terça-feira, 12 de maio de 2015

É preciso colocar o Brasil nos trilhos

Por Vagner Freitas

Está em curso em vários países do mundo um processo de destruição das forças de esquerda. No Brasil, o PT é alvo dessa investida das forças conservadoras. O panelaço ocorrido durante o último programa eleitoral do partido, assim como as manifestações ocorridas este ano são resultado da investida organizada pela direita, pela mídia e pelo Poder Judiciário.

Juntos, eles montaram mais um processo judicial seletivo, que visa colocar na ilegalidade e destruir o PT que, com erros e acertos, foi o partido que promoveu a maior mudança social já ocorrida no país, com a inclusão de 40 milhões de brasileiros/as na classe média e o acesso de negros, pobres e indígenas às universidades. Foi o partido que promoveu o maior programa de habitação popular da história, além de ter tirado o Brasil do mapa da fome da ONU - mais de 35 milhões de pessoas saíram da linha da miséria.

Enquanto o mundo aplaude e quer conhecer a experiência brasileira, revistas semanais, que fazem parte do complexo midiático controlado por meia dúzia de famílias, atacam sistematicamente o ex-presidente Lula, o cérebro por trás dessas transformações. Tentam a todo custo destruir a imagem do presidente mais bem avaliado da história do Brasil e maior liderança do PT e assim, destruir esse legado.

A primeira vítima desses ataques é o PT. As demais forças de esquerda, os movimentos sociais e sindicais, serão as próximas vítimas em potencial da judicialização da política que está em curso com a investida – nunca antes vista – da mídia, que coloca em prática o conceito de Goebels, ministro da propaganda de Hitler, de que uma mentira repetida centenas de vezes torna-se verdade. O PT tem sido atacado diariamente desde 2005.

O golpe em curso em nosso país, já aplicado em Honduras e no Paraguai, está em curso na Argentina, Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua e outros países em que os governos fizeram opção pelos mais pobres e que colocaram o Estado como indutor da economia, priorizando os mais desfavorecidos.

No Brasil, depois de um processo eleitoral duro, talvez o mais virulento desde a redemocratização do Brasil, mesmo tendo perdido as eleições, a direita está implementando a pauta conservadora, de retirada de direitos, de perseguição aos movimentos progressistas, de esquerda e tentativa de derrubar um governo legitimamente eleito por mais de 54 milhões de brasileiros/as.

Unidos, políticos conservadores, juízes e promotores, com a ajuda dos meios de comunicação, construíram um falso cenário de caos político e econômico que está abrindo caminho para que a direita coloque em prática a pauta derrotada nas eleições.

Mais do que o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, eles querem cassar o registro do PT, um dos principais instrumentos de luta da classe trabalhadora. E isso pode ocorrer se a esquerda não se unir para disputar a agenda nacional nesta que é a mais feroz luta de classes que já vivemos no Brasil.

E o governo não tem ajudado. As mudanças nos rumos da política econômica do governo federal não foram discutidas com os movimentos sindical e social nem com a sociedade civil organizada. O pacote do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, anunciado no dia 29 de dezembro do ano passado, é altamente lesivo para os/as trabalhadores/as, mas não tocam em um centavo do dinheiro dos mais ricos.

As Medidas Provisórias 664 e 665 são um equívoco. O governo não dialogou com sua base de apoio, editou medidas que distancia a base do governo e, para piorar, não vai atingir seu objetivo que era angariar apoio dos conservadores para conseguir investimentos. É, como venho dizendo, um ledo engano.

Essa política econômica leva o Brasil à recessão. Se tem juros altos, se o crédito não é facilitado, se não tem manutenção do poder de compra dos salários, se tem desemprego, se tem retirada de direitos, não se cria um ambiente interno positivo para o desenvolvimento econômico e social.

Precisamos ajudar a corrigir rumos e, não, ir para o enfrentamento. Isso a direita já faz. Isso é apostar no caos. E o caos não interessa a classe trabalhadora. Não ganhamos nada com o caos. Só os especuladores ganham.

Se não conseguirmos corrigir a rota, entraremos em um cenário de retrocesso. Não há alternativa política ao projeto democrático e popular que a presidenta Dilma representa e que ajudamos a eleger. Sem ela, a porta estará aberta para a direita e sua pauta de ataques aos direitos da classe trabalhadora e aos interesses dos/as brasileiros/as que dependem das políticas públicas que ajudamos a construir e colocar em prática, como as políticas de valorização do salário mínimo e de transferência de renda, entre tantas outras.

A presidenta acertou quando instalou o Fórum Nacional da Previdência Social e deu um prazo de seis meses para conclusão dos trabalhos e apresentação de uma proposta concreta para extinguirmos de vez o fator previdenciário, ter uma política de redução da jornada de trabalho para 40 horas e também medidas de combate à absurda rotatividade de mão de obra. Também precisamos aprovar a regulamentação da Convenção 151 da OIT que normatiza as negociações para os servidores públicos.

Era o momento adequado para o governo retirar as MPs, que dificultam e restringem o acesso a benefícios e discuti-las no âmbito desse Fórum e não votá-las como parte das medidas de ajuste fiscal. Por que não combatem com mais rigor a sonegação? Por que não taxam as grandes fortunas, à especulação financeira, os lucros e dividendos, heranças e doações? Se precisa conter gastos e aumentar a receita, que tirem dos mais de ricos e não da classe trabalhadora.

O caminho que queremos construir é o do desenvolvimento econômico sustentável com distribuição de renda, uma Nação com mais justiça e inclusão social e política. Esse é o caminho que vamos defender. Para isso, é preciso disputar a formulação das políticas dentro do governo, ocupar as ruas e pressionar o Congresso Nacional. Isso só será possível, com uma ampla unidade da esquerda e dos movimentos social e sindical. É preciso colocar o Brasil nos trilhos novamente.

* Vagner Freitas é presidente nacional da CUT.

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