidos de esquerda deveriam estar a frente deste processo de mobilização”, defende. “O MST está otimista com a criação de uma frente da esquerda”. Com relação à mobilização da direita por um impeachment, João acredita que a esquerda não deve se acuar e cair neste discurso, pelo contrário, dever partir para a luta com pautas ofensivas sem deixar de defender bandeiras históricas.

MTST

Já o dirigente nacional do MTST, Guilherme Boulos, aposta no fortalecimento das bases capaz de dar sustentação às propostas defendidas pelos movimentos sociais. Ele acredita na unidade para enfrentar a direita e construir uma pauta ofensiva baseada nas reformas estruturantes.

Boulos apontou métodos para o fortalecimento das bases: os movimentos sociais devem se unir por pautas comuns, mas no momento de mobilização cada um deve se pautar pela sua luta específica. No caso do MTST o que leva milhões de militantes às ruas é a reforma urbana, a UNE mobiliza pela reforma universitária e o MST pela reforma agrária, mas com todos na rua há como unificar as bandeiras e defender um programa maior.

Para Boulos o governo do PT cometeu erros graves, como não ter enfrentado a elite conservadora do país, e “diante de um cenário conservador, tem dado respostas conservadoras”, mas cabe aos movimentos sociais defender os avanços.

“A direita chegou para dar um golpe”

Ao final da exposição dos dirigentes, os participantes também puderam fazer suas perguntas e intervenções. Para a presidenta do Cebrapaz, Socorro Gomes, a direita está pronta para um golpe, “chegou para dizer: ‘a hora é essa’”, portanto cabe aos movimentos sociais defender o governo Dilma. “O Brasil é muito importante para manter a correlação de forças que sustenta os governos progressistas da América Latina e a direita chegou para golpear ou deixar à míngua”, afirmou.

O presidente municipal do PCdoB da capital paulista, Jamil Murad, fez um pequeno resgate histórico e apontou que esta é a primeira oportunidade onde a esquerda chegou ao governo, nestes 12 anos a direita tentou, de todas as formas, crias instabilidade, portanto os movimentos sociais e os partidos de esquerda não podem se deixar enfraquecer.

Já o secretário distrital de Pirituba, zona oeste da capital paulista, Donizetti Cunha, alertou para os interesses obscuros do imperialismo em desestabilizar não só o Brasil, mas todos os governos progressistas constituídos nas duas última décadas na América Latina. Citou exemplos como a Síria, onde mercenários são utilizados como ferramentas para desestabilizar um governo democrático e afirmou que no Brasil esse tipo de intervenção também pode acontecer, em maior ou menor escala.

A atividade foi transmitida em tempo real pela internet pelo coletivo Fora do Eixo. Militantes de diversos partidos e entidades estiveram presentes, entre eles a UJS, UEE-SP, PCdoB, PT, Psol, entre outros.

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