sábado, 5 de setembro de 2015

Aylan Kurdi e o assassinato da humanidade

Por Jeferson Miola, no site Carta Maior:

O corpo inerte de Aylan Kurdi, a inocente criança síria de cinco anos atracada já sem vida nas areias da praia de Bodrum, na Turquia, é o retrato da morte da humanidade. É a prova indesmentível de uma morte matada; não de uma morte morrida. É o testemunho de uma morte moralmente inaceitável; de uma morte, enfim, repugnante.

O corpo inerte de Aylan Kurdi atesta o assassinato da humanidade.

Centenas de milhares de mulheres, homens e crianças fogem da Síria, Líbia, Iraque, Nigéria, Paquistão, Afeganistão, Kosovo e do Oriente Médio numa viagem desesperada – e não raras vezes mortífera – à Europa.

Os desamparados que sobrevivem aos naufrágios no Mediterrâneo, quando pisam no território europeu, são repelidos com criminosa e cínica indiferença, isso quando não são armazenados em campos de concentração para refugiados.

É inútil, a estas alturas, se iludir com a crença de que o holocausto tenha gerado uma consciência humanitária e solidária na Europa. Se assim tivesse sido, não se assistiria a esta repetição de lógicas racistas, segregacionistas e xenófobas do passado nazi-fascista.

A diáspora é o resultado cruel do intervencionismo das potências europeias e dos EUA. Os refugiados são os “efeitos colaterais” da geopolítica que desestabilizou e incendiou países do Oriente Médio e do norte da África e expulsa populações para um exílio forçado.

Causa asco a ausência de compromisso ético e humanitário da Europa com as vítimas das políticas desastrosas empregadas pelos próprios dirigentes europeus em cumplicidade com os EUA.

Aylan Kurdi, este inocente ser assassinado em águas mediterrâneas, é filho histórico desse tempo sombrio, em que a estupidez e o egoísmo da espécie humana sob a égide capitalista parece vencer o ideal de humanidade.

Um comentário:

  1. Nossa Inocência Morreu com Aylan Kurdi
    Allan Mahet

    http://amahet.blogspot.com.br/2015/09/nossa-inocencia-morreu-com-aylan-kurdi.html?m=1

    Além da tristeza e impotência, meu sentimento é de vergonha de ser da espécie humana, que permite tal fato acontecer. De raiva contra os líderes mundiais insensíveis ao drama de milhares e contra um sistema econômico, político e social que impele desigualdade, sofrimento e miséria à boa parte da humanidade.

    A imagem do menino Aylan Kurdi de apenas 3 anos, sem vida e com o rosto voltado para a areia na beira da praia deveria ficar para sempre na memória dos governantes de todas a grandes potências que exploram nações subdesenvolvidas. Deveria perturbar a mente de todo mega empresário e latifundiário que se enriquecem a custa da trabalho mal remunerado e escravo de seus semelhantes. Deveria tirar o sono de líderes religiosos que propagam o ódio e a intolerância ao invés de compaixão e amor.

    A imagem do menino Aylan Kurdi de apenas 3 anos, sem vida, com o rosto voltado para a areia na beira da praia é um alerta ao mundo e àqueles que pensam ser o seu dono. Chegamos ao limite. O sistema faliu e nós falhamos como sociedade.

    A imagem do menino Aylan Kurdi de apenas 3 anos, sem vida, com o rosto voltado para a areia na beira da praia não é apenas a de uma criança que tentava fugir de um genocídio em seu país. É a do menino da favela alvejado por traficantes e policiais em confronto. É a do jovem amarrado ao poste e agredido por "cidadãos do bem". É a do menino negro assassinado pela polícia branca e racista estadunidense. É a do menino africano famélico à espera de uma refeição após dias de inanição. É a do menino abusado por um religioso ou agredido por conta de sua crença. É a de milhares de corpos amontoados em campos de concentração da segunda guerra.

    A imagem do menino Aylan Kurdi de apenas 3 anos sem vida, com o rosto voltado para a areia na beira da praia é a imagem dos humilhados, perseguidos, espoliados e injustiçados do mundo.

    Que seja um marco, uma virada na consciência global. Que o caminho daqui para frente seja outro e que possamos resgatar o pouco de dignidade e humanidade que ainda nos resta, pois a nossa inocência acabou ali naquela praia, sem vida e com o rosto voltado para a areia.

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